Sunday, April 05, 2009

Narciso Vernizzi

Daí o cara reclama do vizinho do prédio, que sempre que encontra com alguém no elevador faz questão de comentar sobre o tempo. São Paulo é assim mesmo: as quatro estações do ano num dia só, tem que levar blusa de frio e guarda-chuva pra sair de casa. Impressionante. Se não isso, o cara vai falar o que? Que precisa trocar o óleo do carro ou que o filho está deixando as fraldas?

Puxar papo é uma arte para poucos. Eu mesma sou uma que prefiro ficar calada na frente de desconhecidos a me sujeitar a um vexame desses, mas não é sempre que se tem essa sorte. Sala de espera de pronto-socorro, a velha que devia ser habitué no São Luis, tinha mais nada pra fazer na sexta à noite, se mandou pra lá. Já tinha lido todas as Caras e Quens da semana, achou melhor sondar sobre as enfermidades dos companheiros de sala.

Fulano com gastrite nervosa e a velha especulando: ah, isso aí é briga com a namorada. Homem fica guardando tudo, acaba assim. Olhei pra senhorinha com ares de descrença naquilo tudo que ela dizia e mesmo assim ela começou a contar de seu problema com diverticulite. Se não dava pra ficar quieta, não era melhor falar do tempo?

Na depilação, a mesma coisa. Depois de falar do Big Brother e de algum crime bárbaro da capa da Veja, a mulher não se compadece de sua situação. Quer dizer, não basta você sofrer a cada puxão impiedoso de cêra. Além de sentir dor, é preciso ficar interagindo. Foi pra praia? Ta queimada! Nossa, mas seu biquíni é grande, hein? Olha essa marca... Ela pode estar acostumada, mas não é do meu cotidiano o contato tão íntimo de outrem com a minha virilha, muito menos comentando o caso da Isabela Nardoni.

Deixando o melhor pro final: taxistas. Ah, os taxistas! Sempre com posições políticas amenas e centradas. Não tem jeito, tem que matar todo mundo; Maluf roubou mas construiu a Av. Espraiada. Não se contentam em ouvir meu destino, ligar na Alfa FM e dirigir, precisam interagir com o passageiro.

Um caso verídico é de um motorista que quis fazer sucesso com os jovens que entraram em seu táxi e pôs-se a contar sobre o dia em que saiu do quarto para buscar água no meio da noite e encontrou seu filho enrabando uma cabrita na sala!! Não sei bem o que ele esperava ouvir como resposta. Consta que o silêncio imperou no carro até o fim da viagem.

Antes tivesse falado do tempo maluco. 

1 comment:

Fernando said...

procede a história da cabrita??? hahaha...

puxar papo é mesmo uma arte, e como tal, sempre tem um pentelho que se acha o picasso e desanda a falar.