Wednesday, May 09, 2007

Dia das Mães parte 2

Embora nunca tenha negado e nenhum leitor se oposto ao fato, corro com as linhas abaixo o risco de parecer pretensiosa. Sigo em frente, então, ou melhor, volto para relembrar alguns momentos que me ajudem a lhe convencer por que a minha mãe é melhor.

Todo filho que se preze (excluo as Suzanes da vida) vai dizer que a sua mãe é a melhor. Evidente, é um amor físico, ficamos muito tempo dependendo dela. Mas eu não. Se não fosse filha dela, acho que ia achá-la a melhor mãe do mundo mesmo assim. Ou pelo menos uma mulher genial de quem eu gostaria de ser filha.

Essa minha devoção não tem a ver com a gratidão que eu tenho por ela ter chamado de filha uma criatura careca, cabeçuda, amarelada com olho vermelho por causa da icterícia. Deve ter sido assustador, mas continua não sendo o bastante. Porque cuidar dos seus filhos – problemáticos ou não – a maioria das mães faz e faz muito bem. Só que a minha faz melhor.

Freud culpou a sua por todos os problemas que lhe aconteceram e eu poderia seguir o exemplo dele se minha mãe não tivesse me mostrado ao longo dos anos que o mundo não espera que eu os resolva. E que mesmo tendo um olhar crítico, exigente e ferrenho sobre o mundo, fazer drama nunca levou ninguém a lugar algum.

Isso não significa, contudo, que ela não saiba confortar alguém desesperado. Significa que somente ela sabe abraçar e fazer uma leve pressão no peito de quem chora para ela parar de chorar. Digo que ela é melhor não porque ela cuidou de nós 3, trabalhava o dia inteiro, assoviava e chupava cana, mas porque ela nunca fez disso um fardo. E se fez, nunca demonstrou.

Sinto muito, mas nenhuma outra vai conseguir ensinar como é bom ter e ser irmão de alguém – não só os com parentesco, mas todos os nossos amigos que ela acolheu como filhos ao longo dos anos. E com isso eu não quero ofender mãe nenhuma, não me entendam mal. Inclusive porque Dona Leda não precisa disso. Low-profile nata, ela se faz notar com o menor dos esforços. No entanto, ela se esforça. Perfeccionista daquelas que não incomoda porque ela vai acabar conseguindo, não adianta discutir.

E mesmo sem precisar se impor perante os outros, ela dá a cara a tapa – no fundo deve saber de tudo isso. Então ela faz projeto de casa na praia, móvel pra TV, costura e desenha modelos de vestido, decora casas, tosa cachorros, melhora TCC dos outros, tira fotos, escreve e discute literatura, política, toca piano, corta cabelo, faz a melhor maquiagem pra festas, cozinha impecavelmente e improvisa sobremesas. Escolheu a enfermagem como profissão, todavia.

Não disse que ela é perfeita porque gente perfeita cansa – alem de não existir, é claro. E se tem uma coisa que a minha mãe não gosta (na verdade tem muitas) é de gente cansativa e normal. Apesar de chegar a duvidar algumas vezes de que ela existe e de que dorme no quarto ao lado, eu lembro que ela é concreta toda vez que aumento o tom e canto uma musica.

Nesse momento eu percebo que ela não tem o menor talento nem voz para cantar; nem ela nem eu. E que isso nunca nos impediu de continuar cantando. Carregando essa herança de pequena imperfeição dela, penso que valeu a pena cada maldita vez que eu quis que ela desaparecesse. Se não tivesse essa voz esganiçada e essa vontade latente de querer fazer tudo do meu jeito – e sempre o melhor jeito, eu não seria filha da dona Leda. E então nada me teria valido a pena até agora.

Peço desculpas novamente se pareço pedante ou se menosprezo a mãe alheia, nesse caso é necessário. Minha mãe não é pedante, garanto. Inclusive ela vai me perguntar por que diabos eu escrevi tudo isso se algum dia chegar a ler. E eu vou responder que não sei. Mas na verdade eu sei, só não vou falar em voz alta porque levaria muito tempo. E por causa da voz.

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