Friday, December 14, 2007

São as Águas de Dezembro

Minha mãe, em sua eterna (e aparentemente inútil) busca por me fazer ver o lado bom das coisas, ao me ver resmungando por causa da chuva que caía, ponderava: as plantinhas precisam de água. Já imaginou o mundo sem plantinhas? Eu nunca vislumbrei tal cena, a primavera esplendorosa no jardim de casa me conformava e me fazia concordar com a véia.

Isso e todos aqueles verões que passamos no quintal ou na rua, tomando chuva do fim de tarde e ignorando os pedidos dos tios para sair do mar com medo dos raios. Em meados de janeiro, em 90 e poucos, na Baixada Santista, se não me engano, um casal de banhistas havia morrido por causa de um raio, o famoso “raio-mata-dois”. Mas eu não era banhista. Banhista é um termo bobo que a Globo usa pra designar os barrigudos cervejeiros e suas esposas que descem para Mongaguá e ficam curtindo o mormaço. Eu era uma criança que gostava de nadar na chuva e me recuperar dos pingos gelados na água quentinha do mar.


Tia Leila, que havia desistido de gastar a voz chamando as filhas e a sobrinhada toda, só sinalizava o dois com os dedos da mão e a gente saía correndo pra casa gargalhando do tal do raio assassino. E ele não matou ninguém. No fundo sabíamos (Tia Leila, inclusive) que era inofensivo.

Se for possível uma divisão tão boba das pessoas, ei-la: as que usam e as que não usam guarda-chuva. Eu sou do segundo grupo. Minha escova definitiva pode ter influenciado esse quadro. Queria ver se tivesse o cabelo pixaim, sairia correndo da chuva feito o diabo da cruz, já ouvi. Mas se vocês vissem a situação do meu cabelo agora, ponderariam se é essa mesmo a razão de eu não usar guarda-chuva. Gal Costa invejaria o volume da minha juba.

Pitoresco é eu escrever boa parte deste texto no meio de um temporal. Se gosto de tomar chuva na rua, na praia ou na casinha de sapé, dormir com o barulho dela batendo na janela é uma tortura chinesa (ou colombiana se considerarmos a pobre Ingrid Bettancourt, seqüestrada pelas FARC). Morro de medo. Vez e outra a mesma mãe que falava dos benefícios da chuva, entra no meu quarto pra conversar enquanto esperamos ela passar. Em novembro recomeça a época das tempestades e do meu sono atrapalhado.

Aqui na Avenida Paulista é um carnaval de estampas sobre as cabeças das pessoas. As “sombrinhas” parecem ter sido desenhadas pelo Joãosinho Trinta. Com um ventinho mais forte, o aparato - que custa R$5,00 nos dias ensolarados e R$15,00 durante os temporais, se desdobra inteiro e o pobre dono passa um vexame tentando se recompor. Eu mesma, incauta, esperando para atravessar a rua, já quase fui cegada pelo arame de um deles, o que só aumentou meu ódio. No metrô, já com as canelas molhadas até a metade, as pessoas sacodem os guarda-chuvas e vão molhando o pouco que restou de seco nos outros como se nada fosse. Depois o enfiam na bolsa, que deve acabar o dia cheirando a cachorro vira-lata.

Tem também os que, ao menor sinal de chuva, correm. Vi na televisão que você acaba se molhando mais se correr. Essa parte eu não sei porque mal me lembro como se calcula a velocidade média de um carro, mas sei que o risco de escorregar no piso molhado e se estabacar aumenta cerca de 80%. Esse dado, é claro, não é da Unicamp, eu mesma inventei. Se é pra molhar, molha direito, detesto garoinha fina. O ditado “se está na chuva, é pra se molhar” nunca foi tão bem aplicado por mim.

Guarda-chuva ocupa espaço, é feio, espeta o olho dos outros... Desistam. Guarda-chuva só atrapalha. Não há guarda-chuva nem contra o amor, já disseram (acho eu) os Titãs.

Monday, October 01, 2007

Repórter Esso

Abastecer o carro é uma tarefa ingrata. Pode parecer corriqueiro para o resto dos mortais que possui um automóvel, mas não para mim. Com o pequeno esforço do senhor meu pai, o tanque do carro aparecia, quase que milagrosamente, cheio sempre que preciso. Hoje, mesmo pifiamente assalariada, a missão se virou para mim.

A história começa com o ponteiro esplendoroso, em seu apogeu, e eu feliz, achando que a vida é bonita só porque o carro tem combustível. Quase encaro a Ayrton Senna rumo ao Rio de Janeiro pra comemorar. Antes disso, porém, preciso ir ao trabalho, à academia, à pet shop com o cachorro. Preciso ir à maldita Rua Augusta gastar em cerveja o dinheiro que poderia gastar com gasolina.

E o ponteiro vai descendo, aquela alegria toda vai dando lugar a um desconforto, uma coisa esquisita, quase angústia. Vou aproveitando os momentos de tanque cheio como quem adia a tragédia. Só que sei exatamente o que vai acontecer, sempre soube, não dá pra evitar.

E eu insisto. Em ir pro Alto de Pinheiros, pra Avenida Sumaré ver se o trânsito está mais ameno. E não está. E o ponteiro baixa. Só falto tapar o painel com um pano preto para não ver o que está acontecendo.

Da metade do tanque pra baixo, é o Ladeirão do Morumbi na banguela rumo à decepção. A verdade (a inexorável verdade) está cada vez mais próxima e eu finjo que é com o vizinho, que o tanque do meu carro é eterno, imbatível, que ele nasceu pra ser cheio de gasolina aditivada. Os outros é que não entendem, o carro deles é um Uno velho. O meu é um especial, feito sob medida para mim, ainda nem lançaram.

Quando olho para o painel novamente (e quase 20 dias depois), ela chega. A luz indicando falta de combustível acende. Amarela, me mandando prestar atenção. A qualquer momento eu acho que o carro não vai agüentar e que vai parar no meio da avenida. Eu sei que não vai, mas digo a todos que é pra chamar atenção.

No farol mais improvável, enquanto pondero se paro no posto ou me arrisco, a luz apaga. Ouço uma bateria de escola de samba tocando em homenagem ao suposto milagre. Sei que vou voltar a ver a luz acesa dentro de muito pouco, mas vê-la apagando voluntariamente me faz ter a sensação de que ela nunca mais vai acender e que eu nunca mais vou precisar parar no posto na vida. Que o meu carro, de tão especial, é movido aos trancos da suspensão quando passo em buracos ou me esqueço de reduzir na valeta, e não a derivados do petróleo.

Com o dinheiro na carteira, o tempo disponível para encher o tanque, checar o óleo, calibrar os pneus e até para ver o frentista lavar os vidros e passar aquele rodinho hipnotizante, eu encosto em qualquer posto sem bandeira, olho para o funcionário maltrapilho e peço para ele pôr dez da comum.

Amanhã ou depois eu vou ter que pedir o serviço completo e parar com essa mania de achar que o meu carro é especial, que não pára no meio da avenida. Fico vivendo das migalhas, da alegria e da decepção do acende-apaga da luzinha do painel. Parece fácil sacar o cartão de débito e falar “completa pra mim, por favor”. Mas não é. Pelo menos não para o meu carro tão especial que nem existe.

Monday, September 03, 2007

Não é homofobia. Só pode ser feitiçaria

Meu comparsa Rafa escreveu há alguns meses como identificar o homossexual disfarçado. Vou começar usando termos respeitosos como homossexual, mas fiquem tranqüilos que depois piora. Salvo raríssimas exceções me enganei a respeito desses pseudo-héteros. É nisso que se baseia a crise: é tanto gay que não dá mais pra disfarçar!

Me pergunto de onde vêm tantos armários para essa gente toda sair. Samuel Klein deve estar produzindo o triplo de guarda-roupas 6 portas padrão cerejeiro para se adequar à demanda dos cabeleireiros e professores de lambaeróbica das academias do subúrbio. Gastam fortunas na Renner e na L'Acqua di Fiori. Sem contar os reflexos no cabelo, mas isso fica pra outra vez.

É gay que não acaba mais. Não que eu queira que eles acabem, vejam bem. Só acho que poderiam diminuir um pouco a produção. É bom esclarecer que isso não é um apelo desesperado por machos . Suplico ao além por equilíbrio entre as espécies. Já é comprovados que hpa mais mulheres e boa parte dos homens ainda abandona o barco em alto-mar? Não dá. Aposto que se os marinheiros fossem gostosos, eles ficariam.

Antigamente era difícil ver a bicharada andando pelas ruas. Hoje em dia é possível identificar até as mini-bibas nos shoppings, pedindo bonequinhas Polly Pocket para as mães ingênuas ou um pouco mais velhas, andando em bandos de meninas de 13 anos sem apresentar ameaça a nenhuma delas.

A situação está tão insustentável que outro dia indo à casa de um amigo (bicha, é claro. Fui premiada com um sem-fim de amigos bichas), fui surpreendida no estacionamento do supermercado por uma espécie de pedinte. Estranhei. Praça Panamericana, bairro nobre, difícil ter mendigo ali. Eis que era um mezzo-pedinte. Tinha sido roubado e precisava de dinheiro para voltar para casa, era estudante da USP, mostrou a carteirinha de lá.

Viado. Meu deus, como era viado. Passava a mão no cabelinho comprido, falava arrastado em tom de lamúrias, dava voltinhas no próprio eixo e quando achei que nada mais pudesse acontecer, ele desabafou "I'm sorry, gente. Muito obrigada!". Pronto. Bicha mendiga pedinte, não falta mais nada. Ou melhor, falta. Homem. Hetero.

Se não jogam, descaradamente, água pra fora da bacia, outros também não deixam muito claro que gostam de mulher com a veemência necessária. É um tal de ir pra balada gay e de sair "só pra dançar" que eu nunca vi. Homem que é homem não dança, gente. Fica enchendo os pandulhos de whiskey investindo em todas as mulheres tal como um fuzileiro naval.

Não aliviaram a barra nem do meu personagem preferido dos Simpsons. O menininho de oito anos é indefinido. Está tudo de cabeça pra baixo e desmunhecando.

Devem ter feito um ebó pra mim, não é possível. Estou aqui, mais avulsa que o Tom Hanks no Náufrago. Só que a minha bola Wilson é, na verdade, Samantha! Operada... Socorro.

Se meus amigos e leitores gays chegaram até aqui, saibam que eu amo vocês. E o Ralph Wiggum também. Não perco o amigo nem a piada.

Sunday, August 26, 2007

Isso tá me cheirando...

Não sei se é apenas um modismo recente ou se as propagandas de “Bom-Ar” vêm tomando conta dos intervalos na tv (aberta ou fechada). De uma hora pra outra me vi na obrigação de perfumar o ambiente. Como se eu morasse à beira do Rio Pinheiros ou num esgoto a céu aberto. Só que eu não moro.

A começar por aquela miniatura de imbecil que aparece gritando pra mãe que quer fazer cocô. Aquele menino já tem idade pra ler e escrever e ainda tem a impáfia de chamar a mãe pra ir ao banheiro? Francamente! Na casa do infante colega, o tal do Pedrinho, tem Glade no banheiro. Elimina os maus odores.

Ok, fezes (mesmo da Madonna ou do Leonardo DiCaprio) realmente exalam maus odores. Contudo, quem já riscou um fósforo depois das necessidades fisiológicas sabe que é uma solução muitíssimo mais eficaz do que qualquer aparelhinho modernoso instalado ao lado da privada (privada mesmo, nem vem com essa de vaso, vaso é pra planta) cujo timer (sim, um timer!) borrifa o produto de tempo em tempo.

Tem também um outro aparato desodorizante, desta vez para geladeiras. Uma repaginação do “ovo azul” ou do pó de café que se punha (ou melhor, sua avó punha) entre iogurtes e margarinas para tirar os tais dos odores indesejados.

Aqui em casa temos o hábito de enrolar os alimentos em magipack, papel alumínio e de jogar fora o que estiver estragando. Nada de peixes ou camarões comemorando aniversário de 3 meses ao lado de requeijão embolorado ou de folhas de alface murchas. Garanto que basta isso para manter sua geladeira sem aromas indevidos.

E tem outra: não é sempre preciso sentir cheiro de flores do campo, brisa do mar, trigais ensolarados ou strawberry fields forever. Fica essa frescura de incenso, óleo aromatizante… Já cheguei a sair de algumas lojas com a lente de contato irritada e defumada pela fumaça, como se tivesse participado de uma pajelança. Meu Clinique Happy foi reduzido a quase nada perto dos ylang-ylang xamânicos de hare krishnas da Henrique Schaumman.

Quer um conselho? Faça faxina regularmente, deixe o ambiente arejado e peça aos inevitáveis amigos fumantes que acelerem suas mortes no terraço. Melhor do que mascarar a fedentina depois.

Monday, July 30, 2007

O primeiro passo é admitir

Não adianta tentar tapar o Sol com a peneira - ou a sua bunda com uma tanga P. O fato é que você está gorda. Não estou, por enquanto, falando de obesidade mórbida, seis meses ininterruptos no Sete Voltas, redução de estômago nem anfetaminas manipuladas. Contudo, perder sete quilos iam fazer um bem danado.

