Gostaria de cumprimentar pessoalmente o infeliz cidadão que proferiu - e, pior, difundiu - a teoria de que brasileiro adora uma fila. Deve ter sido o mesmo tipo de gente que assiste Jornal Nacional, só ouve desgraça sobre o País e depois comenta que nasceu no lugar errado, devia ser europeu. Ah, já eu, não. Me contento com Guarulhos, ou quem sabe com Vigário Geral... Voltando às filas, o que acontece mesmo é que brasileiro se acostumou com elas, o que é bem diferente. Acostumou com protocolos, a resolver uns pepinos no banco, a dar entrada na papelada toda do cartório. A chamada burocracia que ninguém sabe de verdade o que significa, muito menos eu.
Deve ter burocracia e filas em outras partes do mundo, quem já pediu visto para os EUA e depois tentou brincar na Splash Mountain num dia quente de julho sabe bem. Posto que haja filas em todo o mundo e que a diferença esteja apenas nos formadores das filas (os bancos, não. As pessoas), vamos nos conformar com o fato. Há, no entanto, quem lide melhor com as "bichas", como diriam os portugueses. O George Michael é talvez o mais notório deles. Ok, não teve graça.
É sério. Ao entrar resignado e pessimista numa fila, as chances de irritação são menores, acreditem. Em banheiro feminino de shopping aos sábados, calcule uns 5 minutos por cabeça com escova e note que você não vai se decepcionar tanto com a demora. Para homens o cálculo é, com folga, de 30 segundos. No caso de banco, analise a quantidade de papéis que a pessoa carrega, a idade (os idosos demoram sempre) e se demonstra impaciência. A mesma Lei de Murphy que faz a faixa de trânsito ao lado andar sempre mais rápido que a sua, colabora para que o mais impaciente seja atendido pelo funcionário mal-humorado e a desgraça está feita.
Não adianta reclamar, gente. Ai, mas só vão deixar 2 caixas abertos?, esse calor de matar, esse lugar não respeita os clientes, não volto mais aqui, psiu! Mocinhaaa, dá pra ser ou tá difícil?. Nada disso vai fazer a fila andar mais rápido. A menos que você precise enfrentar o INSS, enfie a mão no bolso e imagine que ganhou na megasena, juro que distrai. Deve ser por isso que o Brasil não vai pra frente, ninguém se mexe para mudar o fato, concordo. Mas ali, de pé, suando mais que lutador de sumô em Goiás, a última coisa que eu quero é ouvir resmungos do alheio.
Também não gosto de puxar papo. A situação por si só já é desagradável e eu realmente não preciso dividir minhas impressões do momento com um desconhecido. Não me interessa se ele ainda tem que ir a mais 3 bancos, se o filho está no carro esperando, se o shopping deveria dispor de mais caixas para pagar o estacionamento nem muito menos se a Zara resolveu vender camisetinhas a preço de banana. Lide com o fato por conta própria.
Depois que ouvi de uma pessoa muito próxima que eu parecia fazer questão de me mostrar entediada, passei a distribuir mais sorrisos a esmo e isso me causa prejuízos até hoje. Como num jogo da última Copa em que eu simplesmente parei no supermercado para comprar 2 caixas de cerveja e me dirigi ao caixa rápido - só 1 estava aberto. A senhora atrás de mim pôs-se a falar do Ronaldinho, da escalação equivocada do Parreira, do presunto Seara em promoção e de sua amiga que lhe esperava em casa.
Muitos aaah, huuuum, nossa, que coisa desta que vos escreve depois, a mulher criou intimidade. Enquanto eu guardava o troco na carteira e pedia para a caixa jogar a notinha no lixo, ela veio sorrateira me pedir para que eu a ajudasse a levar as coisas até o carro. Tá aqui pertinho, ó, é pouquinha coisa. Com mais uns 3 ou 4 clientes atrás, esperando para ver minha reação, dei talvez o sorriso mais falso de toda a minha carreira (eu sou atriz nas horas vagas) e concordei. Fui com as minhas compras e metade das dela em direção ao Corsa verde-musgo da usurpadora de jovens consumidoras de cerveja e bolinhas de amendoim.
Fila não é lugar de fazer amizade, mas as mocinhas mezzo ou totalmente bêbadas dos bares e clubes da cidade discordam de mim. Na realidade, até eu quando me encaixo no grupo das mezzo bêbadas discordo de mim mesma. Aqueles minutos esperando a sua vez para ir ao banheiro são, de fato, muito intensos. Uma segurando a porta da cabine para a outra, emprestando elásticos de cabelo, gloss e às vezes um ombro amigo em casos de decepção com o sexo oposto (juro que já me aconteceu!). Na hora da volta pra pista ninguém se lembra mais das comparsas de sanitário.
Pegar fila é como limpar banheiro. Horrível mas precisa fazer. Usando luva de borracha, o produto adequado e cantarolando a música certa, não é tão letal. Ficando quieto, paciente e não pegando a vez do outro, você está na fila certa.
Monday, April 02, 2007
Subscribe to:
Post Comments (Atom)
1 comment:
Utsa que la Páscoa hein Dona Sílvia!!! Eu um dia patenteio o celular que precisa de bafometro pra destravar o teclado... Tenho o mesmo problema que você! Beijo e convalesça
Post a Comment