Tuesday, February 27, 2007

Poupança Bamerindus

Com exceção de Elizabeth "Cleópatra" Taylor que ontem fez 75 anos e parece não ter medido esforços para sua autodestruição (drogas, gordura entupindo suas veias e no mínimo 3 maços de cigarro ao dia), o que se ouve cada vez mais por aí é que envelhecer é cool, que a maturidade é benéfica. Só se for para a agência funerária.

Podem me chamar de exagerada, mas com 22 anos sinto que o auge já passou e estou em pleno decline. Ou então que a ascensão foi demais e a bandalheira toda resultou em desnaturação irreversível. Juscelino prometeu 50 anos em 5. Os meus foram no mínimo 10 em 2. Impressionante.

Se há mesmo vantagens em envelhecer, eu ainda não as fui apresentada. A menos que comprar cerveja no supermercado sem nem mesmo solicitarem minha carteira de identidade seja considerada uma. Essa marca de expressão que ganha cada vez mais destaque em minha testa deve ser mesmo algo louvável.

Depois dos 20 anos você precisa de rumos, emprego, dinheiro, namorado, equilíbrio emocional. Do contrário é tratado como um James Dean contemporâneo (coisa que não acontecia quando tinha 17, por exemplo). Junto com as rugas, lei da gravidade agindo onde bem entende e hormônios pulando como se estivessem na Sapucaí. Emagrecer depois dos 30 é mais improvável que cruzar a mula sem cabeça na Marginal Pinheiros.

As pessoas já não se referem a mim como antigamente:

- Cuidado com a moça, filho!

- Moça? Eu não sou moca, sou menina, essa velha ta falando de mim? Alias, nem é tão velha, deve ter uns quarentinha. E desde quando quarenta nao é velha?

Fazer merda é cada vez mais condenável; vamos ficando mais racionais, não temos mais idade pra essas coisas de moleque.

Os anos 90 já são tratados como outra década qualquer (e não aquela em que você vive). Cheia de ícones da musica, cinema, política... cheia de mofo! Lembra do Nirvana, do Fred Krueger, do começo do Plano Real, do Impeachment do Collor? Agora coçamos a cabeça e lembramos da queda das Torres Gêmeas.

Como brinde pelos meus parcos 22 anos, caro leitor, eu ganhei um justificado e abusivo aumento de 70 reais na mensalidade da academia. Do jeito que as coisas vão, o aumento vai acabar sendo proporcional a minha idade. Que coisa boa, não é mesmo, Brasil?

Wednesday, February 14, 2007

As águas vão rolar

Mal acaba o Reveillon do Faustão e logo a nova mulata Globeleza - alguém percebeu que não é mais a Valéria Valenssa? - surge na tela da tv (no meio desse povo) em “trajes” cada vez menores.

Para os reles mortais é antecipação demais. Para os carnavalescos a coisa começa cedo. Eles precisam escolher qual nome de índia vão repetir no samba-enredo (Ceci, Tainá, Delzuite...), se colocam o Zumbi dos Palmares em cima do carro alegórico ou se reproduzem seu quilombo no chão, mesmo. Em qual ala vão homenagear o Santos Dumont e se o refrão vai ter “ô-ô-ô” ou “ê-ê-ê”. Segundo a análise combinatória feita previamente, ainda teremos mais uns dois ou três carnavais sem que eles precisem apelar pra outros ícones da “folia”.

Aliás, existe termo mais infame do que “folião”? Existe: “brincar” o carnaval. Como se durante os 4 dias virasse todo mundo retardado, decidisse pular feito um chimpanzé epilético e lotasse a 25 de março em busca de fantasias grotescas a troco de nada. Como se brotasse alegria no coração das pessoas e álcool e lança-perfume não tivessem nada a ver com isso.

O povo desce a serra bebendo Kaiser quente e fazendo batuque na lataria do Escort dourado com pára-choque caindo. Criancinhas desvairadas passam os 4 dias manchando a pintura do carro alheio com espumas enlatadas sob os olhos dos pais coniventes (ou bêbados demais pra impedirem). Joga-se confete a esmo pelas ruas como se eles fossem espontaneamente pra lata de lixo depois. Sem contar no cheiro de urina que infesta os arredores da lambança.

Domingo à noite os mais velhos já não seguram o tranco, até que o vizinho bêbado invade a casa lá pelas 23hs, com a lata colada na palma da mão e nem repara que ninguém riu quando ele disse que queria ver a Mangueira entrar (pensando bem, tem um pouquinho de graça, vai!). Depois chega em casa e vai dormir no sofá com o cachorro já que a esposa sensível cansou de ter enjôo por causa do seu hálito alcoólico.

Sem contar aquela outra estirpe, que passa o ano atendendo telefone pra ganhar uma miséria e depois gastar tudo em Salvador – aquela do carnaval democrático em que quem não pode pagar mil reais pra usar uma camiseta horrenda é separado por uma corda e leva cotovelada e sopapo dos seguranças amistosos. O ministro da Cultura, em cima do trio, vestido como se fosse o Nelson Mandela em 1950 cantando “vou enfiar minha língua no céu da sua boca”. Lindo de se ver...

Eu, no entanto, vou passar os 4 dias pulando na piscina, desfilando de carro na avenida vazia de SP e levantando o dedinho pra pedir mais um chopp. Encontrem-me porém, na 4ª. Feira de cinzas, com os olhos atentos na apuração dos votos. O Jamelão não empacota esse ano, mas com certeza vai brigar com o Neguinho da Beija-Flor outra vez.


Monday, February 12, 2007

"O mení, por favor?"