Pára pra reparar: ao andar pela rua, quantos assovios e/ou buzinadas oriundas de caminhoneiros, taxistas ou motoboys você ouve? Dois? É... ainda faltam uns cinquinho, viu! Não é por nada, mas essa facção da ala masculina tem uma inegável preferência por mulheres, digamos assim, voluptuosas. E se você for como eu, definitivamente não acha a Sheila Carvalho um modelo coerente de corpo bonito.

No trabalho/escola/faculdade: com que freqüência vêm te pedir doces, guloseimas ou até mesmo um x-pernil de porta de estádio? É um bom indício da imagem que as pessoas têm de você. Não precisa parar de comer, mas levar um Nutry de côco pra disfarçar não ia fazer mal - muito pelo contrário.


Quando chega na casa de amigos ou parentes, ao invés de oferecerem um café ou chá a primeira coisa que fazem é trazerem uma vitamina de morango, moqueca de peixe ou mesmo o tutu mineiro de sábado, não deu outra: banha! Outro sintoma é usar desculpas esfarrapadas pra comer em demasia "tenho pressão baixa" ou "qualquer coisinha eu sinto fraqueza, fica tudo preto". Isso não serve pra ninguém do seu tamanho, desculpe.

Se ao terminar a refeição num restaurante você, por um milagre do além, resolver recusar a sobremesa, o garçom dá um sorrisinho com ares de "tá tentando enganar a quem? Eu sei que você tem cacife pra comer 3 petit gateaus por minuto!", não tenha dúvidas de que o seu problema é mesmo sobrepeso. Inclusive, se você começar a usar eufemismos como sobrepeso e adiposidade, pode ter certeza: está gorda.

Agora, se você leu tudo isso, não se enquadrou em nenhum sintoma e acha que na verdade quem é gorda mesmo sou eu, tudo bem. Ou você é magra ou gorda que ainda não percebeu.

Monday, July 23, 2007

Ex-futuros amantes

A vida tem coisas engraçadas. Engraçadas talvez não, mas pelo menos curiosas. Domingo, por exemplo, é o dia internacional do sono e do “eu vou acordar o mais tarde possível”. Não somente pelo fato desse dia ser um pouco morto, mas também pela costumeira balada que aconteceu no dia anterior e na qual você enfiou o pé na jaca; como diria Tony Garrido: “todo mundo espera alguma coisa de um sábado à noite”.

Nota do autor: Quero deixar claro que Tony Garrido não é a menor referência e que o girassol é uma flor muito cafona, além de que “a navalha corta na tua carne sangrador” me dá enjôo.

Voltando ao primeiro dia da semana, é nele, quando você menos espera, que o sono lhe foge feito o Fernandinho Beira-mar olhando as portas de Bangu 1 abertas.

Na segunda-feira, quando você reza pra acordar muito disposto, preparada pelo o universo que quer te provocar, começa a cair uma afetuosa e aconchegante chuva 10 minutos antes de o seu despertador tocar. Relutando com as forças que você não tem, começa a se perguntar como pôde desprezar o sono no dia anterior, e promete a você mesmo que no domingo que vem será diferente.

Paradoxos à parte, afinal não se tratam de antíteses, muito menos de metáforas (as pessoas necessitam desesperadamente de esclarecimentos sobre estilística e as tais figuras de linguagem, construção e pensamento.), são coisas como essa que tornam a vida cheia de pensamentos e lamentações.

Por acaso, sou o único que acha no mínimo um absurdo, a Marcha para Jesus acontecer na Av. Paulista sempre em uma sexta-feira e a parada Gay no domingo do mesmo final de semana? Como já nos contou Glauber Rocha, “Deus e o diabo na terra do sol”, na rua, nachuva, na casa ou na fazenda; ou será isso mais um paradoxo? Quiçá, é apenas a democracia que realmente nos surpreende.

Tão engraçado quanto, se é esse o adjetivo mais pertinente, como eu que sou tão rigoroso quanto à escrita e pontuação posso escrever de forma tão confusa e desconexa? Seria, novamente, mais um paradoxo?

Nessa minha vida que já observou situações curiosas e sem tentar aumentar meu passe por isso, discuti com pessoas de enorme gosto musical o brilho e a emoção de palavras de músicas sertanejas. Se “há uma nuvem de lágrimas sobre meu olhos me dizendo que você foi embora”, “ me ensina a te esquecer” e sua rima prima “jeito de triste de ter você” não são emocionantes, está tudo errado. Agora, elogiar o sertanejo, onde já se viu? Nesse mesmo mundo esquisito cheio de tortuosas desconexões.

Toda essa enrolação, talvez fosse pra eu tardar em dizer que se antes eu te queria e te precisava, agora não sei mais o que tenho ou quero. Se antes eu não podia te ter, e na esmola preciosa que você dava me gozava feito criança satisfeita, penso como é paradoxal, você me querer, mas mesmo assim eu não podendo de ter. E se ficar com você era realmente o que queria, porém diante da mal formada antítese, que já ma tornou e eu talvez não queira, confundo entre linhas esdrúxulas e pretensiosas, meus pensamentos com a realidade. Divago sem sentido se aqueles cervejamente citados escafandristas existirão e se valerá a pena eles descobrirem o que há guardado dentro de mim e, sobretudo, se existe a importância digna de memória a ser escavada.

O que importa, após um parágrafo maçante, é que a pretensão dos meus atos, seja com você ou com mergulhadores antiquados, reflete apenas insegurança; em insatisfação infundada, diante da alegria do prazer obtido. Se realmente sofrem mais aqueles que não sabem o que querem, posso ser um deles. Eu não, eu sei. O que quero não é você, talvez prefira a sua falta, como um conforto torto. Quero menos ainda os outros que tentaram te descobrir e os que chegaram as estar ao seu lado, dentro do meu Rio submerso. Quero mais, poder ter o que tive e o que tenho, mas me satisfazer quando souber que é hora. E ela não foi agora.



*Agradeço ao Chico, o tio da Bebel, à Silvinha, à Manuela e ao Vitor, pois eles sabem como podem ser os futuros amantes.

Saturday, July 21, 2007

sem titulo

Antes de dormir, naqueles pensamentos em shuffle que não fazem o menor sentido, fico me perguntando como eram as coisas antes da formação das galáxias e como as participantes do “No Limite” faziam pra se depilar naqueles momentos em que água limpa era coisa pra classe AAA.

Também gostaria de saber da sua infância, se você colecionava papel de carta ou selinhos. Se jogava bola ou se era perna de pau daqueles que ficavam na “zaga” só pra completar os onze do time na escola.

Se você já teve festa surpresa, como era o nome do seu primeiro cachorro e se você gostava dele. Você tem tia? Por parte de pai ou de mãe? Ela se lembra da primeira palavra que você falou?

Talvez um dia eu pergunte qual o seu cd preferido de todos os tempos e se você tiver alguma decência nesse corpo, dirá que é impossível responder apenas um.

Você bebe whiskey e cantarola Frank Sinatra pelo salão em festa de casamento? Você tem um nome do meio?

Queria ver se a sua letra é feia, se você escreve um S maiúsculo mais bonito do que o meu (o que eu duvido). Se você ronca, se dorme de lado, de bruços e se acorda de mau-humor.

Ainda assim vou continuar querendo saber se você gosta das onion rings com casquinha crocante ou das encharcadas de óleo. Você gosta de onion rings? Ouve rádio no carro? Que carro você tem?

Só pra me certificar: você não tem medo de avião, né? E também não acredita em ET. Pelo amor de deus! Está curioso para o novo Indiana Jones? Qual você prefere? Eu gosto da Ultima Cruzada, com os olhos de macaco na sopa. Se bem que as cenas finais do cálice sagrado também são muito boas para uma criança de 10 anos.

Lê horóscopo todo dia? Acredita em amor eterno ou pelo menos na monogamia? Caiu de queixo quando era pequeno e guarda a cicatriz ate hoje como 60% das pessoas? Eu mesma não penteio o cabelo todo dia, e você?

Dorme de pijama ou com camiseta promocional desbotada? Suas havaianas são brancas ou pretas? Sua família te chama por algum apelido? Você é feliz?

Wednesday, July 18, 2007

Ensaio para a volta anunciada

A fonte secou. Carolina, nosso barco partiu. E agora, Doralice, como é que nós vamos fazer? "Nós", não. Eu. Como é que eu vou fazer sem conseguir escrever uma puta de uma linha do jeito que eu gostaria? Não tô pedindo pra escrever como o Mário Prata nem nada. É um jeito que eu não sei explicar.

Talvez vocês saibam. Eu quero ser engraçada sem ser depreciativa, quero falar um monte de coisas da minha vida sem me expôr, ser original sem ser esquisita. Não estou querendo confete, não, pessoal. Nem é carnaval, não se preocupem. Invariavelmente essa escassez de idéias vai passar. Não sei como vai ser daqui pra frente, não tenho como garantir nada.

Meu encosto foi embora sem nem cumprir aviso prévio, que diria? Não tô reclamando, ele estava longe de ser um funcionário exemplar, mas eu tinha que ter sido avisada, né! Me deixou aqui sem rumo, parada tentando pedir informação em rua deserta.

Tem aquela em que o Ed Vedder fala que mudou de tanto não mudar. Já John e Macca disseram que viver é fácil com os olhos fechados e isso é triste. Mas não era eu, era meu encosto que tapava os olhos, misunderstanding tudo o que eu via. E isso é triste.Tão triste que não queria estar escrevendo aqui, até porque não sou nem estou triste.Acordei meio assim. You got to roll me and call me the tumbling dice.

Monday, June 18, 2007

A Lenda do Curupira

Caçula de outros 2 irmãos homens, nunca pedi um irmãozinho para a minha mãe. Digo então que o Rafa é como se fosse o irmão mais novo que eu não gostaria de ter. Na impossibilidade de pedir especificamente um "Rafa" para a minha mãe (nem Mãe Diná poderia prever o enconto), e contando com a higiene da mesma – ele mesmo diz que mais de 3 filhos caracteriza a falta dela, nós somos isso que somos. Isso que eu não sei classificar.

Sendo o Rafa uma das pessoas mais sensatas de quem já tive noticias, ele entenderá minha falta de vocabulário. Tão sensato que às vezes perde a sensatez de propósito pra não envergonhar os outros reles mortais. Tão sensato que às vezes parece que ele não existe, que é uma lenda como o Saci. Só que ele existe, sim. Tem as duas pernas e não fuma cachimbo.

Li outro dia que o excesso de realismo numa pessoa acaba, involuntariamente, tornando-se pessimismo. A realidade é dura, o Rafa sabe, mas a dele surge mais bonita, elegante e bem-humorada que a dos outros. Obra dele mesmo. Ou do Saci, se eu acreditasse em seres folclóricos.

Não sei se Rafael Comenale vai gostar dessa minha inclusão do Saci no texto, já que nenhum de nos dois tem simpatia por tradições populares como o bumba-meu-boi, a capoeira, o arroz doce de quermesse e a mania de colocar milho verde em tudo. Pra ser sincera, ele vai gostar, sim. Mas só porque ele é a pessoa que mais me entende no mundo inteiro. Se fosse outro, ia achar que eu sou louca.

E ele só me entende tão bem porque me conhece como nenhuma outra pessoa. Tanto que às vezes me da vontade de chorar, bem na frente dele, mesmo sabendo que ele não vai derrubar nem uma lagriminha de compaixão. E eu finjo que entendo esse lado dele que não chora porque ele releva todos os meus lados obscuros sem passar a mão na minha cabeça.

Parte dessa cumplicidade foi trazida pelo tempo, mas a outra só pode ser mesmo obra daquele garotinho perneta. O timing sincronizado, as lembranças, os traumas de criança e, claro, o humor me são inexplicáveis ate hoje. E como já aprendi com o Rafa, tem certas coisas que não precisam de explicação (mas se eu quiser, ele tenta, tem uma paciência de monge comigo).

Ele vive levantando minha bola, falando como eu sou inteligente, mas bom mesmo é ser como ele, que entende as pessoas ao invés de corrigir seu português. Que descobre as entrelinhas dos meus discursos metidos a alguma coisa, que me fez começar a escrever esse blog sem eu nem perceber direito.

Ao contrário do que eu já pensei, nós não somos tão parecidos. Ele não gosta de cachorro, eu não tenho paciência pra ir ao cinema. Ele não liga pra comida e eu me formei cozinheira. Eu não gosto de comprar roupa e ele tem cacife pra participar do Esquadrão da Moda.


Se fossemos irmãos não ia ser tão bom. Eu iria querer cachorro e ele estaria mais preocupado com as rosas do banheiro. Iria brigar comigo quando eu chamasse a Kylie Minogue de desafinada e eu não suportaria viver assim de perto com a falta de apreço que ele tem pelos Rolling Stones.

