Wednesday, February 14, 2007

As águas vão rolar

Mal acaba o Reveillon do Faustão e logo a nova mulata Globeleza - alguém percebeu que não é mais a Valéria Valenssa? - surge na tela da tv (no meio desse povo) em “trajes” cada vez menores.

Para os reles mortais é antecipação demais. Para os carnavalescos a coisa começa cedo. Eles precisam escolher qual nome de índia vão repetir no samba-enredo (Ceci, Tainá, Delzuite...), se colocam o Zumbi dos Palmares em cima do carro alegórico ou se reproduzem seu quilombo no chão, mesmo. Em qual ala vão homenagear o Santos Dumont e se o refrão vai ter “ô-ô-ô” ou “ê-ê-ê”. Segundo a análise combinatória feita previamente, ainda teremos mais uns dois ou três carnavais sem que eles precisem apelar pra outros ícones da “folia”.

Aliás, existe termo mais infame do que “folião”? Existe: “brincar” o carnaval. Como se durante os 4 dias virasse todo mundo retardado, decidisse pular feito um chimpanzé epilético e lotasse a 25 de março em busca de fantasias grotescas a troco de nada. Como se brotasse alegria no coração das pessoas e álcool e lança-perfume não tivessem nada a ver com isso.

O povo desce a serra bebendo Kaiser quente e fazendo batuque na lataria do Escort dourado com pára-choque caindo. Criancinhas desvairadas passam os 4 dias manchando a pintura do carro alheio com espumas enlatadas sob os olhos dos pais coniventes (ou bêbados demais pra impedirem). Joga-se confete a esmo pelas ruas como se eles fossem espontaneamente pra lata de lixo depois. Sem contar no cheiro de urina que infesta os arredores da lambança.

Domingo à noite os mais velhos já não seguram o tranco, até que o vizinho bêbado invade a casa lá pelas 23hs, com a lata colada na palma da mão e nem repara que ninguém riu quando ele disse que queria ver a Mangueira entrar (pensando bem, tem um pouquinho de graça, vai!). Depois chega em casa e vai dormir no sofá com o cachorro já que a esposa sensível cansou de ter enjôo por causa do seu hálito alcoólico.

Sem contar aquela outra estirpe, que passa o ano atendendo telefone pra ganhar uma miséria e depois gastar tudo em Salvador – aquela do carnaval democrático em que quem não pode pagar mil reais pra usar uma camiseta horrenda é separado por uma corda e leva cotovelada e sopapo dos seguranças amistosos. O ministro da Cultura, em cima do trio, vestido como se fosse o Nelson Mandela em 1950 cantando “vou enfiar minha língua no céu da sua boca”. Lindo de se ver...

Eu, no entanto, vou passar os 4 dias pulando na piscina, desfilando de carro na avenida vazia de SP e levantando o dedinho pra pedir mais um chopp. Encontrem-me porém, na 4ª. Feira de cinzas, com os olhos atentos na apuração dos votos. O Jamelão não empacota esse ano, mas com certeza vai brigar com o Neguinho da Beija-Flor outra vez.


2 comments:

Fernando said...

Seu texto foi como um desfile campeão. Ótimo abre-alas, correu sem pressa. Alegorias e adereços perfeitos e no final: apoteose!

Nota: déiiishhh!

Anonymous said...

o Jamelão quase q empacota (tb, 100 anos!) e o Neguinho é só sorrisos!!!
Boas previsões...

rs