Monday, May 14, 2007

Maluco Beleza

Não tenho vergonha de dizer que fiz faculdade de Gastronomia. O constrangimento fica por conta de toda a atmosfera que envolve a profissão, ou seja, comida. Ah, então quer dizer que você é chef, né? E ai, quando vai fazer um jantar pra mim? E filé ao molho madeira, sabe fazer? Então, minha receita de torta de frango leva margarina na massa, usar manteiga é melhor?

As duvidas e sugestões eu atendo com o maior prazer, mas na hora de marcar um almoço ou jantar, a resposta é sempre a mesma: é só combinar. Fulano que eu não vejo há anos me pedindo pra fazer comida pra ele? E você? Te conheci há 1 hora, ta pensando o que? Médicos devem sofrer do mesmo problema, dando pseudo consultas em lugares estapafúrdios como filas de supermercado. No entanto, a profissão de quem eu mais me compadeço nesse quesito é a do dj.

Até muito pouco tempo não existia faculdade de djs. Hoje quem quiser se tornar um pode estudar por 2 anos. Os old school contam com o talento próprio seja para a mixagem ou para o repertório. Pesquisa, estuda, treina, dá a cara a tapa na hora de tocar. Tem os que tocam bem, mal, com disco, cd ou computador. Os amadores, os antológicos, os que viraram celebridade e os mais modestos. Nenhum deles gosta de ouvir pedido de música durante o set.

Pode acreditar. Uns não ligam, outros fingem que gostam. Bem ou mal é o trabalho deles e se você não diz ao seu medico que tipo de linha você quer que ele use enquanto sutura sua mão, se você não diz ao arquiteto para tirar algumas vigas da casa em construção, você não pede música ao dj.

Nem se for seu aniversario, nem se ele for seu amigo, nem se for seu casamento. Se ele for um contratado seu, combine a playlist antes do evento. Tem sempre o bêbado que interrompe, tropeça no case e apóia o copo do lado do mixer. Não faça isso, caro leitor. Nem que sua vida dependa da Madonna no meio de uma rave de psy.

Pode ser que o dj goste da musica que você pediu, inclusive que vá toca-la, mas se ele não fosse responsável pelo repertorio e pelo momento certo de tocar as musicas, colocaríamos uma jukebox no lugar das pick-ups e estaria tudo resolvido. Eu sou xiita nesse aspecto, sim senhor. E tambem já pedi musica uma vez, todo mundo tem lapso no caráter uma vez – ou algumas - na vida. Essa é, portanto, uma campanha anti-pedidos.

Pagando o dinheiro da entrada do club, rave ou quermesse de interior, você chegou a pagar também uma pequena porcentagem do cachê do dj. E a menos que você tenha sido amordaçado, significa que você esta lá porque quer. E se você não gosta da musica, pode tanto não ir ao local quanto ir embora ao menor sinal de tédio.

Caso não lhe seja cômodo escolher uma festa com musicas que lhe agradem e você realmente acha que seus dons para ser dj são mesmo evidentes, faça uma festa você. Chame seus amigos, escolha um lugar legal e toca a musica que você quiser. E se aparecer alguém gritando TOCA RAUL, tente responder pacientemente que você não trouxe o disco dele.

1 comment:

Ants said...

Na qualidade de DJ completamente amador, não me sinto no direito de me melindrar com pedidos de músicas. Mas, claro, sinto-me no direito pleno de rir da cara de alguém que me pede Abba no meio de um set de electro rock. Do lado oposto das pick-ups, confesso uma cafonice minha: qdo eu gosto muito de uma música que está tocando e não sei o nome, vou na cara dura perguntar pro DJ qual é, pra poder baixar assim que chegar em casa.