Fim-de-semana na espreita e termômetros em baixa bastam para que os convites para fondue comecem a aparecer. Três graus a menos e tomar uma mísera cerveja gelada com batata frita vira um ato criminoso. Precisa ser vinho com “fundí” e, pelo que vejo, faz muito sucesso. Eu sou contra.
Há uns bons anos, meus pais resolveram levar os três filhos pra comer fondue no restaurante. A expectativa era grande, todo mundo arrumadinho. Depois de muita demora, o garçom veio trazendo a carne, os molhos e o rechaud (richô, NÃO, por favor!).
Meu irmão, com o estômago colado na costas, não teve dúvidas: espetou a carne crua, besuntou de molho e enfiou na boca antes que minha mãe pudesse fazer qualquer coisa. Eu esperei ela explicar todo o procedimento e concluí “o garçom é um folgado! A gente é que vai ter que ficar cozinhando?”.
O fondue de queijo é mais popular. Precisa de concentração tibetana para espetar o pão sem deixá-lo esfarelar, lembrar da cor do seu garfinho, saber qual é a sua taça de vinho, não deixar o pão cair dentro da panela, manobrar seu garfinho sem atingir a mão de ninguém, não deixar o pão ensopado pingar na sua roupa e não queimar a boca enquanto tenta falar de amenidades debruçado numa mesa com outros sete famintos.
No fim das contas, ninguém conversa durante o jantar. O esforço é tanto, que você já tirou todos os casacos, o vinho já subiu pra cabeça e mesmo bêbado e com calor, você continua com a sensação de que não comeu nada. Quando menos se espera, já abriram a sexta garrafa de vinho e nem se respeita mais a taça de ninguém.
Eis que chega a outra panelinha, cheia de chocolate fumegando, os morangos picados, banana e uva. Tentador. Dona Mamãe, nas poucas vezes em que fez fondue em casa, cortou também quadradinhos de bolo de chocolate. Quem sabe, sabe...
O que eu sei é que o morango, a banana e a uva escorregam no chocolate feito criança em tobogã do Wet’n Wild. Fica tudo no fundo da panela, queimando e grudando. A cena final é a sala do apartamento cheia de pau d’água sujo de vinho e chocolate, bem como a dona da casa, que ainda tem que lavar a louça e a panela queimada. Joga água em tudo e reza pra situação ter melhorado no dia seguinte.
“Fazer fondue” a dois é uma bela de uma desculpa esfarrapada. Tão eufemístico quanto dizer pro pai que vai a um “churrasco” de faculdade. Com a diferença de que só no primeiro caso vai haver comida (com trocadilho).
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