Tuesday, April 17, 2007

Formandos 2007

A formanda (que podemos muito bem chamar de Fernanda porque rima e é um nome comum) vestia azul royal. Virou uma tradição nos bailes de formatura. Ultimamente a cor reina absoluta entre formandas, suas mães e as convidadas. Pouco importa se ela não favorece nem a Heidi Klum, o que vale mesmo é ter destaque na festa.

Claro, o pai começou a pagar as parcelas há mais de um ano, a pressão é enorme, como diria a cantora Maria Rita ao ser comparada à mãe. Formatura da FAFUP (Faculdade de Funilaria e Pintura), mais de 500 pessoas. Os ternos de microfibra imperavam entre os homens e o ar condicionado funcionava com a eficiência de Rubens Barrichelo. Não houve lencinho que bastasse pra enxugar as testas brilhantes.

As famílias iam se acomodando nas mesas e a banda ia tocando as músicas mais tranqüilas. Frank Sinatra não ia gostar da releitura de sua celebre New York, New York, mas quem liga pra isso? Os garçons não paravam com as bandejas e as bolinhas de queijo faziam um tremendo sucesso. Menos pra tia Odete, que derrubou uma e ficou com a mancha de óleo na saia “salmon”.

Os salgadinhos só não perdiam pra popularidade do whiskey meia-boca, que descia freneticamente pelas goelas dos convidados do Junior, outro animado formando. Ele conseguiu juntar o pessoal da rua, do serviço e todos os 4 primos quase da mesma idade. Seus pais não se agüentavam de orgulho e também fizeram questão de convidar quase toda a vizinhança.

Um verdadeiro paraíso. Salão bem decorado com flores artificiais, mas ninguém diz e velas brancas. As toalhas das mesas num tom bonito de vinho – bordô, corrigiu a outra. Cerveja gelada e muito coquetel de pêssego pras senhoras de meia-idade e meia-calça bege que não podiam ficar bêbadas, imagina o que não iam sair falando.

Os penteados faziam a linha dos coques no alto da cabeça e meio-rabos. Deu pra perceber que o babyliss dos salões tinha trabalhado duro naquela tarde. Cachinhos enfeitavam suas testas. A maquiagem, segundo tinham lido, tinha que combinar com a cor do vestido. No maximo um ton sur ton, explicou a maquiadora. Todas seguiram a tendência, formando um verdadeiro arco-íris de sombra para os olhos.

A banda já tocava sucessos de forro, como a banda Rastapé e os casaizinhos dançavam animados. A pista exalava calor humano. Quando menos se esperava, dançarinas inspiradas na eterna Carla Perez dançavam os novos hits do axé de Salvador, não houve quem tivesse ficado sentado – a não ser pela tia Odete que continuava enfezada com a mancha. Começaram a se perguntar se o coquetel de pêssego era mesmo sem álcool, dada a alegria da mulherada.

Guto, primo do Junior, tinha dezesseis anos e pouca habilidade na arte da conquista. Só que ali, sob efeito da cana, viu que a coisa podia ser fácil. Puxou uma pelo braço. Vestido azul royal, 34 anos nas costas e 2 cesarianas na barriga, se sentiu lisonjeada, afinal, ainda estava em plena forma. A mãe do rapaz, apesar do pileque, não pareceu aprovar o novo par. Já o pai ofereceu dinheiro pro motel. Não, pai, motel ainda não, ela é moça de bem.

As barras dos vestidos arrastavam no chão sujo de fim de festa. O cenário não era muito diferente do que se vê por ai: gente descalça dançando, bêbados brotando do chão, Britney Spears tocando para os últimos guerreiros e casais se desfazendo para irem embora. Vendo a Tia Odete na mesma posição há horas, desconfiavam que se tratava de um manequim. Apertaram os 7 últimos sobreviventes na Quantum vinho do tio Waltinho e voltaram pra casa de alma lavada.

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