Wednesday, April 15, 2009

Os Delírios de Consumo de Amélie Poulain

Os e-mails de corrente que vinham com listas das pequenas coisas que fazem a vida valer a pena sempre mencionavam, além do gostoso cheirinho do café "passado" na hora e da Amélie Poulain enfiando a mão no saco de cereais,  a delícia de se achar dinheiro em bolso de roupas. Não sei se sou muito limpa ou muito pobre, mas isso raramente acontece comigo. Principalmente porque agora ninguém mais tem dinheiro, é o bendito do Redeshop, do Visaelectron. Ao invés de moeda de 10 centavos, encontro comprovante do cartão.

Começo a juntar os papeizinhos jurando que vou fazer as contas, ser uma pessoa comedida. Devo poupar dinheiro. R$14,56 no Pão de Açúcar. Cerveja. R$68,00. Brechó. R$89,00. Shoestock. R$73,00. JF Bar. JF Bar? Rua Augusta? Ah, lembrei. R$7,80. Padaria Iolanda. Onde é Padaria Iolanda? Quem é Iolanda? R$37,61. Pão de Açúcar. Cerveja. 

No domingo à noite formo uma bola de bocha feita com os tickets e desisto de fazer as contas. O que os olhos não vêem... Ultimamente, alegando uma irrisória consciência ecológica, tenho rejeitado a segunda via do comprovante, já aviso antes. Eu vou amassar e encontrar uma semana depois, mesmo.

Aquele trocadinho do bolso que ajudava o amigo a inteirar uma gelada no posto de conveniência deu lugar...ao cartão do banco. Camarada tem a cara de pau de passar R$2,80 no cartão e a lojinha paga mais de taxa do que o valor do produto em si. A gente fica mal-acostumado e depois vai até em barraca na praia perguntar se aceitam crédito. O pior é que tem algumas que aceitam. Acho que me viro melhor sem um dos rins do que sem meu Redeshop.

Vira e mexe a rede sai do ar e não posso nem dizer que vou lavar pratos no restaurante porque eles usam uma máquina muito mais eficiente  do que eu. Suo frio até o tal do sistema voltar. O que me faz feliz mesmo é ouvir o apitinho da máquina e a calorosa mensagem: TRANSAÇÃO APROVADA. Ah, as pequenas coisas da vida! 

Sunday, April 05, 2009

Narciso Vernizzi

Daí o cara reclama do vizinho do prédio, que sempre que encontra com alguém no elevador faz questão de comentar sobre o tempo. São Paulo é assim mesmo: as quatro estações do ano num dia só, tem que levar blusa de frio e guarda-chuva pra sair de casa. Impressionante. Se não isso, o cara vai falar o que? Que precisa trocar o óleo do carro ou que o filho está deixando as fraldas?

Puxar papo é uma arte para poucos. Eu mesma sou uma que prefiro ficar calada na frente de desconhecidos a me sujeitar a um vexame desses, mas não é sempre que se tem essa sorte. Sala de espera de pronto-socorro, a velha que devia ser habitué no São Luis, tinha mais nada pra fazer na sexta à noite, se mandou pra lá. Já tinha lido todas as Caras e Quens da semana, achou melhor sondar sobre as enfermidades dos companheiros de sala.

Fulano com gastrite nervosa e a velha especulando: ah, isso aí é briga com a namorada. Homem fica guardando tudo, acaba assim. Olhei pra senhorinha com ares de descrença naquilo tudo que ela dizia e mesmo assim ela começou a contar de seu problema com diverticulite. Se não dava pra ficar quieta, não era melhor falar do tempo?

Na depilação, a mesma coisa. Depois de falar do Big Brother e de algum crime bárbaro da capa da Veja, a mulher não se compadece de sua situação. Quer dizer, não basta você sofrer a cada puxão impiedoso de cêra. Além de sentir dor, é preciso ficar interagindo. Foi pra praia? Ta queimada! Nossa, mas seu biquíni é grande, hein? Olha essa marca... Ela pode estar acostumada, mas não é do meu cotidiano o contato tão íntimo de outrem com a minha virilha, muito menos comentando o caso da Isabela Nardoni.

Deixando o melhor pro final: taxistas. Ah, os taxistas! Sempre com posições políticas amenas e centradas. Não tem jeito, tem que matar todo mundo; Maluf roubou mas construiu a Av. Espraiada. Não se contentam em ouvir meu destino, ligar na Alfa FM e dirigir, precisam interagir com o passageiro.

Um caso verídico é de um motorista que quis fazer sucesso com os jovens que entraram em seu táxi e pôs-se a contar sobre o dia em que saiu do quarto para buscar água no meio da noite e encontrou seu filho enrabando uma cabrita na sala!! Não sei bem o que ele esperava ouvir como resposta. Consta que o silêncio imperou no carro até o fim da viagem.

Antes tivesse falado do tempo maluco.