Friday, May 25, 2007

Aceito

Eu não quero casar, né, mas se quisesse não seria na igreja de jeito nenhum. Provavelmente num salão estilo clássico e à noite, com mini lâmpadas (estilo de Natal) iluminando os lírios. Nem eu nem o noivo vestiríamos branco. Eu pra não engordar e ele (que seria bem magro) pra não parecer um filhote desgarrado do Cartola ou do Carlos Cachaça.

Não serviria jantar formal, mas dezenas de petisquinhos pras pessoas comerem em pé, sem nem terem que parar de dançar ou de conversar. Prosecco a rodo. Seria na primavera, perto de outubro, quando o clima é ameno – a maquiagem das moças não derrete com o calor e ninguém morre de frio com vestido de alcinha. A gravata nos homens não seria obrigatória, mas tênis já é abuso.

Não importa quantas delas passem a existir até lá, crianças não seriam bem-vindas, enviaria um vale-nanny junto com o convite. Eu sei que existem as boazinhas, mas perto de 1 da manhã elas estariam fazendo guerra com os doces ou ocupando 3 cadeiras dormindo, então, por que levar? Daminhas de honra além de desnecessárias e chatas, são cafonas.

A aliança seria de ouro branco e muitíssimo discreta. Ouro amarelo é coisa de novo rico. O uso de azul royal ou turquesa seria terminantemente proibido, sob pena de cassação da peça de roupa. Os coques “bolo fofo” e os cachinhos caídos ao lado da franja estariam permitidos, afinal, de quem eu iria rir no vídeo da festa depois?

Sob hipótese alguma eu contrataria uma banda, nem que fosse a do Dave Matthews. Fora os nomes e o figurino de gosto duvidoso, eles têm que parar pra tomar água, tocam o famigerado forró do nosso Ministro da Cultura e outras baixarias. Ao contrário do que dizem, a festa não seria pros convidados, não. Foi porque quis. Eu escolheria o repertorio música por música.

Fiquem tranqüilos, se essa festa fosse ocorrer, eu manteria o Whisk A Go-Go, o biquíni de bolinha amarelinho e o Tim Maia, afinal, ele não queria dinheiro, só amar, coitado. Contrataria uns tiozões daqueles típicos, para beberem e dar vexame, na minha família são todos muito contidos, não iria ter tanta graça. Sofreria uma verdadeira síncope nervosa na hora de escolher os padrinhos e ao final, todos os candidatos seriam compreensivos e amistosos independentemente da minha decisão.

Se eu fosse casar de papel passado, tocaria a marcha nupcial, sim. Porque é bonita, não porque é tradição. E aproveitando para quebrá-la, complementaria a trilha sonora do altar com Can’t Help falling In Love do Elvis, God Only Knows dos Beach Boys, It Had to Be You na voz do Frank e Here, There and Everywhere dos Beatles. Até lá os Strokes teriam gravado algo compatível e eu também pediria pra tocar. Se meu marido discordasse não poderia ser meu marido, infelizmente.

Perucas, óculos, chapéus coloridos e outras bizarrices também fariam parte da festa. Somente se ela fosse realizada num hospital psiquiátrico e eu fosse uma interna. Os convidados dos casamentos ficam bêbados e/ou felizes, eles não adquirem nenhum tipo de retardo mental após ouvirem o “sim” dos noivos.

Antes disso, porém, teria o momento dos votos, igual casamento americano. O noivo tiraria o papelzinho do paletó e eu faria o discurso de cor, após ter ensaiado por semanas. Eu iria chorar, ele não. Mas eu pararia rápido e começaria a rir olhando a maquiagem borrada de toda a ala feminina da minha família mais o meu pai.

Como me é de hábito, trocaria de sapato assim que meus pés ameaçassem começar a doer e a barra do vestido ficaria imunda sem que eu me importasse com isso. Na hora de jogar o buquê haveria uma disputa acirrada e a mais merecedora conquistaria esperança de se casar em breve.
A festa duraria até 6 da manhã e táxis esperariam os bêbados para que eles não voltassem para casa dirigindo. Sobrariam dezenas de bem-casados e eu iria para o hotel cantando Jamiroquai e comendo, aumentando o volume com o dedo sujo de doce de leite sem represálias do então marido. Eu finalmente tomaria Veuve Clicquot à vontade e acordaria sem dor de cabeça no dia seguinte.

Após voltar da lua-de-mel em Praga com escala em NY, receberia telefonemas seguidos, agradecendo e dando os parabéns pela festa maravilhosa. Com o passar de algumas semanas nossos 2 cachorros já teriam se acostumado com o apartamento de cozinha grande e com o chão de taquinhos de madeira. Sentada no sofá gigante da sala, eu reveria as fotos da festa com saudades e daria um suspiro satisfeito.

Isso se eu quisesse casar, é claro.

5 comments:

Anonymous said...

Muito bom... MESMO! rsrs
Se eu quisesse casar também seria parecido com isso!
(tirando a parte de trocar de sapatos e de tênis não serem permitidos)

hehehe!

Anonymous said...

Porra Sil, casa vai!

Anonymous said...

Até que vc deu boas idéias para o meu casamento, por que eu quero casar!!!

Beijos!

Anonymous said...

Sil,

Ainda levo esse textinho impresso no dia do seu casamento cheio de partes grifadas no marca-texto de cor mais gritante do planeta.
Conte também, com a minha leitura em voz alta após bater com a faquinha na taça de cristal. Mas isso, só depois de algumas tacinhas de prosecco, é claro.
Afinal, com um amigo como eu, pra que contratar tiozões pra darem vexame?

Anonymous said...

Silvinha!!!!

Ainda to procurando o noivo pra vc...mas enquanto isso, que venham as festas de solteirisse e os bem solteiros!