Tuesday, March 20, 2007

Saiba dizer não

Meus grandes amigos vão discordar, mas tenho embasamento para tal declaração. Já vivi uma época em que fazia as vontades de todo mundo. Massagem nas costas, sanduíche, ia buscar coca-cola na manhã de ressaca e enfrentava a fila do caixa da balada pra pegar bebida pra todos. Quando se recusavam a fazer o mesmo por mim eu ficava magoada, me sentia o coco do cavalo do bandido. Só que eu percebi que eu não precisava fazer favor pra que as pessoas continuassem sendo minhas amigas. Percebi que posso falar não quando sinto que preciso. Ainda faço muitos favores (você, leitor, não quer beber nada mesmo?) até para desconhecidos, mas somente quando tenho vontade.

Aniversário de algum familiar, o que fazer de comida? Ah, tem os salgadinhos da dona Ligia, coitada. O marido doente, tão velhinha ela. A gente podia comprar alguns pra ajudar, né? Claro que podíamos. Não fossem os kibes engordurados, o catupiry dos risoles farinhentos e nem o frango da coxinha ressecado. Favor por favor, faço um a mim mesma, em não comer os salgadinhos da dona Ligia. Claro que eu tenho pena da mulher, mas tenho mais dos meus convidados.

Tenho verdadeira ojeriza de salão de cabeleireiro. Sempre reclamei da minha endocrinologista que só deixava revista Bravo e National Geographic na sala de espera, mas depois de alguns anos sabendo toda a trajetória da Ivete Sangalo, do numero de vezes que a Karina Bacchi trocou de prótese do peito e a lembrancinha da festa de dois anos do pequeno Joaquim Huck, começo a sentir falta do acasalamento das lontras e das críticas de álbuns lado B. Some as fofocas com uma fulana te cutucando as cutículas, aquele papo besta de velha reclamando do marido que não abaixa a tampa da privada ou de desavergonhada que vem me contar da depilação intima em formato de coração.

Eu não me deixo abalar, claro, pois sei que o pior ainda está por vir. Mesmo sacudindo as mãos como quem está com calor ou pede forças aos céus e fazendo cara de poucos amigos, vejo de relance uma maletinha de veludo preto. Continuo assoprando as unhas para demonstrar meu desinteresse, mas é tarde demais. A tiazinha com cintura de barril já abriu o “mostruário”. A variedade faz peito à feira do Acari, no Rio de Janeiro, mas nada me chama a atenção.

Eu não uso bijuteria (ou semi-joia como me corrige a vendedora free lancer). Não adianta repetir, a mulher simplesmente não entende como alguém pode não gostar de um anelzinho, um brinquinho “ó esse aqui com a pedraria laranja que graça”. Com sorriso amarelo, reitero minha opinião. “Ah, vá, correntinha todo mundo usa, tenho prata de lei aqui, você joga com qualquer pingente e fica lindo. E anel? Prata mesmo, viu, não empretece. A mamãe não usa, não?”. Não é simplesmente que eu não goste das ofertas da mulher, é que me sinto invadida. Fosse numa loja, pedia licença, agradecia e ia embora sem constrangimentos. E ainda tentam me levar a crer que indelicada sou eu em não levar nada pra casa. Nem pra mamãe.

Vez ou outra, me vi na feirinha hippie de alguma praia do litoral paulista. Velas, toalhinhas de renda, cangas, miçangas de todas as cores, placas de madeira com meu nome e o distintivo do Tricolor Paulista e duendes de durepoxi. Sou da filosofia de que a compra vem até você. Não adianta ficar garimpando pardieiros em busca de preço baixo ou mesmo de peças exclusivas. Só que ali, no meio de tanta saboneteira de biscuit, de redinha pra cobrir bolo de fubá e incenso de ylan-ylang eu acabo vendo uma argola prateada (que vai “pretejar” no primeiro banho, eu sei).


O hippie com cabelo sujo, filho no colo e sotaque portenho depois de ver que não vou levar nada além dos brincos, pede pra ver a palma de minha mão. Novamente, para não ser indelicada, finjo interesse e também que não tenho nojo das unhas pretas do homem. Após ouvir pacientemente que sou muito determinada e íntegra, mas que me preocupo muito com bens materiais, desvencilho-me do vidente de Woodstock e finalmente pago com minhas escassas notas de 10 reais pela única mercadoria que me interessou realmente.

“Sílbia, não quer mirar más nada? Está muy difícil, tengo 3 hijos, mira esos colares...”. Está difícil pra mim também, pessoal! Ademais, se tivesse todo o dinheiro que quisesse, não gastaria mais um centavo ali. Claro que me preocupo demais com bens materiais. Pelo simples fato de que não os tenho! Adios, adios!

Ainda na finada faculdade de jornalismo, encontrei uma coleguinha de classe que vendia pães de mel. Simples ou com recheio de beijinho, brigadeiro e trufas. Até os professores compravam o quitute, embalado no celofane, com fitinha e data de validade. Uma beleza, não fosse o fato de eu não gostar de pão de mel. Eu não sou mesquinha, avarenta nem egoísta, eu simplesmente não gosto de pão de mel. Se fosse um bem-casado eu comprava com gosto. A classe inteira com o dedo sujo de chocolate e eu sofrendo olhares reprovadores.

Apoio todos os meios de renda lícitos, podem apostar, mas sem constranger o cliente. Eu não saía pelas ruas pedindo pras pessoas irem ao restaurante em que trabalhava e hoje em dia não ameaço meus amigos caso não entrem e comentem aqui nesse blog (é só um pedido amistoso, pessoal. Não quer comentar, não comenta!). Conheça e exerça o seu direito de falar não. Sinto desapontá-los, mas contra esse tipo de comércio nao existe PROCON.

2 comments:

Anonymous said...

Coisas da vida..
Coisas que aprendemos a lidar.
Coisas que aprendemos a observas.
Mas principalmente coisas que temos que passar, fazer oq? rs...

Unknown said...

EU TIVE QUE COMPRAR 3 RIFAS DIFERENTES DAS FAXINEIRAS DA AGÊNCIA... BTW, O PRÊMIO ERA O MESMO, UM OVO GIGANTESCO DE PÁSCOA!

DROGA...