Monday, May 07, 2007

Paranóia Delirante

Eu não sei ao certo, mas além da menstruação receio que essa seja mais uma exclusividade de mulher. A exclusividade de ter paranóias. Não paranóia patológica, que precisa ser tratada com tarja preta e psiquiatra 5 vezes na semana. Aquela paranóia com a aparência, com o excesso (ou a falta de) valor que dá a si mesma quando os relacionamentos vão bem ou mal. A que precisa ser resolvida com umas 5 horas de conversa com amigos – embora queira, na verdade, a cartela de tarja preta.

Mesmo lendo horóscopo, fazendo mapa astral, jogando búzios, simpatia e promessa pra Santo Antonio (aquele, o casamenteiro), mulher não entende que os fatos não precisam de um motivo para (não) acontecer. Não acreditam no acaso e, por incrível que pareça, nem no desconhecido. As malditas discussões de relacionamento nada mais são do que uma demonstração disso. O namorado só ligou uma vez a tarde, é verdade. Mas não porque não a ama nem porque tem outra.

Tem mulher que faz planejamento semanal de roupa e se o encontro no fim de semana não for bem sucedido, a culpa é do guarda-roupa defasado. Fica de olho no cara a noite inteira e se no fim das contas ele não pedir o telefone, só pode ter sido por causa da lasca do esmalte vermelho no dedo indicador. Ficou segurando o copo, com certeza ele viu e achou que ela é mal-cuidada.

Fica na expectativa – eu, uma incurável e ansiosa doentia, digo que criar expectativa está no top 5 das desgraças sentimentais – imaginando que aquele amigo do amigo vai agarrá-la na primeira oportunidade, que vão passar a noite juntos e que ele vai dizer que só demorou pra agir porque é envergonhado.

O agarrão sorrateiro deu lugar para um abraço amistoso, aquela conversa besta de começo de noite seguida do famoso “vou ali com os meus amigos”. Ai pronto. A culpa é da roupa. Falei pra fulana que eu ficava parecendo vagabunda com esse vestido tão curto. Devia ter posto o outro, com o sapato mais alto, ele deve ser do tipo que gosta de mulher de salto alto, de cabelo enrolado. Por que eu passei chapinha? O ondulado ia ficar mais bonito, ele deve preferir cabelo natural.

Ou será que foi a cerveja? Ah, pode ser, só o vi tomando um whiskey a noite inteira, ele não gosta de mulher que bebe. Ou então me achou gorda. Homem pega mulher feia, mas feia e magra. Só posso ser gorda, será que fiquei mais gorda com esse vestido?

Mulher não entende que a lasca do esmalte, a cor do sapato, o cabelo curto ou comprido, enrolado ou loiro não influencia. O fato é que não rolou. Ele não estava com outra, não te achou chata, carente, nem mal amada. Se te achasse gorda e quisesse te pegar, pegaria mesmo assim. Não está se fazendo de difícil, não é um cafajeste, um babaca esquisito, um partidor de corações cosmopolita. Pode ser que você mereça alguém muitíssimo parecido com ele, ao contrário do que suas amigas vão lhe dizer.

Sua conversa não é precipitada demais, seus amigos não são desagradáveis, seu gosto pra filmes não é comercial demais, seu senso de humor é apropriado, você não é burra, pelo amor de deus! Ele simplesmente não quis te beijar e isso definitivamente não precisa de um motivo. De uma vez por todas.

1 comment:

Unknown said...

Silvinha, excelente!

Beijos