Tuesday, March 17, 2009

Desencapetamento celular

Na impossibilidade de existir um famigerado Capitão Nascimento em cada esquina desse país, o medo entre os brasileiros vem crescendo em progressão aritmética (sabendo Deus apenas como se calcula isso).

Uns têm medo do BOPE e do Caveirão, outros do traficante, dos maconheiros discípulos de Bob Marley que podem invariavelmente ter um súbito de violência e agredir velhos na rua em busca de um pastel de feira no domingo de manhã.

Ainda deve haver gente com medo dos comunistas vermelhos comedores de criancinhas, da tríade Fidel-Hugo-Evo e, é claro, do Bush. Os tementes do poder do Satanás e todas as complicações que ele pode vir a causar estão lotando os templos sagrados administrados por Edir Macedo e adjacências.

Paúra, em italiano, aquele verdadeiro cagaço de ir buscar um copo d’água no escuro no meio da madrugada também existe. Medo desses Paulos Autran que esqueceram de morrer, de gente morta. Eu mesma tenho medo de célula morta.

Elas morrem todos os dias, aos montes, como uma faxina étnica. Um verdadeiro Holocausto silencioso. Para me prevenir, adquiri cremes esfoliantes de todas as sortes, cheiros e preços. Vou esfregando aquilo pelo corpo todo, até me confundo. Lembro da música que aprendi no Maternal: cabeça, ombro, joelho e pé. Joelho e pé. 

Ao final do processo, não sei se me livrei das células mortas ou se arranquei minha derme. Vale tudo na hora de exorcizar os demônios. 

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