Para quem ainda não sabe, sou formada em Gastronomia, o que no bom português significa que sou cozinheira. Pense o que quiser. Para quem nunca me viu de corpo inteiro, aviso também que adoro comer, mas ao contrario do que a maioria pensa, eu não sou um pé no saco na hora das refeições. Não vou à casa dos outros e saio reclamando do ponto de cozimento da massa nem do tempero do feijão.

Uma vez, inclusive, no aniversario de um querido amigo, sua mãe veio me pedir desculpas porque “estava servindo só aqueles crepes simplezinhos”. Mal sabia ela que eu estava me acotovelando com os outros convidados pela próxima panquequinha: capricha no camarão, hein, colega!

Por outro lado eu não consigo entender certos tipos de pessoas. A começar pelas que pedem o filet bem passado. Não estou pedindo pra ninguém comer seu bife com o boi ainda mugindo, mas quem quer comer carne dura, é melhor que peça logo um lombo de calango do agreste, não é mesmo?

E strogonnof? Sinceramente, não me entra na cabeça como alguém pode julgar esse seu prato preferido! Primeiro que não existe mais uma receita especifica para o grude... Cada um frita a carne que quer, joga qualquer coisa vermelha com consistência de molho e usa o nome russo achando que ta fazendo bonito. Ketchup, creme de leite de caixinha, molho inglês fajuto, arroz empapado, batata palha murcha e a desgraça esta feita. Champignon? Ah, vai sem!

Tem também o drama do molho rose, que serve para cobrir salada de churrasco, servir com rosbife ressecado comprado na rotisserie do bairro, para o spaghetti Adria e já vi gente misturando alho frito e ovinhos de codorna com o supracitado. Suspeito que seja por causa da cor, fulano acha que salmon (??!!) é chique. Antes da espécie do peixe, falar salmon com a boquinha fechada como quem finge falar francês. Haja Ketchup do Senninha na cesta básica, né, pessoal?

Acho o malfadado frango de padaria muito mais interessante, por exemplo. Quebra um galho, vem bem temperadinho e acompanha quase qualquer coisa. Quando vou à churrascaria, sofro serias represálias a começar pelo meu baixo interesse por carnes bovinas. Gosto do buffet de salada, das friturinhas que eles levam na mesa, de FRANGO e principalmente da torta holandesa daquele carrinho que todo mundo tromba quando levanta pra se servir.

Restaurante por quilo é outro antro de gente com mau-gosto. Com toda aquela oferta de alimentos, fulaninho acaba esquecendo que se paga pelo peso final do prato e sai garfando tudo o que vê pela frente. Parte culpa do cliente, parte do cozinheiro: camarão com catupiry (ninguém vê o crustáceo mas finge estar uma delicia); sushi (alguém acredita que uma maçaroca de arroz Camil enrolada em alface crespa possa se assemelhar ao típico japonês?); bife acebolado (pessoal volta atrasado do almoço por causa dele, 30 minutos so pra conseguir mastigar); salada de maionese (com aquela temperatura amena como as areias de Nairobi fica difícil acreditar em bem-estar estomacal depois de mandar aquilo pra dentro).

No final das contas, eu acho que gosto pra comida se discute, sim senhor!

Wednesday, February 07, 2007

Hoje eu acordei com vontade de sofrer

O descontrole emocional não é exclusividade feminina, apesar de a TPM armar uma verdadeira fuzarca nos hormônios da mulherada. A mágoa induzida, por assim dizer, é como os brasileiros da seleção canarinho: com ela não há quem possa. Digo induzida porque não é preciso uma razão aparente pra querer morrer de catapora, muito pelo contrário. Às vezes acordamos assim, com vontade de sofrer, só pra dar uma variada na rotina de gargalhada.

Alugar filme da Meryl Streep é um bom começo, recomendo As Pontes de Madison. Ou então derrubar um vidro de requeijão no chão quando está atrasado pro trabalho – isso aborrece mesmo. Ler Pablo Neruda, passar em frente de favela em dia de chuva, reler e-mail do ex depois do toco, ouvir no surprises do Radiohead (ou lover, you should’ve come over, eu insisto no Jeff Buckley). Qual a necessidade de fazer isso, meu Brasil?

Comece a se preocupar, porém, quando essa mágoa durar mais de 2 dias. A depressão de que falo é passageira e até um pouco fictícia. Eh aquela vontade de cortar os punhos... com faquinha de rocambole Pullman. *Nota da autora: caso o quadro se estenda, vale procurar o psicoterapeuta de confiança!

O motivo, ao contrário do que muitos pensam, não é obrigatoriamente afetivo. Claro, os preteridos, mal-resolvidos etc. devem sofrer do mal com uma freqüência um pouco maior, mas também não vá descontar essa chateação esporádica nos seus fracassos amorosos. Dê-se o direito de passar no Select e comprar junk food superfaturada mesmo tendo que deitar na cama pra conseguir fechar o zíper da calça depois. Mesmo sem saber o porquê.

Falando em calca, aproveite pra colocar aquela sua de moletom azul marinho desbotado, com elástico no tornozelo, afunde a cara no travesseiro, soluce de tanto chorar. Chore assistindo um capitulo de Malhação. Ou melhor, assista Malhação. Lembra da mãe desalmada que jogou a criancinha na Lagoa da Pampulha? Quer motivo melhor pra ficar magoado?

Reveja suas fotos do colegial ou o vídeo do seu aniversario de 7 anos, dê um abraço forte no seu cachorro ou lembre que seu carro esta sem gasolina e que você não tem um puto de um real pra encher o tanque. Ligue pro amigo mais próximo balbuciando palavras sem muito sentido. Ele com certeza já passou por isso. Quando você for ver, quem terá passado será a própria magoa induzida. Só não pense que é pra sempre.