O Rafa não é a minha metade nem eu a dele. Somos nós mesmos, melhorados um pela presença do outro, como azeite e orégano. Como eu e o Rafa, sentados em qualquer lugar da cidade tendo a conversa mais confusa e desencontrada possível. O nosso timing – Rafael Comenale sabe bem da importância dele – só pode ser explicado por uma pessoa: o Saci.

Monday, June 11, 2007

Hermanos Para siempre

Que me perdoem todos os filhos únicos que nos visitam, mas ter irmãos é maravilhoso. Não adianta primo, amigo próximo, vizinho da mesma idade que vive na sua casa. Tem que ser irmão. Não precisa ser biológico, claro, mas tem que viver junto, sob o mesmo teto, sob as mesmas condições.

Você só aprende a dividir as coisas, de fato, quando passa anos da sua vida dividindo atenção da senhora sua mãe e do senhor seu pai. Quando tem que esperar pra tomar banho porque tem outro fulano usando o chuveiro, quando usa roupa repassada do irmão mais velho ou repassa seu tênis pro irmão mais novo.

Você percebe da maneira mais delicada possível que não é e que não pode ser - o tempo todo – o centro das atenções. E que também não é o alvo de todas as expectativas que os pais colocam em cima dos filhos.

Você só entende o que é cumplicidade de verdade quando se alia com o seu irmão em busca da vitória “contra” os pais, quando vocês os convencem a comprar um cachorro, uma bicicleta nova ou de que não tem problema faltar na escola em plena quarta-feira sem nenhum motivo. Ou quando escondem as fotos antigas com as roupas ridículas e típicas dos anos 80.

Ninguém sabe se defender de verdade se não se acostuma com o fato de que o “inimigo” mora logo ao lado e que pode levar uma voadora pelo simples fato de estar sentado do lado direito do sofá ou porque esta com o controle remoto nas mãos. E também não aprende a perdoar de coração se os socos trocados no meio da tarde não forem pura tradição familiar.

Você aprende a respeitar naturalmente as diferenças entre as pessoas. Não porque sua mãe te disse (um filho único pode fazer isso), mas porque às vezes é obrigado a ouvir Inimigos da HP ou Sepultura e mesmo com vontade de estourar os tímpanos, releva o fato. Porque mesmo gostando de assistir episodios repetidos dos Simpsons, você continua sendo amado.

Ter irmãos (mais novo, mais velho, homem ou mulher) traz uma sutil segurança de que sozinho no mundo você não fica. De que vai ter com quem dividir as alegrias e as desgraças do futuro e ajudar a cuidar dos pais, que invariavelmente envelhecerão e precisarão de cuidados.

Pode ser que a dinâmica de outros irmãos não seja bem esta, mas te faz mais próximo das pessoas. E intimidade, ao contrario do que dizem por ai, não é uma merda.

Thursday, May 31, 2007

Hora de Comprar

Se me deixassem, poderia passar algumas boas horas assistindo ao Shop Time. Depois que o canal ficou disponível para assinantes TVA, meu mundo ficou mais feliz. Masoquismo ou não, a melhor parte é quando as vendedoras vão pra cozinha. Vendedoras, sim, pois experiência com a comida elas parecem ter nenhuma.

Nos tempos áureos de Vivi Romanelli, os câmeras, contra-regras e ela inclusive se fartavam de comer os pratos feitos nos eletrodomésticos vendidos. Vira e mexe Vivi levava bronca do diretor no ponto eletrônico ah, ta bom, diretor, vou parar de por catupiry no sanduíche. Agora dificilmente se vê o povo comendo, as porções estão menores... Mas nem por isso a atração perdeu a graça.

Madrugada de quarta-feira, fiquei assistindo a reprise do programa ao vivo, a atriz Flavia Bonato, ex-integrante de Malhação começava a sessão de ofertas comentando do friozinho gostoso. Ela de regata e sandália dizia que no RJ a temperatura tinha baixado bastante, o suficiente para todo mundo teeeeeer que comprar a chocolateira elétrica.

E não adianta querer fazer na panela porque ela insistia que não fica a mesma coisa. Ou o leite fica frio demais ou aquece demais e você acaba queimando a boca, superperigoso pra quem tem criança pequena. E o leite quando ferve, que sobe e suja todo o fogão? Ah, não dá, gente! Você põe aqui na chocolateira o leite, as gotinhas de chocolate, o creme de leite, o cacau em pó e o açúcar. Ah é, diretor, vou colocar aqui o licor de menta, ligar aqui nesse botãozinho preto e aguardar 20 minutos.

Nesse momento, Flavia virou cerca de meia xícara de licor de menta dentro de meio litro de leite e quando finalmente o chocolate quente ficou pronto, chamou a colega Renata para experimentar a bebida. A coitada disfarçou a engolida dolorosa e comentou pra quem gosta de menta, ta uma delicia.... Delicadamente, largou o copinho atrás da engenhoca aquecedora de leite e voltou pra sessão de secadores de cabelo.

Flavia, não satisfeita, quis fazer waffles (uêifous). Virou metade da tigela com massa crua no aparelho da Fun Kitchen, com formato de coração, hein, gente, olha o que a criancada não vai se divertir comendo isso aqui. Aproveita, dia dos namorados ta ai tambem, faz um desse pro seu amor...”. Enquanto disparava as baboseiras, a massa foi assando, crescendo e transbordando pela máquina. O câmera desavisado enquadrava as mãos de Flavia pressionando o aparelho para tentar reverter a situação. O que era pra ser coração acabou parecendo o boneco Michelin derretido.

O diretor chama para outra delicia: strogonoff de carne no mini grill quadrado. Flavia jogou os pedaços de carne sobre a chapa ainda fria e o telespectador pode ver com detalhes o desespero da moca ao perceber que o filet mignon soltava água e estava mais pálido que um anêmico com pneumonia. Se deixasse a carne exposta ao sol, ela fritaria mais rapidamente, com certeza. Jogou creme de leite, molho de tomate e no final ninguém se atreveu a comer aquele grude.

Flavia ainda quis nos empurrar uma máquina para fazer mini donuts (dãnãts). Sem fritura, sem sujeira, sua família vai adorar. Isso aqui com açúcar, canela e aquele chocolatinho quente ali da chocolateira. Você não precisa de mais nada! Talvez de dinheiro pra pagar, já que essa ultima custava quase 400 reais, o grill mais 250 e a maquina de waffles e de donuts cerca 180 cada, mas isso ela não mencionou.

Não sei se foi o efeito do excesso de licor ou se acordou com o pé virado, mas o fato é que a moça falou tanto, tanto, que esqueceu os mini donuts (dãnãts) assando dentro da maquina, e quando deu por si, as rosquinhas estavam com a maciez de um paralelepípedo e a coloração beirando o preto- piche. Para provar que não tinha feito besteira, Flavia ainda tentou dar uma mordida, ofereceu ao câmera, que desconversou, e encerrou o programa dizendo que eu tiiiiinha que ter aqueles produtos em casa, pra fazer minhas refeições com praticidade e rapidez, assim como ela. Resultados não garantidos.

http://www.shoptime.com.br

Friday, May 25, 2007

Aceito

Eu não quero casar, né, mas se quisesse não seria na igreja de jeito nenhum. Provavelmente num salão estilo clássico e à noite, com mini lâmpadas (estilo de Natal) iluminando os lírios. Nem eu nem o noivo vestiríamos branco. Eu pra não engordar e ele (que seria bem magro) pra não parecer um filhote desgarrado do Cartola ou do Carlos Cachaça.

Não serviria jantar formal, mas dezenas de petisquinhos pras pessoas comerem em pé, sem nem terem que parar de dançar ou de conversar. Prosecco a rodo. Seria na primavera, perto de outubro, quando o clima é ameno – a maquiagem das moças não derrete com o calor e ninguém morre de frio com vestido de alcinha. A gravata nos homens não seria obrigatória, mas tênis já é abuso.

Não importa quantas delas passem a existir até lá, crianças não seriam bem-vindas, enviaria um vale-nanny junto com o convite. Eu sei que existem as boazinhas, mas perto de 1 da manhã elas estariam fazendo guerra com os doces ou ocupando 3 cadeiras dormindo, então, por que levar? Daminhas de honra além de desnecessárias e chatas, são cafonas.

A aliança seria de ouro branco e muitíssimo discreta. Ouro amarelo é coisa de novo rico. O uso de azul royal ou turquesa seria terminantemente proibido, sob pena de cassação da peça de roupa. Os coques “bolo fofo” e os cachinhos caídos ao lado da franja estariam permitidos, afinal, de quem eu iria rir no vídeo da festa depois?

Sob hipótese alguma eu contrataria uma banda, nem que fosse a do Dave Matthews. Fora os nomes e o figurino de gosto duvidoso, eles têm que parar pra tomar água, tocam o famigerado forró do nosso Ministro da Cultura e outras baixarias. Ao contrário do que dizem, a festa não seria pros convidados, não. Foi porque quis. Eu escolheria o repertorio música por música.

Fiquem tranqüilos, se essa festa fosse ocorrer, eu manteria o Whisk A Go-Go, o biquíni de bolinha amarelinho e o Tim Maia, afinal, ele não queria dinheiro, só amar, coitado. Contrataria uns tiozões daqueles típicos, para beberem e dar vexame, na minha família são todos muito contidos, não iria ter tanta graça. Sofreria uma verdadeira síncope nervosa na hora de escolher os padrinhos e ao final, todos os candidatos seriam compreensivos e amistosos independentemente da minha decisão.

Se eu fosse casar de papel passado, tocaria a marcha nupcial, sim. Porque é bonita, não porque é tradição. E aproveitando para quebrá-la, complementaria a trilha sonora do altar com Can’t Help falling In Love do Elvis, God Only Knows dos Beach Boys, It Had to Be You na voz do Frank e Here, There and Everywhere dos Beatles. Até lá os Strokes teriam gravado algo compatível e eu também pediria pra tocar. Se meu marido discordasse não poderia ser meu marido, infelizmente.

Perucas, óculos, chapéus coloridos e outras bizarrices também fariam parte da festa. Somente se ela fosse realizada num hospital psiquiátrico e eu fosse uma interna. Os convidados dos casamentos ficam bêbados e/ou felizes, eles não adquirem nenhum tipo de retardo mental após ouvirem o “sim” dos noivos.

Antes disso, porém, teria o momento dos votos, igual casamento americano. O noivo tiraria o papelzinho do paletó e eu faria o discurso de cor, após ter ensaiado por semanas. Eu iria chorar, ele não. Mas eu pararia rápido e começaria a rir olhando a maquiagem borrada de toda a ala feminina da minha família mais o meu pai.

Como me é de hábito, trocaria de sapato assim que meus pés ameaçassem começar a doer e a barra do vestido ficaria imunda sem que eu me importasse com isso. Na hora de jogar o buquê haveria uma disputa acirrada e a mais merecedora conquistaria esperança de se casar em breve.
A festa duraria até 6 da manhã e táxis esperariam os bêbados para que eles não voltassem para casa dirigindo. Sobrariam dezenas de bem-casados e eu iria para o hotel cantando Jamiroquai e comendo, aumentando o volume com o dedo sujo de doce de leite sem represálias do então marido. Eu finalmente tomaria Veuve Clicquot à vontade e acordaria sem dor de cabeça no dia seguinte.

Após voltar da lua-de-mel em Praga com escala em NY, receberia telefonemas seguidos, agradecendo e dando os parabéns pela festa maravilhosa. Com o passar de algumas semanas nossos 2 cachorros já teriam se acostumado com o apartamento de cozinha grande e com o chão de taquinhos de madeira. Sentada no sofá gigante da sala, eu reveria as fotos da festa com saudades e daria um suspiro satisfeito.

Isso se eu quisesse casar, é claro.

Monday, May 21, 2007

Descanse em Paz

Parei pra pensar outro dia em como vai ser quando eu morrer. Será que vai ser logo, será vou virar uma discípula da Dercy? Se vão acatar do meu desejo de ser cremada ao som de Frank Sinatra e Pavarotti. Se vão chorar muito ou se já vão estar conformados com a minha ida eminente. Se eu mesma vou pedir pra desligarem os aparelhos quando tudo o que me restar for tocar um tango argentino.

Não pretendo, porém, abreviar minha própria vida. Com a atual saúde mental estável, excluo a possibilidade de suicídio. Parte da culpa é mesmo de minha falta de sandice para tanto, a outra metade é da novela A Viagem. O Guilherme Fontes interpretava o suicida que voltava à Terra para atazanar os vivos. Depois precisou sua irmã ir buscá-lo no Vale dos Suicidas. E se não tiver Diná nenhuma pra ir me buscar?

Diz o popular que só não se dá jeito para a morte. Concordo. Para todo o resto é preciso respirar fundo, xingar alguém (pode ser a si mesmo) e ir. Tem que ir. Trabalhar no feriado, buscar filho na balada, lavar louça e ir à depilação. Ou você vai ser demitido, seu filho gastar fortunas em táxi, os pratos e copos da pia vão acabar invadindo a sala e a parte da depilação eu prefiro nem comentar. De todo jeito, vai chegar um momento em que não da mais pra adiar.

