Tuesday, July 22, 2008

Perigo Constante

Sou a primeira a falar "é mulher" quando alguma calamidade acontece no trânsito dessa ou de qualquer outra cidade. Em Estocolmo, onde ocorre um assalto por ano e até as pombas fazem cocô em local demarcado, as mulheres também dirigem mal, pode acreditar.

Parte é culpa da genética. É fato que o cromossomo Y influencia na hora da pilotagem. Seria injusto da minha parte, contudo, fazer como o mestre e (por que não?) poeta Chorão e isentar essa
"porra de sociedade" do caso. Com dois irmãos homens e mais velhos, em certos casos afirmo com tranqüilidade que ninguém tinha me avisado, quando o assunto é volante.

Quando criança, subia meio a contragosto nos carrinhos de batida (ou bate-bate, como preferir) dos parques e ficava parada tomando porrada dos outros, ignorando os estímulos eufóricos do meu pai, do lado de fora
"Acelera, Silvinha, bate neles!". Depois de ficar encurralada tantas vezes é que me disseram que extersando (olha aí outra palavra que ninguém ensina! Até pouco tempo só conhecia o famoso "desvira") o carrinho pra direita ou esquerda, ele dava ré.

Demorei tanto pra saber dessa que já tinha feito uns doze anos e resolvi me aventurar no mundo do kart. Depois do caso da pobre menina que ficou careca quando o cabelo enroscou no motor, só faltei subir no carrinho com touca de banho de tanto medo.
"Direita acelera, esquerda freia, Silvinha", foquei nas sábias instruções do meu pai antes de me deixar no estacionamento do shopping para a tarde de emoções.

Primeira volta, aquela lambança: devem ter precisado chamar reforços pra resgatar tanta mulher entalada no meio dos pneus de proteção lateral. Eu, entalada no meio dos pneus de proteção lateral, claro, comecei a temer por minha posição no grid e ninguém vinha me salvar. No Mario Kart a nuvenzinha cobrava 2 moedas, mas pelo menos era pontual.

Foi quando lembrei da nem tão remota dica. Afundei o pé direito no acelerador e virava o volante com força para a direita. Tentando bravamente desafiar toda e qualquer lei da física, ouvi um grito.
"Cê tá loca, menina? Pára de acelerar!". Não recebi réplica quando contei do carrinho de batida. Ué, ninguém me falou...

Dois testes práticos no Detran depois, fui orgulhosa encher o tanque do carro com meu próprio dinheiro. Gasolina comum, devo admitir.
"Abre o tanque, querida". Quando o frentista viu minha mão se movendo para abrir a porta do carro e a minha cara de tacho, previu o pior e se adiantou "aperta aquele botão ali, ó". Outra vez, meu irmão desceu do carro para inspecionar o serviço e me pediu para abrir o capô. Ultrajada, não me contive: "abre você que está aí fora, ué".

Pode ser que você mulher, leitora assídua do blog argumente que não aprontou esses vexames e que, inclusive, não dirja mal. Pode ser que se identifique. Mas algum dia, infelizmente, irá endossar meu coro do "
ai, desculpa, eu não sabia" quando a coisa aperta. Ninguém fala de carro com mulher e pimba ... dá nisso! Culpa do sistema. Não sei se do câmbio ou do ABS.

Monday, July 07, 2008

Torpedo

Tem sempre quem reclame. Na época em que as fraldas das crianças eram de pano, as mães reclamavam do rebosteio que era pra lavar. Depois de gastar horas em bondes, ônibus velhos e ruas sem asfalto para chegar no almoço da sogra, a reclamação era geral. Quando demorava meses para se receber notícias de algum parente distante, reclamavam.

Hoje que tem até criança feita de plástico, carro que só falta passar cafézinho enquanto espera no farol e o bendito do celular 3G que permite que qualquer um protagonize a cena da Liv Tyler com a mãozinha no monitor chorando pelo Ben Affleck no Armageddon, continuam reclamando.

Argumentam que com essa modernidade toda, as coisas se resumem ao virtual, ninguém se encontra mais, os relacionamentos estão impessoais. Eu, que sou chegadinha numa impessoalidade, destaco - acima até do e-mail, o sms como o grande facilitador da comunicação atual.

