Friday, May 29, 2009

Pão, Pão. Queijo, Queijo

Fim-de-semana na espreita e termômetros em baixa bastam para que os convites para fondue comecem a aparecer. Três graus a menos e tomar uma mísera cerveja gelada com batata frita vira um ato criminoso. Precisa ser vinho com “fundí” e, pelo que vejo, faz muito sucesso. Eu sou contra.

Há uns bons anos, meus pais resolveram levar os três filhos pra comer fondue no restaurante. A expectativa era grande, todo mundo arrumadinho. Depois de muita demora, o garçom veio trazendo a carne, os molhos e o rechaud (richô, NÃO, por favor!).

Meu irmão, com o estômago colado na costas, não teve dúvidas: espetou a carne crua, besuntou de molho e enfiou na boca antes que minha mãe pudesse fazer qualquer coisa.  Eu esperei ela explicar todo o procedimento e concluí “o garçom é um folgado! A gente é que vai ter que ficar cozinhando?”.

O fondue de queijo é mais popular. Precisa de concentração tibetana para espetar o pão sem deixá-lo esfarelar, lembrar da cor do seu garfinho, saber qual é a sua taça de vinho, não deixar o pão cair dentro da panela, manobrar seu garfinho sem atingir a mão de ninguém, não deixar o pão ensopado pingar na sua roupa e não queimar a boca enquanto tenta falar de amenidades debruçado numa mesa com outros sete famintos.

No fim das contas, ninguém conversa durante o jantar. O esforço é tanto, que você já tirou todos os casacos, o vinho já subiu pra cabeça e mesmo bêbado e com calor, você continua com a sensação de que não comeu nada. Quando menos se espera, já abriram a sexta garrafa de vinho e nem se respeita mais a taça de ninguém.

Eis que chega a outra panelinha, cheia de chocolate fumegando, os morangos picados, banana e uva. Tentador. Dona Mamãe, nas poucas vezes em que fez fondue em casa, cortou também quadradinhos de bolo de chocolate. Quem sabe, sabe...

O que eu sei é que o morango, a banana e a uva escorregam no chocolate feito criança em tobogã do Wet’n Wild. Fica tudo no fundo da panela, queimando e grudando. A cena final é a sala do apartamento cheia de pau d’água sujo de vinho e chocolate, bem como a dona da casa, que ainda tem que lavar a louça e a panela queimada. Joga água em tudo e reza pra situação ter melhorado no dia seguinte. 

“Fazer fondue” a dois é uma bela de uma desculpa esfarrapada. Tão eufemístico quanto dizer pro pai que vai a um “churrasco” de faculdade. Com a diferença de que só no primeiro caso vai haver comida (com trocadilho). 

Tuesday, May 19, 2009

Neurose feminina é redundância

Então você conhece o cara e passada a fase do sms, chega a hora do MSN. Quem adiciona quem? Endereço de e-mail tosco tipo bru_ni_nho_sp10@hotmail.com ou fabiomalucao@msn.com perde ponto? Perde. Muitos. Aí você vai lá e adiciona. Mulher de atitude, fibra, dá o primeiro passo. 

Lá está ele, Fábio, offline. Como assim, offline? Segunda-feira, 9:20 da manhã, como é que o cara ta offline? Não trabalha, não? Já sei! Me bloqueou, certeza. E toca entrar no blockstatus.com pra verificar. Hum, ok. Ta offline, mesmo. Mas e se o site não for de confiança? Vai tomar um café, fumar um cigarro que a coisa tá tensa.

Sobe a janelinha do Fábio, você hiperventila. Pára tudo o que está fazendo pra inspecionar os dados do rapaz. Eu não vou falar é nada, já adicionei ele ontem, não tomo mais atitude. Passam-se cinco minutos e nenhum dos dois toma atitude. De acordo com o iTunes habilitado, ele já ouviu umas cinco músicas de que você gosta e o cursor continua intacto. Aparece David Bowie na playlist dele e você não se contêm. É agora. Vou falar que adoro Space Oddity!

O chefe chama. O dedo escorrega desligando o monitor e você finge que presta atenção. Vai anotando palavras sem nexo e enquanto o homem monologa e você faz que sim com a cabeça, a tela do MSN não sai da sua mente. E se ele sair? E se for almoçar? E se ele esquecer que eu sou eu e me deletar e bloquear? O blockstatus não é confiável, eu nem chegarei a ter certeza. Acaba a reunião com o chefe e você corre de volta. 

Ó lá: ferrou, ele tá ausente. Mas será que está ausente mesmo ou só colocou pra ninguém incomodar?  Será que colocou pra EU não incomodar? Bom, mas se bem que agora é 12:30, ele deve ter ido almoçar, se eu mandar mensagem agora, ele não vai responder. Vou ficar ‘ausente’ um pouco, pra não parecer tão viciada. 

Já sei! Ele não deve ter me visto online, vou entrar e sair pra ver se percebe. Na terceira vez que repete o procedimento, sente-se ridícula pois ele deve ter desabilitado os avisos. Ou isso ou ele acha que meus serviços de internet não são lá muito satisfatórios. 

Quatro e quarenta da tarde. Me parece um bom horário, meio da tarde, bem casual.  Casual até é, mas e se ele me achar uma desocupada que não trabalha e fica atazanando os outros? Vou esperar um pouquinho. Às dezoito e vinte e três, você decide que vai puxar assunto. Ó lá. Saiu! Saiu do MSN, o que que eu vou fazer agora?
 

Esta é uma obra de ficção. Qualquer semelhança com nomes, datas e acontecimentos reais terá sido mera coincidência.