Mas e quando você esta tomando banho, aquele frio glacial, ninguém em casa. Fecha a torneira, esfrega o vidro embaçado do vapor tentando localizar a toalha. Abre o box e a porta do armário sob a pia ainda na esperança de terem lhe pregado uma peça, não é possível, não tem motivo para ela não estar aqui!

E não ter toalha pra se enxugar no frio não é como engambelar o papel higiênico depois do xixi na rodoviária. Mulheres vão concordar que não é o ideal, mas é o que se pode fazer na hora. Tanto melhor do que deixar escapar nas calças ou estourar a bexiga. No caso do banho, não tem como se enxugar outra hora.

Quem foi o filho da puta que tirou a toalha daqui? Grita para alguém em vão, cogita se enrolar no tapetinho e até mesmo passar a noite no banheiro, não ia fazer nada mesmo... Quando os dentes começam a ranger, você... Liga o chuveiro outra vez, reproduz quase fielmente a verdadeira london fog e quando a pele dos dedos já está quase descolando e você quase caindo de sono, decide se entregar.

Sai correndo, ensopa o tal tapetinho, escorrega no piso de madeira do corredor e se enrola na toalha como um bebê em posição fetal. Ensaia pulinhos de alegria pelo momento, quase escorrega no chão de novo na hora de voltar, veste o pijama e começa a lidar melhor com o fato caso ele volte a ocorrer.

E a morte é mais ou menos isso, minha gente. Vai ficar aqui fazendo o que? Não pode, tem que esticar as canelas em algum momento. Precisa de coragem pra se entregar, eu sei, mas não adianta adiar, não.

O mundo é um banheiro. No meio do banho quente a Dona Morte te chama. Você disfarça, chora, suspira, xinga ela de filha da puta e vai. Não se sabe se vai ter corredor de madeira nem se você vai escorregar. Só não espere nenhuma toalha felpuda no fim. Eu, por enquanto, não esqueci de levar a minha pro banho.

Monday, May 14, 2007

Mocidade Independente de Padre Miguel

Tem aquele samba-enredo meio antigo que diz: “sonhar não custa nada e o meu sonho é tão real”. Não custa nada por enquanto. Prevejo um fatura mensal referente aos sonhos chegando em minha casa todo mês, junto com a conta da TIM. Se pudesse, cancelava a conta, mas como para sonhar a gente não assina nem contrato, quem dirá rescisão. Não vou querer sonho não, obrigada. Nem os de padaria.

Ontem mesmo sonhei que estava numa espécie de Lost. Só que não era uma ilha, era uma cidade. Sayid, o iraquiano que está sempre com o cabelo sujo, me ajudava como podia. E eu não parava de perguntar onde estava o Jack. Já que estava naquela situação, me deixem pelo menos ver os graciosos!

Nada feito. Sayid me disse que era perigoso e mesmo eu alegando que não tinha problema “porque o Jack é muito gato”, não o encontrei. Minha estadia naquele lugar bizarro se baseou no meu salvamento de uma iguana prestes a ser pisoteada. Abri o olho e fiquei olhando pra cima para me certificar de que estava mesmo na minha casa. Nem no sonho eu dou sorte. Não cheguei nem perto do Dr. Shephard.

Parem pra pensar: você passa cerca de 7 horas dormindo e ao mesmo tempo comemorando a ligação do bofe que não tem seu telefone e que só ligaria pra pedir doação de sangue pra mãe doente, dá pulinhos na frente da casa lotérica ao acertar os números da megasena, checa a passagem para Cancun que comprou depois do aumento, entoa os mais famosos refrões da Madonna com os braços pra cima, na primeira fileira do show.

Depois de apertar o snooze três vezes, finalmente se levanta. Com a escova de dente na mão e um sorriso indo de leste a oeste do rosto, você se pergunta o porquê de tanta alegria, afinal, são 6:15 da manhã, chove copiosamente e ainda é 3ª. Feira. Ah é, tava sonhando, mesmo...

Ou seja, o cara não ligou, a Madonna não pretende deixar suas aulas de Cabala em Londres pra levar tiro no Brasil, seu salário não aumentou um centavo, você não sabe quando poderá tirar férias e pra completar, esqueceu de comprar o bilhete da megasena com o prêmio acumulado em 34 milhões.

Por essas e outras que eu prefiro os sonhos descabidos. Não que a minha participação imaginária em Lost tenha algum fundamento, mas tinha enredo, fazia o mínimo sentido e criava expectativas. Nada tão divertido quanto a vez em que sonhei, há muito tempo, que meu irmão tinha ganhado uma fita cassete da Baby Consuelo (antes de dizer que viu Jesus por dentro e de fundar uma Igreja, Baby do Brasil chamava Baby Consuelo). A Magali, amiga da minha mãe tinha sido a suposta responsável pelo presente.

Acordei rindo feito uma maluca, porém completamente consciente de que a Magali não tinha comprado uma fita da ex-integrante dos Novos Baianos para um menino de 10 anos de idade. O mesmo aconteceu quando uma cobrinha oriunda de um desenho animado (só podia ser) com uma florzinha cor de laranja adornando sua cabeça pequenina. Despertei bem-humorada, mais uma vez, onde já se viu cobra simpática invadindo minha casa?

Só que às vezes eu acordo pensando que a vida é linda e que ouvir Rolling Stones emagrece mais que aula de spinning. Vem a realidade e te da um tapa na cara daqueles bem ardidos, de fazer barulho seco. Sonhar não custa nada, mas eu bem que poderia receber um troquinho quando não gosto do sonho. Ou um da padaria, mesmo.

Maluco Beleza

Não tenho vergonha de dizer que fiz faculdade de Gastronomia. O constrangimento fica por conta de toda a atmosfera que envolve a profissão, ou seja, comida. Ah, então quer dizer que você é chef, né? E ai, quando vai fazer um jantar pra mim? E filé ao molho madeira, sabe fazer? Então, minha receita de torta de frango leva margarina na massa, usar manteiga é melhor?

As duvidas e sugestões eu atendo com o maior prazer, mas na hora de marcar um almoço ou jantar, a resposta é sempre a mesma: é só combinar. Fulano que eu não vejo há anos me pedindo pra fazer comida pra ele? E você? Te conheci há 1 hora, ta pensando o que? Médicos devem sofrer do mesmo problema, dando pseudo consultas em lugares estapafúrdios como filas de supermercado. No entanto, a profissão de quem eu mais me compadeço nesse quesito é a do dj.

Até muito pouco tempo não existia faculdade de djs. Hoje quem quiser se tornar um pode estudar por 2 anos. Os old school contam com o talento próprio seja para a mixagem ou para o repertório. Pesquisa, estuda, treina, dá a cara a tapa na hora de tocar. Tem os que tocam bem, mal, com disco, cd ou computador. Os amadores, os antológicos, os que viraram celebridade e os mais modestos. Nenhum deles gosta de ouvir pedido de música durante o set.

Pode acreditar. Uns não ligam, outros fingem que gostam. Bem ou mal é o trabalho deles e se você não diz ao seu medico que tipo de linha você quer que ele use enquanto sutura sua mão, se você não diz ao arquiteto para tirar algumas vigas da casa em construção, você não pede música ao dj.

Nem se for seu aniversario, nem se ele for seu amigo, nem se for seu casamento. Se ele for um contratado seu, combine a playlist antes do evento. Tem sempre o bêbado que interrompe, tropeça no case e apóia o copo do lado do mixer. Não faça isso, caro leitor. Nem que sua vida dependa da Madonna no meio de uma rave de psy.

Pode ser que o dj goste da musica que você pediu, inclusive que vá toca-la, mas se ele não fosse responsável pelo repertorio e pelo momento certo de tocar as musicas, colocaríamos uma jukebox no lugar das pick-ups e estaria tudo resolvido. Eu sou xiita nesse aspecto, sim senhor. E tambem já pedi musica uma vez, todo mundo tem lapso no caráter uma vez – ou algumas - na vida. Essa é, portanto, uma campanha anti-pedidos.

Pagando o dinheiro da entrada do club, rave ou quermesse de interior, você chegou a pagar também uma pequena porcentagem do cachê do dj. E a menos que você tenha sido amordaçado, significa que você esta lá porque quer. E se você não gosta da musica, pode tanto não ir ao local quanto ir embora ao menor sinal de tédio.

Caso não lhe seja cômodo escolher uma festa com musicas que lhe agradem e você realmente acha que seus dons para ser dj são mesmo evidentes, faça uma festa você. Chame seus amigos, escolha um lugar legal e toca a musica que você quiser. E se aparecer alguém gritando TOCA RAUL, tente responder pacientemente que você não trouxe o disco dele.

Wednesday, May 09, 2007

Dia das Mães parte 2

Embora nunca tenha negado e nenhum leitor se oposto ao fato, corro com as linhas abaixo o risco de parecer pretensiosa. Sigo em frente, então, ou melhor, volto para relembrar alguns momentos que me ajudem a lhe convencer por que a minha mãe é melhor.

Todo filho que se preze (excluo as Suzanes da vida) vai dizer que a sua mãe é a melhor. Evidente, é um amor físico, ficamos muito tempo dependendo dela. Mas eu não. Se não fosse filha dela, acho que ia achá-la a melhor mãe do mundo mesmo assim. Ou pelo menos uma mulher genial de quem eu gostaria de ser filha.

Essa minha devoção não tem a ver com a gratidão que eu tenho por ela ter chamado de filha uma criatura careca, cabeçuda, amarelada com olho vermelho por causa da icterícia. Deve ter sido assustador, mas continua não sendo o bastante. Porque cuidar dos seus filhos – problemáticos ou não – a maioria das mães faz e faz muito bem. Só que a minha faz melhor.

Freud culpou a sua por todos os problemas que lhe aconteceram e eu poderia seguir o exemplo dele se minha mãe não tivesse me mostrado ao longo dos anos que o mundo não espera que eu os resolva. E que mesmo tendo um olhar crítico, exigente e ferrenho sobre o mundo, fazer drama nunca levou ninguém a lugar algum.

Isso não significa, contudo, que ela não saiba confortar alguém desesperado. Significa que somente ela sabe abraçar e fazer uma leve pressão no peito de quem chora para ela parar de chorar. Digo que ela é melhor não porque ela cuidou de nós 3, trabalhava o dia inteiro, assoviava e chupava cana, mas porque ela nunca fez disso um fardo. E se fez, nunca demonstrou.

Sinto muito, mas nenhuma outra vai conseguir ensinar como é bom ter e ser irmão de alguém – não só os com parentesco, mas todos os nossos amigos que ela acolheu como filhos ao longo dos anos. E com isso eu não quero ofender mãe nenhuma, não me entendam mal. Inclusive porque Dona Leda não precisa disso. Low-profile nata, ela se faz notar com o menor dos esforços. No entanto, ela se esforça. Perfeccionista daquelas que não incomoda porque ela vai acabar conseguindo, não adianta discutir.

E mesmo sem precisar se impor perante os outros, ela dá a cara a tapa – no fundo deve saber de tudo isso. Então ela faz projeto de casa na praia, móvel pra TV, costura e desenha modelos de vestido, decora casas, tosa cachorros, melhora TCC dos outros, tira fotos, escreve e discute literatura, política, toca piano, corta cabelo, faz a melhor maquiagem pra festas, cozinha impecavelmente e improvisa sobremesas. Escolheu a enfermagem como profissão, todavia.

Não disse que ela é perfeita porque gente perfeita cansa – alem de não existir, é claro. E se tem uma coisa que a minha mãe não gosta (na verdade tem muitas) é de gente cansativa e normal. Apesar de chegar a duvidar algumas vezes de que ela existe e de que dorme no quarto ao lado, eu lembro que ela é concreta toda vez que aumento o tom e canto uma musica.

Nesse momento eu percebo que ela não tem o menor talento nem voz para cantar; nem ela nem eu. E que isso nunca nos impediu de continuar cantando. Carregando essa herança de pequena imperfeição dela, penso que valeu a pena cada maldita vez que eu quis que ela desaparecesse. Se não tivesse essa voz esganiçada e essa vontade latente de querer fazer tudo do meu jeito – e sempre o melhor jeito, eu não seria filha da dona Leda. E então nada me teria valido a pena até agora.

Peço desculpas novamente se pareço pedante ou se menosprezo a mãe alheia, nesse caso é necessário. Minha mãe não é pedante, garanto. Inclusive ela vai me perguntar por que diabos eu escrevi tudo isso se algum dia chegar a ler. E eu vou responder que não sei. Mas na verdade eu sei, só não vou falar em voz alta porque levaria muito tempo. E por causa da voz.

Monday, May 07, 2007

Paranóia Delirante

Eu não sei ao certo, mas além da menstruação receio que essa seja mais uma exclusividade de mulher. A exclusividade de ter paranóias. Não paranóia patológica, que precisa ser tratada com tarja preta e psiquiatra 5 vezes na semana. Aquela paranóia com a aparência, com o excesso (ou a falta de) valor que dá a si mesma quando os relacionamentos vão bem ou mal. A que precisa ser resolvida com umas 5 horas de conversa com amigos – embora queira, na verdade, a cartela de tarja preta.

