Dizem que podemos encontrar nossa alma-gêmea, cara-metade ou qualquer outro nome de banda de pagode que sirva para definir o amor verdadeiro (a metade da laranja como diz o Fábio Sênior) em qualquer lugar.
Eu encontrei a minha num restaurante por quilo da rua Augusta. Vegetariano, devo dizer. Simples e arrumadinho, a comida gostosa, clima tranquilo e fui eu com a minha bandeja me servir. Olhei para frente e lá estava ele.
Cenoura, alface, grão de bico, ricota, espinafre e spaghetti integral ao funghi. Ele parou a fila no spaghetti ao funghi e não se constrangeu em encher seu prato. Ele já tinha se tornado a minha alma-gêmea antes mesmo de se servir. Cabelo bonito, calça jeans, blazer de veludo marrom (e eu nem gosto de marrom!). Ele nem precisava ter colocado gelo no copo e alcançado uma lata de coca light no fundo da geladeira. Mas ele alcançou.
A cada 'obrigado' que ele dizia aos funcionários eu tinha mais certeza. Era ele. Sábia canção do Fábio! Por coinciência sentamos em mesas diferentes, virados um de frente pro outro. Eu olhava sem graça, desviava o olhar como quem não quer dar bandeira. Na minha cabeça, quase formava a imagem do vestido de noiva, da cor do sofá da nossa casa, da raça do cachorro que compraríamos.
E entre esses olhares, essas imagens, veio o ponto alto. Empunhando garfo e faca ele, o amor da minha vida, fatiou o spaghetti com requintes de crueldade. Frio e calculista, como o Coronel Mostarda na sala de música com o Candelabro. E o grande amor que encontrei no restaurante foi pro vinagre.
Esta é uma obra de ficção. Qualquer semelhança com nomes, datas e acontecimentos reais terá sido mera coincidência.
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