O telefone já era, pessoal. Ficar gastando o gogó na frente de todo mundo é besteira. O e-mail ainda não está disponível no bolso de todos com a mesma facilidade de um celular. Ele dá uma tremida, você vê que chegou mensagem, lê se puder, responde se quiser e fim de "papo".

O sms (short message service) serve pro possível futuro casal trocar recadinhos (des) pretensiosos naquela fase de timidez sem tanto constrangimento e também pra marcar o fim do que não aconteceu, no caso de o outro simplesmente ignorar a mensagem. Um número desconhecido me mandou certa vez "amor, você é a coisa mais importante da minha vida". Ciente do óbvio engano, respondi avisando o remetente. Já imaginou escrever uma vida dessas e não receber resposta? Meses de análise. Quilos de chocolate.

Serve pra extorquir dinheiro do povo, que envia freneticamente os 'torpedos' para programas de televisão em busca de prêmios milionários, como foi o caso de minha amiga Manuella. Quis participar da promoção Notícias da Copa do Faustão e ao invés do Gol zero km na garagem, recebia inoportunos updates do que ocorria com a seleção brasileira de hora em hora. "Ronaldo marca três em treino pré-Croácia". Tudo com o fuso-horário da Alemanha, claro.

Outro dia, feliz da vida, abri o telefone ao ouvir o sinal de sms. Sexta à noite, era algum convite à vista. Baixe agora o ringtone do Créu para o seu celular. Mande mensagem para *147 contendo a palavra créu. Aproveite! Cogitei arremessar o telefone contra a parede. Spam no celular já é demais! Tem sempre quem reclame...




Thursday, July 03, 2008

SPTV

Pouco tempo atrás, dizia com ar de sabedoria milenar que o inverno é uma estação abençoada. As pessoas ficam mais elegantes. Isso vale, é claro, para um país como a França, por exemplo, que conhece bem tanto o calor escaldante quanto o frio que cobre as paisagens com neve. Aqui na terrinha a coisa não é bem assim.

Como ninguém está acostumado com a temperatura cada vez mais perto da barriga de uma cobra, na hora do aperto, salve-se quem puder! É calça de veludo cinza com meia-calça preta e bota marrom. Cachecol listrado com jaqueta florida e gorro azul royal. Luva vermelha, casaco de nylon amarelo e fuseau bege. Depois de algumas horas sacodindo no ônibus, o povo vai perdendo as peças como uma cebola descascada.

Prevenida que sou, há algumas semana vi na previsão a temperatura máxima 16 graus e vesti meu trenchcoat preto rumo ao trabalho. Fui andando pela avenida Paulista com a ilusão e a fleuma de quem apertava passos por Manhattan. Mãos nos bolsos, ombros tensionados e o cabelo esvoaçante. Torcia para encontrar a Ananda Apple em alguma esquina e protagonizar as famosas reportagens do SPTV. O
frio deste início de semana veio para castigar o paulistano. Sorte de quem se preveniu...

Todo santo dia repito o mesmo mantra quando o despertador toca: hoje eu não vou. É sério. Nunca faltei, hoje não vai dar mesmo. Atraso alguns minutos mas o resultado é que eu sempre vou. O mesmo não acontece com a academia, infelizmente. Sempre que posso, cabulo. Podem me oferecer vida eterna, mas trocar cobertor por esteira é coisa de gente doente.

Uma vez sentada de frente pro computador, tentava alcançar o mouse e a manga pesada do casaco cansava meu braço. Sem sistema de aquecimento, óbvio, o escritório estava pouco menos frio que as ruas. Andava pelas baias do escritório com a leveza do Papai Noel distribuindo presentes em dezembro.

Atire o primeiro Dove quem nunca cogitou seriamente postergar o banho por causa do frio. Não estou endossando os franceses, vejam bem. Só não é fácil se despir frente à frente fria que chegou por aqui. Qualquer dia contrato um capanga com uma HK 47 em mãos pra me “incentivar”: chuveiro, madame. Agora.

Por preguiça, deixei o verão passar e não escrevi nada falando mal do suadouro da gente fedida, do espírito libertino que as domina nem da Ananda Apple e suas imagens do povo lambuzado de picolé:
O paulistano faz o que pode para amenizar o calor, mas ele não dá trégua. Confira agora a previsão do tempo...