Mesmo lendo horóscopo, fazendo mapa astral, jogando búzios, simpatia e promessa pra Santo Antonio (aquele, o casamenteiro), mulher não entende que os fatos não precisam de um motivo para (não) acontecer. Não acreditam no acaso e, por incrível que pareça, nem no desconhecido. As malditas discussões de relacionamento nada mais são do que uma demonstração disso. O namorado só ligou uma vez a tarde, é verdade. Mas não porque não a ama nem porque tem outra.

Tem mulher que faz planejamento semanal de roupa e se o encontro no fim de semana não for bem sucedido, a culpa é do guarda-roupa defasado. Fica de olho no cara a noite inteira e se no fim das contas ele não pedir o telefone, só pode ter sido por causa da lasca do esmalte vermelho no dedo indicador. Ficou segurando o copo, com certeza ele viu e achou que ela é mal-cuidada.

Fica na expectativa – eu, uma incurável e ansiosa doentia, digo que criar expectativa está no top 5 das desgraças sentimentais – imaginando que aquele amigo do amigo vai agarrá-la na primeira oportunidade, que vão passar a noite juntos e que ele vai dizer que só demorou pra agir porque é envergonhado.

O agarrão sorrateiro deu lugar para um abraço amistoso, aquela conversa besta de começo de noite seguida do famoso “vou ali com os meus amigos”. Ai pronto. A culpa é da roupa. Falei pra fulana que eu ficava parecendo vagabunda com esse vestido tão curto. Devia ter posto o outro, com o sapato mais alto, ele deve ser do tipo que gosta de mulher de salto alto, de cabelo enrolado. Por que eu passei chapinha? O ondulado ia ficar mais bonito, ele deve preferir cabelo natural.

Ou será que foi a cerveja? Ah, pode ser, só o vi tomando um whiskey a noite inteira, ele não gosta de mulher que bebe. Ou então me achou gorda. Homem pega mulher feia, mas feia e magra. Só posso ser gorda, será que fiquei mais gorda com esse vestido?

Mulher não entende que a lasca do esmalte, a cor do sapato, o cabelo curto ou comprido, enrolado ou loiro não influencia. O fato é que não rolou. Ele não estava com outra, não te achou chata, carente, nem mal amada. Se te achasse gorda e quisesse te pegar, pegaria mesmo assim. Não está se fazendo de difícil, não é um cafajeste, um babaca esquisito, um partidor de corações cosmopolita. Pode ser que você mereça alguém muitíssimo parecido com ele, ao contrário do que suas amigas vão lhe dizer.

Sua conversa não é precipitada demais, seus amigos não são desagradáveis, seu gosto pra filmes não é comercial demais, seu senso de humor é apropriado, você não é burra, pelo amor de deus! Ele simplesmente não quis te beijar e isso definitivamente não precisa de um motivo. De uma vez por todas.

Wednesday, May 02, 2007

Mãe, só tem uma!

ou dia das mães parte 1

Tem as mães descontroladas, as ditas melhores amigas, as engraçadas, as fofas, as hippies, as moderninhas, as old-school, as workaholics ausentes, as superprotetoras e as que passaram desta para uma melhor. Você, querido leitor, encaixa sua mãe em alguma definição acima e mesmo tendo uma resma de impropérios para dizer a ela, hesite e pense em tudo que a mulher fez por você – para o bem ou para o mal, mas sempre bem intencionada.

Ela destruiu o próprio corpo durante longos meses à sua espera, deixou de fumar e de tomar vinho na happy hour. Ficou parecendo um bujão de gás com roupinha florida, fazendo xixi a cada 15 minutos, chorando descontrolada sem motivo, comendo salada e evitando fritura. Tudo em nome da saúde do bebê, ou melhor, da sua.

Agüentou calada a encheção de saco das tias velhas lhe mandando fazer simpatias descabidas, vomitou mais do que gordo bêbado em fim de festa, deixou desconhecidos colocarem a mão na barriga dela e quase foi proibida de limpar a própria bunda pra não se esforçar demais, afinal, poderia ser perigoso para o feto.

Discutiu com o seu pai e esbravejou dizendo que definitivamente não ia nomear um pobre bebezinho de Carmem ou Vicentino Junior. Sendo homenagem a quem quer que fosse. Para não ser apelativa, não vou mencionar a brutalidade de um parto normal, tampouco a estranheza que deve ser assistir um projetinho de gente desdentado sugando seu peito a cada três horas. Trocou um sem-número de fraldas e babadores sem ter nojo.

E como sua mãe não tem nojo de você, ela acha que não tem problema molhar o dedo com a própria saliva e passar na sua bochecha quando está suja de pasta de dente. Bom-senso não é característica de mãe nenhuma (essa historia de amor incondicional é mesmo assustadora), por isso ela não teve pudores em enfiar sua camiseta pra dentro da calça do uniforme da escola e depois te mandar levantar os braços pra dar uma afofada no visual.

Pintou seu dente de preto na festa junina, se emocionou quando você fez papel de árvore estática na peça da escola e chorou com o seu poeminha bizarro no dia das mães (mesmo sendo obrigada a ler a palavra você grafada com cedilha). Agüentou filas quilométricas no Playcenter e se segurou para não te mandar pro inferno quando você dizia que queria mesmo era ir pra Disney.

A sua mãe é uma das poucas pessoas que não deve ter se animado com esse revival dos anos 80. Mesmo tendo que ouvir o LP do Balão Mágico cerca de 8 vezes por dia, ela não estourou a vitrola nem arremessou o vinil pelos ares. Além disso, tem crises de gastrite toda vez que ouve a voz da Xuxa no comercial do hidratante Monange. E é tudo por sua causa.

Não posso me esquecer das festinhas de aniversario em que ela rodou a cidade em busca das réplicas mais fiéis dos personagens do He-Man ou da Cinderela nem da arruaça que ela foi obrigada a organizar depois dos parabéns. Coxinha esmagada no tapete, coca-cola em cima do cachorro e brigadeiro debaixo da almofada do sofá.

Por isso, meus caros, termino aqui, pedindo que reflitam antes de mandar sua mãe para o inferno e mais ainda, que reflitam antes de procriar. Afinal, criança é igual peido: só agüenta quem faz.

Sunday, April 22, 2007

Preciso me encontrar

Passei por um longo período da vida convicta de que haviam, de fato, trocado o leite da minha mamadeira por limonada suíça sem açúcar, tanto era o meu azedume. Hoje imagino ter superado a fase. Continuo não amando a vida, nosso relacionamento é complicado, mas já consigo encontrar beleza nas tais pequenas coisas da vida.

Não necessariamente ver o sol nascendo, que pra mim significa mais que exagerei (ou não) na balada; tampouco no sorriso de crianças, de quem eu continuo não gostando, nem no desabrochar de uma flor – já viram quanto ta custando ver uma orquídea florescer, companheiro?

Falo daquela sensação boa ao ter que pedir um número menor de calca pra vendedora da loja e de ver o papelzinho do redeshop saindo tranquilamente da maquina. Transação OK.

Pequenas coisas como ouvir o barulhinho do pão quente pulando da torradeira ou encontrar o elevador parado no térreo justo quando você esta chegando em casa apertado pra fazer xixi. É virar amiga do ex.

É passar a noite dançando até a perna doer e escutar aquela música inteirinha, sem nenhum infeliz vindo de incomodar. É conseguir dar risada depois de rolar uma escada na frente da multidão mesmo tendo ficado com a canela roxa igual zagueiro de time de futsal.

Ouvir a latinha de cerveja abrindo no final da sexta-feira ensolarada, indicando que o fim-de-semana finalmente chegou faz bem pros ouvidos. Bem como a professora dizendo “nos vemos ano que vem” no último dia de aula.

Legal mesmo é não ligar de perder aposta besta, encontrar vaga no shopping em pleno 23/12. E não precisar trocar o presente que ganhou da sua tia no natal. É cantar parabéns pro amigo sem ter a corja de imbecis gritando “é pica, é pica”. Bonito mesmo é passar o sábado dando risada mesmo sabendo que no domingo o jogo inverte.

Tuesday, April 17, 2007

Formandos 2007

A formanda (que podemos muito bem chamar de Fernanda porque rima e é um nome comum) vestia azul royal. Virou uma tradição nos bailes de formatura. Ultimamente a cor reina absoluta entre formandas, suas mães e as convidadas. Pouco importa se ela não favorece nem a Heidi Klum, o que vale mesmo é ter destaque na festa.

Claro, o pai começou a pagar as parcelas há mais de um ano, a pressão é enorme, como diria a cantora Maria Rita ao ser comparada à mãe. Formatura da FAFUP (Faculdade de Funilaria e Pintura), mais de 500 pessoas. Os ternos de microfibra imperavam entre os homens e o ar condicionado funcionava com a eficiência de Rubens Barrichelo. Não houve lencinho que bastasse pra enxugar as testas brilhantes.

As famílias iam se acomodando nas mesas e a banda ia tocando as músicas mais tranqüilas. Frank Sinatra não ia gostar da releitura de sua celebre New York, New York, mas quem liga pra isso? Os garçons não paravam com as bandejas e as bolinhas de queijo faziam um tremendo sucesso. Menos pra tia Odete, que derrubou uma e ficou com a mancha de óleo na saia “salmon”.

Os salgadinhos só não perdiam pra popularidade do whiskey meia-boca, que descia freneticamente pelas goelas dos convidados do Junior, outro animado formando. Ele conseguiu juntar o pessoal da rua, do serviço e todos os 4 primos quase da mesma idade. Seus pais não se agüentavam de orgulho e também fizeram questão de convidar quase toda a vizinhança.

Um verdadeiro paraíso. Salão bem decorado com flores artificiais, mas ninguém diz e velas brancas. As toalhas das mesas num tom bonito de vinho – bordô, corrigiu a outra. Cerveja gelada e muito coquetel de pêssego pras senhoras de meia-idade e meia-calça bege que não podiam ficar bêbadas, imagina o que não iam sair falando.

Os penteados faziam a linha dos coques no alto da cabeça e meio-rabos. Deu pra perceber que o babyliss dos salões tinha trabalhado duro naquela tarde. Cachinhos enfeitavam suas testas. A maquiagem, segundo tinham lido, tinha que combinar com a cor do vestido. No maximo um ton sur ton, explicou a maquiadora. Todas seguiram a tendência, formando um verdadeiro arco-íris de sombra para os olhos.

A banda já tocava sucessos de forro, como a banda Rastapé e os casaizinhos dançavam animados. A pista exalava calor humano. Quando menos se esperava, dançarinas inspiradas na eterna Carla Perez dançavam os novos hits do axé de Salvador, não houve quem tivesse ficado sentado – a não ser pela tia Odete que continuava enfezada com a mancha. Começaram a se perguntar se o coquetel de pêssego era mesmo sem álcool, dada a alegria da mulherada.

Guto, primo do Junior, tinha dezesseis anos e pouca habilidade na arte da conquista. Só que ali, sob efeito da cana, viu que a coisa podia ser fácil. Puxou uma pelo braço. Vestido azul royal, 34 anos nas costas e 2 cesarianas na barriga, se sentiu lisonjeada, afinal, ainda estava em plena forma. A mãe do rapaz, apesar do pileque, não pareceu aprovar o novo par. Já o pai ofereceu dinheiro pro motel. Não, pai, motel ainda não, ela é moça de bem.

As barras dos vestidos arrastavam no chão sujo de fim de festa. O cenário não era muito diferente do que se vê por ai: gente descalça dançando, bêbados brotando do chão, Britney Spears tocando para os últimos guerreiros e casais se desfazendo para irem embora. Vendo a Tia Odete na mesma posição há horas, desconfiavam que se tratava de um manequim. Apertaram os 7 últimos sobreviventes na Quantum vinho do tio Waltinho e voltaram pra casa de alma lavada.

Friday, April 13, 2007

Vou ver o mundo girar

Dizem os conformados, os otimistas e principalmente os despeitados que o mundo dá voltas. Algo como “depois da tempestade vem a bonança” ou coisa parecida. Achava eu que, a não ser pelo reveillon, o mundo girava porcaria nenhuma. Principalmente por causa do infeliz do timing, nunca me dei ao luxo de ficar esperando ser recompensada por algum infortúnio do passado. Não aconteceu, azar o meu.

Sem exageros, foi uma década sem ouvir falar de você nem dos seus amigos. Lembro das tardes de verão que passava na piscina, das suas palavras tão oportunas, tão cheias de sentido. Marcava presença onde quer que aparecesse. E como aparecia! Festas de todas as idades, se dava bem com gente de qualquer idade. A aparência dava margem para dúvidas. O visual exótico dividia a mulherada, a mim inclusive. Só que a essa altura eu nem estava ligando para isso, eu só queria que você viesse.

