Wednesday, April 11, 2007

Hamlet

Dona Mamãe, num súbito de criatividade, copiou Dona Vovó e me deu o nome de sua irmã: Silvia Maria. Sem acento. É errado, já me disseram – inclusive, na 5ª. serie, minha professora de gramática só parou de me descontar um décimo nas provas quando levei meu RG provando que o erro não era meu. Com duas Silvia Maria na família, a confusão eminente teve uma solução óbvia. Eu virei a Silvinha.

Quando voltávamos para casa de perua escolar, falavam: Caio, João Paulo e Silvinha Piccolo e então sabíamos que era hora de pegar a lancheira e saltar do busão. Meus amiguinhos me chamavam da mesma forma, e mesmo tendo 3 anos de idade e sendo todos eles “inhos” de tamanho, eu não me referia a ninguém como Luisinha, Rodriguinho ou Camilinha. A diminuta sempre fui eu.

Na natação, era a menor da turma. Aos 9 anos dividia a raia com um pirulão de 16 e 1,75m, “Silvinha, você nada com o Ricardo”. Cada braçada de borboleta dele era um pescotapa em mim. No inglês, a japinha um pouco passada da adolescência que me dava aula ia conforme os outros. Mais ou menos na mesma época, finalmente, conheci uma Paulinha. Que na verdade é Paulinha porque tinha outra Paula (a Paulona) na mesma turma, ninguém queria confundir. Eu, não. Nunca conheci outra Silvia da mesma faixa-etária do que eu.

E ai que mesmo sendo a única Silvinha, eu nunca soube direito quem eu era. Os novos professores (e não mais as “tias”) me chamavam de Silvia. E punham o acento. Os novos amigos também. E não punham o acento. Os velhos amigos me chamavam de Silvinha e eu me tornei as duas coisas. A Silvia e a Silvinha. Silvia Maria eu nunca fui nem nunca vou ser, sinto muito.

Então, quando ligam na minha casa e perguntam com quem estão falando, eu fico em duvida. Certa vez minha prima me fez a pergunta e eu sem reconhecer a voz, respondi “Silvia”, cheia de formalidade. Já pro marceneiro querendo passar o orcamento, disse que era a Silvinha e o homem meio desconcertado falou “então, Silvinha, avisa o sr. Luiz que vai custar tanto.” É uma seriíssima crise de identidade.

Maria (da Gloria), mesmo trabalhando aqui em casa há anos, ao receber a ligação da farmácia de manipulação com os remédios para a Silvia, achou tudo muito estranho. Silvia? Aqui não tem nenhuma Silvia. E passou o numero da minha tia, que apesar de ser Silvia não tinha encomendado remédio nenhum.

Meu nome é de velha eu sei, como já disse ai em cima, nunca conheci nenhuma Silvia com menos de 35 anos. Mas e quando eu ficar velha, decrépita, da espessura de um barril de melaço do Pica-Pau, as pessoas vão continuar a me chamar de Silvinha mesmo sendo velha e gorda? Ou será que me tornarei a Dona Silvinha? Ou finalmente Silvia?

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