Alguns me mandavam esquecer, como sempre. E eu relutava, como sempre. Não sei de onde tiro essa esperança. Fato é que o tempo foi passando e eu ia falando menos de você, pouca gente se lembrava disso depois que você deu uma sumida. Vira e mexe aparecia, só pra me fazer lembrar de tudo aquilo que eu sentia e insistia em dizer aos outros que não sentia. Parecia de propósito. E continuava esperando.

Às vezes tinha alguma noticia sua e o coração batia mais forte: será que agora ele aparece? Então baixava as expectativas de novo. Arranjei outros nesse percurso. Melhores, inclusive, você nem imagina. Tive que espera-los por bem menos tempo do que você e esses sim vieram - por conta própria, não por causa dessa historia de que o mundo gira. E agora sim eu tenho motivos pra esperar, afinal, diferentemente de você, eles vieram. As pessoas tinham razão, eu precisava te esquecer. E foi o que eu fiz.

Não por força de vontade, acho que por obra do acaso. Eu sabia que não dava mais pra continuar com isso e quando eu te ouvia, não sentia mais nada, não dava nem mais um sorrisinho saudoso ou com um fundo de esperança. Aí eu soube que estava livre de você pra sempre. Que se eu quisesse, tinha alvará pra repetir a dose com aqueles outros que apareceram. E você nem tem do que reclamar.

Estava eu, respirando novos ares, te achando um traste, sem nem querer ouvir falar daqueles seus amigos, e você diz novamente que vem. E dei um daqueles sorrisos que me eram proibidos sem que ninguém visse. Era provável que desse o cano de novo, mas trouxa que sou, alimentei a hipótese. Mesmo aqueles que me falavam pra desistir de você estavam mexidos com a possibilidade.

Ao contrário do que imaginei que fosse fazer quando te encontrasse, saí de casa apressada e não quis nem saber o que estava vestindo. Eu não me importava mais, lembra? Pouco antes de você fazer sua aguardada aparição, caiu uma chuva forte e constante durante uns 20 minutos e você ainda se atrasou! O suficiente pra me deixar com frio e com raiva de você, mas não liguei pro meu cabelo molhado. Não só eu, aliás. Será que você tem consciência de que faz isso com as pessoas ou só se faz de pazzo?

E você estava ali, a alguns metros de distancia, onde eu nunca achei que fosse estar. Esquisito como sempre, agindo como sempre. Entretanto, eu não parecia ligar. Eu não deixei você mexer comigo como fazia antes. Começou simpático pra ver se me cativava de volta, fez aquelas piadinhas que alguns não entenderam – mas eu entendia, como nos velhos tempos. Não adiantou. Nem o romantismo, nem o inesperado.

Não adiantou ficar esperando. Quando o mundo finalmente girou e você quis finalmente aparecer, eu já não queria mais. É essa a recompensa do preterido, do despeitado, do vingativo. É poder dizer pra si mesmo (e pra si mesmo ninguém consegue mentir) que não rola mais, que já não dá mais tempo. Que eu fui uma puta de uma imbecil em ficar te esperando achando que você também estava ansioso pra vir. Pode até ser que estivesse, mas quando veio já era tarde demais.


E quanto a isso, Steven Tyler, ninguém pode fazer nada. A menos que a gente chame o Superman pra girar o mundo pro outro lado para voltarmos no tempo. Do contrario, eu poderei dizer tranquilamente que eu não precisava ter ido ao show do Aerosmith ontem. Sinto muito.

Thursday, April 12, 2007

Ma ooooeeeeee

Gostaria de aproveitar e fazer um agradecimento especial aos leitores da Lapa, zona oeste de Sao Paulo. Das ultimas 100 pessoas que passaram por aqui, 33 eram da Lapa e suas redondezas!

Nao sei bem como o site meter conseguiu determinar o local com tanta precisao, mas de qualquer forma, um beijo pra caravana da Lapa. Quando tivermos dinheiro, arremessaremos avioezinhos de dinheiro pra voces.

Wednesday, April 11, 2007

Hamlet

Dona Mamãe, num súbito de criatividade, copiou Dona Vovó e me deu o nome de sua irmã: Silvia Maria. Sem acento. É errado, já me disseram – inclusive, na 5ª. serie, minha professora de gramática só parou de me descontar um décimo nas provas quando levei meu RG provando que o erro não era meu. Com duas Silvia Maria na família, a confusão eminente teve uma solução óbvia. Eu virei a Silvinha.

Quando voltávamos para casa de perua escolar, falavam: Caio, João Paulo e Silvinha Piccolo e então sabíamos que era hora de pegar a lancheira e saltar do busão. Meus amiguinhos me chamavam da mesma forma, e mesmo tendo 3 anos de idade e sendo todos eles “inhos” de tamanho, eu não me referia a ninguém como Luisinha, Rodriguinho ou Camilinha. A diminuta sempre fui eu.

Na natação, era a menor da turma. Aos 9 anos dividia a raia com um pirulão de 16 e 1,75m, “Silvinha, você nada com o Ricardo”. Cada braçada de borboleta dele era um pescotapa em mim. No inglês, a japinha um pouco passada da adolescência que me dava aula ia conforme os outros. Mais ou menos na mesma época, finalmente, conheci uma Paulinha. Que na verdade é Paulinha porque tinha outra Paula (a Paulona) na mesma turma, ninguém queria confundir. Eu, não. Nunca conheci outra Silvia da mesma faixa-etária do que eu.

E ai que mesmo sendo a única Silvinha, eu nunca soube direito quem eu era. Os novos professores (e não mais as “tias”) me chamavam de Silvia. E punham o acento. Os novos amigos também. E não punham o acento. Os velhos amigos me chamavam de Silvinha e eu me tornei as duas coisas. A Silvia e a Silvinha. Silvia Maria eu nunca fui nem nunca vou ser, sinto muito.

Então, quando ligam na minha casa e perguntam com quem estão falando, eu fico em duvida. Certa vez minha prima me fez a pergunta e eu sem reconhecer a voz, respondi “Silvia”, cheia de formalidade. Já pro marceneiro querendo passar o orcamento, disse que era a Silvinha e o homem meio desconcertado falou “então, Silvinha, avisa o sr. Luiz que vai custar tanto.” É uma seriíssima crise de identidade.

Maria (da Gloria), mesmo trabalhando aqui em casa há anos, ao receber a ligação da farmácia de manipulação com os remédios para a Silvia, achou tudo muito estranho. Silvia? Aqui não tem nenhuma Silvia. E passou o numero da minha tia, que apesar de ser Silvia não tinha encomendado remédio nenhum.

Meu nome é de velha eu sei, como já disse ai em cima, nunca conheci nenhuma Silvia com menos de 35 anos. Mas e quando eu ficar velha, decrépita, da espessura de um barril de melaço do Pica-Pau, as pessoas vão continuar a me chamar de Silvinha mesmo sendo velha e gorda? Ou será que me tornarei a Dona Silvinha? Ou finalmente Silvia?

Sunday, April 08, 2007

Any Given Sunday

Abriu primeiro o olho esquerdo com medo de ver o que não queria. Olhou as paredes brancas do quarto, coçou o direito e reconheceu a estampa da fronha apesar das manchas da maquiagem. Tinha esquecido de fechar as cortinas e a claridade, impiedosa, invadiu o cômodo por volta das 3 da tarde. Tentou se espreguiçar, mas logo pôs as duas mãos na região das têmporas, que denunciavam o exagero etílico.

Depois de esforço sobre-humano foi se levantando, a bexiga a ponto de estourar. Com um pé chutou um copo vazio; o outro espetou no salto do sapato largado no meio do caminho do banheiro. Onde estará o outro? Fingiu se preocupar. Constatou que tinha conseguido tirar apenas a calca jeans antes de dormir e os botões da blusa preta haviam deixado marcas na pele. Nada comparado à mancha roxa esverdeada que enfeitava a canela e o ralado avermelhado nos joelhos.

Ainda desnorteada, saiu pela casa em busca de alguma explicação ou indício de habitantes, mas nada encontrou. Voltou ao quarto e sob a cama viu sua bolsa contendo o celular sem bateria, o rímel e a carteira de habilitação quase rasgando. Meu deus, será que eu voltei dirigindo? Achou também 3 reais amassados dentro de um pequeno zíper. Sem cigarro eu não fico, comemorou.

Estava se sentindo o próprio cinzeiro, com as roupas e o cabelo exalando aquele odor característico e àquela altura, nauseante. Sentou outra vez nos lençóis amarfanhados juntando energias. Conseguiu ligar o chuveiro e enquanto a água esquentava, resolveu abrir a torneira da pia e matar a sede ali mesmo; subir e descer escadas seria fatal naquela situação.

Descabelada, escovou os dentes tentando se livrar do gosto de corrimão que se instalara dentro da boca, em vão. A pele e o estômago expeliam cheiro de álcool 98%, dava pra acender uma churrasqueira apenas com uma baforada. Passou xampu 3 vezes e nada removia o alcatrão, a nicotina e os nos do seu cabelo. Devo ter imitado a Joelma do Calypso pra ficar com essa juba, não é possível. Mais tarde ficaria sabendo que a suspeita procedia.

Enrolou-se no roupão e enquanto o cabelo pingava e ensopava o tapete do banheiro, carregou o celular e leu, na caixa de saída, com a testa franzida, algumas mensagens de texto confusas, destinadas à única pessoa para quem não deveria ter mandado nada. Muito menos as 5:04 da manhã. Fazer o que? Conformou-se. Foi em busca de explicações sobre a noite anterior. Apesar do horário, ninguém estava acordado para dissolver o mistério, até que na última ligação teve sucesso.

Sim, a mensagem fora enviada indevidamente, porém o mais importante: não tinha voltado de carro. Prudentemente, pois sequer tinha ido de carro por falta de condições motoras e psíquicas. Isso explica o joelho e a canela... rolei mesmo a escada do prédio, é?, Perguntou incrédula a amiga. Seu estômago também não estava lá essas coisas naquela tarde. Escorou-se nas paredes para chegar ao armário de remédios e ingeriu um verdadeiro coquetel medicamentoso. Plasil pro enjôo, Neosaldina pra dor de cabeça, Epocler pra azia e um Pasalix para se acalmar do arrependimento do sms.

Uma solitária lata de cerveja, água gelada e uma cebola embrulhada em filme plástico compunham o triste cenário de sua geladeira. No congelador, forminhas de gelo vazias. Por sorte a concentração antes da noitada não tinha sido em sua casa ou o pandemônio ia estar elevado ao cubo. Abaixou-se para pegar o jornal na porta e a pressão baixou, fazendo-a ser vista pelo vizinho, naquele estado, no hall dos apartamentos.


Tentou ler algumas linhas, mas ainda não tinha dado tempo de sentir os efeitos da ciência farmacêutica. Encontrou o telefone sem fio debaixo da almofada do sofá, quis pedir comida em casa e só então pensou nos 3 reais restantes. Não se recordava da ultima vez que tinha posto algo sólido goela abaixo. Se não quisesse morrer de fome, teria de pegar o carro e passar o cartão de credito com limite já estourando.

Sem ainda conseguir pentear o cabelo, fez um rabo no alto da cabeça, tirou finalmente os brincos que insistia em usar apesar da alergia e fez não ter visto a maquiagem borrada escorrida, quase alcançando as bochechas. Inchada como um baiacu por causa do álcool, vestiu a calça mais larga e saiu com a feição digna de João Ubaldo Ribeiro nos tempos magnos de bebedeiras.

No restaurante, encontrou mais dois ou três amigos no mesmo estado que ela e tomou logo uma água e uma coca light bem gelada pra ver se melhorava. Após descobertas não tão boas a respeito das pessoas com quem tinham feito “amizade” na noite anterior, a situação de todos já não estava mais tão deprimente. Tanto que não dispensaram a porção de batatinha frita, o sanduíche com pastrami e tomate seco... Nem muito menos a sagrada cervejinha do final de domingo.

Monday, April 02, 2007

Fim da linha

Gostaria de cumprimentar pessoalmente o infeliz cidadão que proferiu - e, pior, difundiu - a teoria de que brasileiro adora uma fila. Deve ter sido o mesmo tipo de gente que assiste Jornal Nacional, só ouve desgraça sobre o País e depois comenta que nasceu no lugar errado, devia ser europeu. Ah, já eu, não. Me contento com Guarulhos, ou quem sabe com Vigário Geral... Voltando às filas, o que acontece mesmo é que brasileiro se acostumou com elas, o que é bem diferente. Acostumou com protocolos, a resolver uns pepinos no banco, a dar entrada na papelada toda do cartório. A chamada burocracia que ninguém sabe de verdade o que significa, muito menos eu.

Deve ter burocracia e filas em outras partes do mundo, quem já pediu visto para os EUA e depois tentou brincar na Splash Mountain num dia quente de julho sabe bem. Posto que haja filas em todo o mundo e que a diferença esteja apenas nos formadores das filas (os bancos, não. As pessoas), vamos nos conformar com o fato. Há, no entanto, quem lide melhor com as "bichas", como diriam os portugueses. O George Michael é talvez o mais notório deles. Ok, não teve graça.

É sério. Ao entrar resignado e pessimista numa fila, as chances de irritação são menores, acreditem. Em banheiro feminino de shopping aos sábados, calcule uns 5 minutos por cabeça com escova e note que você não vai se decepcionar tanto com a demora. Para homens o cálculo é, com folga, de 30 segundos. No caso de banco, analise a quantidade de papéis que a pessoa carrega, a idade (os idosos demoram sempre) e se demonstra impaciência. A mesma Lei de Murphy que faz a faixa de trânsito ao lado andar sempre mais rápido que a sua, colabora para que o mais impaciente seja atendido pelo funcionário mal-humorado e a desgraça está feita.

Não adianta reclamar, gente. Ai, mas só vão deixar 2 caixas abertos?, esse calor de matar, esse lugar não respeita os clientes, não volto mais aqui, psiu! Mocinhaaa, dá pra ser ou tá difícil?. Nada disso vai fazer a fila andar mais rápido. A menos que você precise enfrentar o INSS, enfie a mão no bolso e imagine que ganhou na megasena, juro que distrai. Deve ser por isso que o Brasil não vai pra frente, ninguém se mexe para mudar o fato, concordo. Mas ali, de pé, suando mais que lutador de sumô em Goiás, a última coisa que eu quero é ouvir resmungos do alheio.

Também não gosto de puxar papo. A situação por si só já é desagradável e eu realmente não preciso dividir minhas impressões do momento com um desconhecido. Não me interessa se ele ainda tem que ir a mais 3 bancos, se o filho está no carro esperando, se o shopping deveria dispor de mais caixas para pagar o estacionamento nem muito menos se a Zara resolveu vender camisetinhas a preço de banana. Lide com o fato por conta própria.

Depois que ouvi de uma pessoa muito próxima que eu parecia fazer questão de me mostrar entediada, passei a distribuir mais sorrisos a esmo e isso me causa prejuízos até hoje. Como num jogo da última Copa em que eu simplesmente parei no supermercado para comprar 2 caixas de cerveja e me dirigi ao caixa rápido - só 1 estava aberto. A senhora atrás de mim pôs-se a falar do Ronaldinho, da escalação equivocada do Parreira, do presunto Seara em promoção e de sua amiga que lhe esperava em casa.

Muitos aaah, huuuum, nossa, que coisa desta que vos escreve depois, a mulher criou intimidade. Enquanto eu guardava o troco na carteira e pedia para a caixa jogar a notinha no lixo, ela veio sorrateira me pedir para que eu a ajudasse a levar as coisas até o carro. Tá aqui pertinho, ó, é pouquinha coisa. Com mais uns 3 ou 4 clientes atrás, esperando para ver minha reação, dei talvez o sorriso mais falso de toda a minha carreira (eu sou atriz nas horas vagas) e concordei. Fui com as minhas compras e metade das dela em direção ao Corsa verde-musgo da usurpadora de jovens consumidoras de cerveja e bolinhas de amendoim.

Fila não é lugar de fazer amizade, mas as mocinhas mezzo ou totalmente bêbadas dos bares e clubes da cidade discordam de mim. Na realidade, até eu quando me encaixo no grupo das mezzo bêbadas discordo de mim mesma. Aqueles minutos esperando a sua vez para ir ao banheiro são, de fato, muito intensos. Uma segurando a porta da cabine para a outra, emprestando elásticos de cabelo, gloss e às vezes um ombro amigo em casos de decepção com o sexo oposto (juro que já me aconteceu!). Na hora da volta pra pista ninguém se lembra mais das comparsas de sanitário.

Pegar fila é como limpar banheiro. Horrível mas precisa fazer. Usando luva de borracha, o produto adequado e cantarolando a música certa, não é tão letal. Ficando quieto, paciente e não pegando a vez do outro, você está na fila certa.

Wednesday, March 28, 2007

Bom te ver...

Vez ou outra um tal de sentimentalismo vem me visitar. Ele passou muito tempo viajando, sabe-se lá pra onde. Creio eu, já que não sou muito íntimo dele e daí a dúvida, que ele foi na casa da Silvia Maria, na vida de uma porção de pessoas e na minha faculdade. Não sei ao certo. Especulações à parte, o que é relevante mesmo é que ele está aqui. Tipo sombra. Furtivamente nos meus dias.

Talvez o sentimentalismo tivesse ido viajar por que eu o enxotei da minha vida. Há algum tempo cansei dele corroendo meus pensamentos e dissolvendo minhas barreiras. Dei um basta. Peguei a vassoura atrás da porta e dei com a piaçava na cara dele. Por motivos que eu desconheço, ou pelo menos finjo que desconheço, ele voltou. De mala e cuia.

O que sei menos ainda, foi como ele achou o caminho de volta. Meu coração não fica mais no mesmo endereço. Minhas experiências durante sua ausência ergueram cercas de arames farpados a espreita do seu retorno. Mas o sentimentalismo, como todo bom filho, voltou. Rogo para ele que ao menos tenha repensado alguns valores.

Espero que tenha repensado nas crises de carência. Nos dias em que você bebe para esquecer, e à medida que os goles descem, redondos ou não, o nível de sentimentalismo sobe. Você se afunda, ele emerge. Peço que tenha repensado também a falta de sono. Sobre as noites mal dormidas na expectativa do que já passou. E por favor, que alivie a instantânea dor de estômago dos portadores de gastrite nervosa. Vomitar não tem graça nenhuma. Nunca teve. Mesmo.

Se eu peço, estou disposto a fazer concessões. Proponho realmente uma convivência pacífica. Permito ficar de olhos marejados assistindo programas de TV. Não vou nem ligar se ficar emotivo após me identificar com a letra cantada pela Britney Spears. Irei me convencer que “Bombastic Love” é uma canção universal. Como estamos em uma negociação madura, me dou aval para ser fofo com os outros. Inclusive responderei SMS's com certo carinho no conteúdo.

O fato minha gente, é que ele está aqui. E provavelmente entraremos em um bom acordo, para ambas a partes. Acho que até o Celso Russomano concordaria em fechar a matéria. Se o sentimentalismo outrora me sondava para minha auto-sabotagem, acho que dessa vez mudou. Não sei ao certo, se foi ele ou se fui eu.

Digo para ele então, que seja bem vindo. Que se acomode nos cantos vagos, mas que não seja espaçoso. E que também, às vezes, ele ainda pode tirar férias. Por curtos períodos. Mas que exerça o seu papel mais importante. Sim, porque há um papel a ser desenvolvido.

O de me inspirar, e a você leitor também, mais alegria na vida. Mais esperança para quem já foi machucado (todos nós). Que prove então, que aquele caso considerado perdido nos últimos meses tenha sido apenas um equívoco. Que o problema tenha sido apenas comunicação. Espero, sobretudo que ele me permita o ceticismo, para não ser um bobo apaixonado. Mas que esse ceticismo não me faça esquecer de que em alguns casos, e repito, em apenas alguns, o sentimento possa falar mais alto. Para clarear as mentes dos dois envolvidos nessa história. Porque às vezes tudo termina bem.

Monday, March 26, 2007

Bridget Jones parte 2

(...)“Tai, eu fiz tudo pra você gostar de mim...”.

SIM, muitos responderam, eu aposto. Mas pensem se há justiça nisso. Eu tenho que passar horas me embonecando, desbravando matas desconhecidas em busca de uma paixão instantânea e a tal da coincidência, de alma gêmea e a bendita da outra metade da laranja não fazem nada, nadinha? Ah, não. Pra cima de mim, não. Somos três irmãos aqui em casa, aprendemos a dividir tudo igualmente pra não ter reclamação nem injustiçados.

Duvido do fundo desse peito desafinado que duas pessoas se conheçam dessa forma. Ou vocês vão me dizer que já ouviram falar de alguém que passou a tarde se maquiando e saiu de casa parecendo o Boy George acabou encontrando outro, que mandou passar a melhor camisa, partiu olhando até em becos sem saída em busca de um novo amor, que se encontraram e namoraram por anos? Eu nunca. (E também não saio de casa parecendo o Boy George, juro que não uso sombra colorida!).

O acaso também tá nessa que eu sei. Não venham me falar de destino traçado que isso é sempre bullshit. Vamos supor que eu queira aquela cena babaca onde a metade desajeitada do casal derruba a papelada no chão, o outro se agacha pra ajudar e trocam olhares, telefones... Como faz? Fico com um bloco de sulfite na porta do metrô dando ombrada em tudo quanto é homem? Tá, eu não quero essa cena babaca pro meu currículo romântico, mas se eu quisesse, quem teria que entrar em cena seria o acaso, vocês hão de concordar.

Ele tá fazendo corpo mole comigo, pelo visto. Valorizando o próprio passe. Vinte e dois anos e nem uma puta de uma aparição decente, Sr. Acaso. Francamente! Ou vai me dizer nessa altura do campeonato que era pra eu ter acendido uma vela vermelha pra Santo Antonio em 2001? Acho que não, mas em momentos de TPM chego a duvidar. Retifico: em momentos de TPM eu imagino coisas sem sentido e pra completar a desgraça, eu choro. Coisa dos hormônios. É só não leva-los muito a serio que logo passa.

E é isso, minha gente. A despeito do que vocês possam imaginar, eu não penso em achar o amor a todo instante. Se vier, é lucro. Não sei nem se é correto dizer, mas o negocio é o seguinte: eu não fui criada pra isso, não, Brasil. Eu quero ficar rica – provavelmente precisarei encontrar uma profissão que me agrade antes, quero ver outro show dos Strokes, ficar viciada em corrida, aprender italiano, voltar a jogar tênis, esquiar sem cair, ter uma casa grande cheia de cachorros, usar salto sem doer o pé.

Quero dar entrevista no Jô Soares sobre nosso aclamado blog, quero ser menos tímida, aprender a fazer baliza, fazer terapia, ir em enterro de anão, tirar uma foto com o Ralph Wiggum, ter um milhão de amigos (Epa! Esse é o Rei Roberto, não eu), assistir a uma final de Roland Garros e outra de Copa do Mundo. Quero depilação definitiva. Quero risadas duradouras e por enquanto elas estão aqui.

Thursday, March 22, 2007

Bridget Jones é o c#r$%*&o!

Meu nome é Silvia Maria!

Essa semana tive que explicar para duas senhoras com 70 anos passados a razão pela qual eu não tenho um namorado. Uma delas era a minha avó, que sempre que me vê arrumada, diz que só preciso perder uns 3 quilinhos pra ficar "perfeita", me dá um tupperware com comida e diz que me falta apenas um namorado. A cena se repete desde os meus 15, 16 anos e ao invés de perder os 3 quilos, ganhei uns 9. Continuei levando os petiscos pra casa e nada disso a incomodou. Com exceção do namorado, que continuo não arranjando.

A querida vovozinha eu consigo dobrar em 9, mas sua irmã parecia mesmo implacável com as perguntas. Queria saber se era eu que dispensava os moços por coisa pouca, se eu não era exigente demais (vocês sabem, quem exige demais acaba sempre sozinha), se eu já tinha um namorado e não queria dizer, se eu já tinha tido um amor fracassado e ficado traumatizada ou se simplesmente ainda não tinha aparecido. “Porque com 22 anos, Silvinha, eu já estava casada”.

Tirando a parte do cara que já existe (ele não existe, juro!), todas as justificativas se misturam e me deixam com a sensação de que eu não preciso de um namorado. Não agora, aqui sentada escrevendo e ouvindo Hermes e Renato na MTV. Tem dias em que eu acordo ou vou dormir pensando como seria, só que nunca aconteceu. É como um homem andar de ônibus todo dia pensando no ar condicionado do Audi que ele não tem e sequer dirigiu.

Ele fica lá, olhando pela janela do circular, vislumbrando o volante, os bancos de couro, a patroa mais magra de saia curta no banco passageiro e os faróis de milha ligados. Um deleite para a imaginação do nosso amigo. Se contarem pra ele do valor do seguro, da manutenção, dos riscos de seqüestro, do gasto com gasolina, IPVA e a dona patroa enciumada com o monte de vagabunda dando em cima dele por causa do carro de bacana, talvez ele repensasse. Talvez porque ele não tem o Audi e não vai se preocupar com IPVA de carro que não existe. Ele continua andando de ônibus porque é o que temos por hoje. Economiza o troquinho do feijão e, quem sabe um dia, consegue um consórcio do Audi.

Já me contaram das maravilhas e dos dissabores de namorar, acreditem. E eu os considerei profundamente, quase anotei os conselhos no meu bloquinho do Snoopy. Ponderei tanto que não sei se não prefiro ficar como estou. Ei, isso não é papo de recalcada que encalhou feito jubarte em Copacabana e prefere dizer que está fechada pra balanço. Não é isso. Encalhei. Sou eu, jubarte em Copacabana, tentem visualizar. Mas sem despeito.

Eu não tenho medo de ficar sozinha, nunca tive. No máximo, medo de escuro que eu tenho até hoje, mas o interruptor fica a centímetros do meu dedo; o quarto da minha mãe, a poucos passos de distância, em último caso. Eu tenho medo é de perder a lente de contato no meio da Marginal, de o meu elástico arrebentar na hora da academia, de ficar sem meus amigos, de acabar a luz na hora dos Simpsons, de não conhecer New York nunca na vida e de tartaruga (sério!).

Eu estou bem sozinha e não tento enganar a mim mesma e nem a ninguém. Pode ser que eu me torne uma pessoa melhor com um namorado ou coisa que o valha. Só que ele não apareceu ainda, por deus! E eu, o que faço com o fato de que ele não aparece? Visto-me como se fosse pra noite do Oscar mesmo indo pra padaria? “Oito franceses, bem branquinhos, por favor!” e plinc, uma piscadela pro balconista? Aceito convites para churrascos no interior, raves PVT, feijoadas com pagode, micaretas, reuniões de condomínio, jogos de tranca e bailes da terceira idade? “Tai, eu fiz tudo pra você gostar de mim...”.


CONTINUA...

Wednesday, March 21, 2007

Censo Crônico

É, meu Brasil! Enquanto o mundo gira, a Lusitana roda, o Rafael não escreve, um argentino entra no BBB e o São Paulo vai empatando com o Necaxa (??), mais e mais pessoas vão entrando em nosso estimado blog.

Caso ainda não tenha percebido (ou sequer lido a descrição logo acima), agora contamos com a ajuda do Site Meter, ou seja, sabemos exatamente quantas visitas recebemos no Duplas Crônicas. Queria conseguir esperar até a centésima, mas dada a minha ansiedade congênita, faremos o Censo do blog após o octogésimo visitante. Esclareço de antemão que anulei a contagem de minhas próprias visitas por razoes éticas.

Não, nós não sabemos quem você é apesar de querermos muito. Em breve, inclusive, faremos a seção CADASTRE-SE para que você possa nos ajudar a melhorar. Ou não. O que sabemos é que a média de visitas por dia é de 21 pessoas desde que criamos a conta no Site Meter, no domingo (18). Vinte e uma pessoas... Eu não FALO com 21 pessoas durante um dia e elas lêem o que eu escrevo. Que coisa emocionante!

Não confunda, porém, caro leitor, visitas com page views. O site grava o seu ip e só contabiliza uma visita por dia, não importando quantas vezes você entre no site durante as 24 horas. Mas, já que o intuito é contar vantagem, os page views somam a quantia de 141.

As visitas são feitas por pessoas ao redor do mundo. Acreditem, em pesquisa realizada há poucos minutos, descobri que nosso blog foi visto por gente da Espanha e de El Salvador (Panamá, Santo Domingo e Puerto Rico ainda não descobriram nossas maravilhas literárias, mas aguardem). O assessor de George W. Bush, pouco antes de deixar a cidade, prometeu pessoalmente que seu cliente iria nos dar a honra da visita. No entanto, nenhum computador da terra dos Dunkin’ Donuts passou por aqui.

Dentro desse Brasil a coisa não foge muito de São Paulo, com exceção de Rio de Janeiro, Amapá e Brasília. Já em minha querida megalópole, dentro do que consegui apurar, o tradicional bairro da Lapa é o campeão em entradas (sem trocadilhos) no Duplas Crônicas. Sem saber a razão disso, informo meu companheiro Rafael que tivemos um visitante de sua querida terra natal: São Caetano do Sul.

Romário, estamos com você: queremos chegar nos mil!!!

Tuesday, March 20, 2007

Saiba dizer não

Meus grandes amigos vão discordar, mas tenho embasamento para tal declaração. Já vivi uma época em que fazia as vontades de todo mundo. Massagem nas costas, sanduíche, ia buscar coca-cola na manhã de ressaca e enfrentava a fila do caixa da balada pra pegar bebida pra todos. Quando se recusavam a fazer o mesmo por mim eu ficava magoada, me sentia o coco do cavalo do bandido. Só que eu percebi que eu não precisava fazer favor pra que as pessoas continuassem sendo minhas amigas. Percebi que posso falar não quando sinto que preciso. Ainda faço muitos favores (você, leitor, não quer beber nada mesmo?) até para desconhecidos, mas somente quando tenho vontade.

Aniversário de algum familiar, o que fazer de comida? Ah, tem os salgadinhos da dona Ligia, coitada. O marido doente, tão velhinha ela. A gente podia comprar alguns pra ajudar, né? Claro que podíamos. Não fossem os kibes engordurados, o catupiry dos risoles farinhentos e nem o frango da coxinha ressecado. Favor por favor, faço um a mim mesma, em não comer os salgadinhos da dona Ligia. Claro que eu tenho pena da mulher, mas tenho mais dos meus convidados.

Tenho verdadeira ojeriza de salão de cabeleireiro. Sempre reclamei da minha endocrinologista que só deixava revista Bravo e National Geographic na sala de espera, mas depois de alguns anos sabendo toda a trajetória da Ivete Sangalo, do numero de vezes que a Karina Bacchi trocou de prótese do peito e a lembrancinha da festa de dois anos do pequeno Joaquim Huck, começo a sentir falta do acasalamento das lontras e das críticas de álbuns lado B. Some as fofocas com uma fulana te cutucando as cutículas, aquele papo besta de velha reclamando do marido que não abaixa a tampa da privada ou de desavergonhada que vem me contar da depilação intima em formato de coração.

Eu não me deixo abalar, claro, pois sei que o pior ainda está por vir. Mesmo sacudindo as mãos como quem está com calor ou pede forças aos céus e fazendo cara de poucos amigos, vejo de relance uma maletinha de veludo preto. Continuo assoprando as unhas para demonstrar meu desinteresse, mas é tarde demais. A tiazinha com cintura de barril já abriu o “mostruário”. A variedade faz peito à feira do Acari, no Rio de Janeiro, mas nada me chama a atenção.

Eu não uso bijuteria (ou semi-joia como me corrige a vendedora free lancer). Não adianta repetir, a mulher simplesmente não entende como alguém pode não gostar de um anelzinho, um brinquinho “ó esse aqui com a pedraria laranja que graça”. Com sorriso amarelo, reitero minha opinião. “Ah, vá, correntinha todo mundo usa, tenho prata de lei aqui, você joga com qualquer pingente e fica lindo. E anel? Prata mesmo, viu, não empretece. A mamãe não usa, não?”. Não é simplesmente que eu não goste das ofertas da mulher, é que me sinto invadida. Fosse numa loja, pedia licença, agradecia e ia embora sem constrangimentos. E ainda tentam me levar a crer que indelicada sou eu em não levar nada pra casa. Nem pra mamãe.

Vez ou outra, me vi na feirinha hippie de alguma praia do litoral paulista. Velas, toalhinhas de renda, cangas, miçangas de todas as cores, placas de madeira com meu nome e o distintivo do Tricolor Paulista e duendes de durepoxi. Sou da filosofia de que a compra vem até você. Não adianta ficar garimpando pardieiros em busca de preço baixo ou mesmo de peças exclusivas. Só que ali, no meio de tanta saboneteira de biscuit, de redinha pra cobrir bolo de fubá e incenso de ylan-ylang eu acabo vendo uma argola prateada (que vai “pretejar” no primeiro banho, eu sei).


O hippie com cabelo sujo, filho no colo e sotaque portenho depois de ver que não vou levar nada além dos brincos, pede pra ver a palma de minha mão. Novamente, para não ser indelicada, finjo interesse e também que não tenho nojo das unhas pretas do homem. Após ouvir pacientemente que sou muito determinada e íntegra, mas que me preocupo muito com bens materiais, desvencilho-me do vidente de Woodstock e finalmente pago com minhas escassas notas de 10 reais pela única mercadoria que me interessou realmente.

“Sílbia, não quer mirar más nada? Está muy difícil, tengo 3 hijos, mira esos colares...”. Está difícil pra mim também, pessoal! Ademais, se tivesse todo o dinheiro que quisesse, não gastaria mais um centavo ali. Claro que me preocupo demais com bens materiais. Pelo simples fato de que não os tenho! Adios, adios!

Ainda na finada faculdade de jornalismo, encontrei uma coleguinha de classe que vendia pães de mel. Simples ou com recheio de beijinho, brigadeiro e trufas. Até os professores compravam o quitute, embalado no celofane, com fitinha e data de validade. Uma beleza, não fosse o fato de eu não gostar de pão de mel. Eu não sou mesquinha, avarenta nem egoísta, eu simplesmente não gosto de pão de mel. Se fosse um bem-casado eu comprava com gosto. A classe inteira com o dedo sujo de chocolate e eu sofrendo olhares reprovadores.

Apoio todos os meios de renda lícitos, podem apostar, mas sem constranger o cliente. Eu não saía pelas ruas pedindo pras pessoas irem ao restaurante em que trabalhava e hoje em dia não ameaço meus amigos caso não entrem e comentem aqui nesse blog (é só um pedido amistoso, pessoal. Não quer comentar, não comenta!). Conheça e exerça o seu direito de falar não. Sinto desapontá-los, mas contra esse tipo de comércio nao existe PROCON.

Monday, March 19, 2007

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Disse Mario de Andrade que Macunaíma é o herói sem caráter. Se procede ou não, eu não sei, pois não li o livro todo, mas só o fato de o personagem ter começado a falar aos seis anos de idade por preguiça já me nutre alguma simpatia pelo famoso índio e seu autor enlouquecido. Só que o Macunaíma saía por aí pra fazer suas maldades saudáveis e conseguiu chegar a São Paulo, inclusive. Já eu... Quando o mundo acabar, eu não preciso nem do barranco pra morrer encostada, deito no chão sem cerimônias.

Pode parecer onda, exagero ou até vagabundagem de minha parte (a última eu assumo parcialmente), mas o fato é que minha preguiça beira a patologia. Não é preguiça de ir trabalhar ou estudar (isso eu também tenho); é preguiça de ir tomar banho, de colocar o sapato, de digitar endereço da internet e de colocar o celular pra carregar. Meu companheiro já relatou aqui seu problema em postergar os compromissos sem motivo aparente, contudo, depois de passar 2 dias com infecção nos olhos, eu deveria aprender a não adiar a retirada das minhas lentes de contato de uma vez por todas.

Dentre tantas, tenho a mania de carregar o controle remoto aonde quer que eu vá (restos de memórias da infância, onde o objeto significava poder na família). Cheguei cansada da faculdade, acertei o sleep timer e fui escovar os dentes com o bendito controle na mão. Já debaixo das cobertas, deparei-me com a Hebe Camargo na tela. Tateando o criado-mudo, constatei a desgraça: deixei o controle em cima da pia. Fiquei ali, no escuro, pedindo um sono arrebatador e negando a mim mesma a possibilidade de ir buscá-lo. Só que como nós sabemos, desgraça pouca é bobagem.

Passei meus últimos minutos daquele fatídico dia assistindo não só a Hebe, mas a também loura Carla Perez fantasiada de jacaré cantando músicas infantis! Seguindo a mesma linha, acordei DAQUELE jeito numa quarta-feira de cinzas, derrubei o supracitado controle no chão e por preguiça de esticar o braço, passei a manhã toda aprendendo a fazer bolsas customizadas e cuscuz a paulista com Amanda Françoso.

Essa indolência toda não aparece somente quando estou com sono. Luto diariamente com a preguiça de reduzir a marcha do carro. Valetas, lombadas, curvas... Dou uma franzida na testa esperando o tranco e BUM, a suspensão do carro sofre calada mais uma vez. Após horas no trânsito, percebi que só mudo de estação de radio ou de faixa no cd quando já estou prestes a dar com a cabeça no centro do volante de tanta irritação. Dá um trabalho apertar o botão... E xixi em dia de cerveja? Eu já devo ter passado da fase dos cálculos direto pras equações renais.

Diante de meu quadro clínico, acabei desenvolvendo algumas técnicas para amenizar a repercussão dessa minha fama. Quando o telefone tocar na sua casa e você estiver tragado pelas almofadas do sofá, grite com veemência que não é pra você. Se rebaterem com um “pra mim também, não”, parta para a ameaça escancarada. “Se não for pra mim, vou desligar na cara!”. Duvido que não dê certo.

Família reunida em volta da mesa no domingo. Massa prum lado, as “brajola” pro outro... Ih, esqueceram o guardanapo. Entreolham-se todos se isentando da tarefa. Ao invés de simular um engasgo, erga lentamente um dos lados dos glúteos. A essa altura, alguém já estará de volta e então você diz: “ah, mas eu já estava indo”. Devo lembrá-los de que a desculpa do piriri pra não tirar a mesa não cola mais na casa de ninguém. Ou bem você ajuda com a louça ou fica fazendo companhia pra tia velha que não sabe mais o seu nome.

Apesar do aquecimento global, do bang-bang urbano, da crise aérea e do Paulo Coelho na ABL, o fim do mundo ainda não chegou. Nem o barranco para eu me recostar. A cama chama e infelizmente terei que ir andando ate lá. Daqui a pouquinho, vai...