Se me deixassem, poderia passar algumas boas horas assistindo ao Shop Time. Depois que o canal ficou disponível para assinantes TVA, meu mundo ficou mais feliz. Masoquismo ou não, a melhor parte é quando as vendedoras vão pra cozinha. Vendedoras, sim, pois experiência com a comida elas parecem ter nenhuma.
Nos tempos áureos de Vivi Romanelli, os câmeras, contra-regras e ela inclusive se fartavam de comer os pratos feitos nos eletrodomésticos vendidos. Vira e mexe Vivi levava bronca do diretor no ponto eletrônico ah, ta bom, diretor, vou parar de por catupiry no sanduíche. Agora dificilmente se vê o povo comendo, as porções estão menores... Mas nem por isso a atração perdeu a graça.
Madrugada de quarta-feira, fiquei assistindo a reprise do programa ao vivo, a atriz Flavia Bonato, ex-integrante de Malhação começava a sessão de ofertas comentando do friozinho gostoso. Ela de regata e sandália dizia que no RJ a temperatura tinha baixado bastante, o suficiente para todo mundo teeeeeer que comprar a chocolateira elétrica.
E não adianta querer fazer na panela porque ela insistia que não fica a mesma coisa. Ou o leite fica frio demais ou aquece demais e você acaba queimando a boca, superperigoso pra quem tem criança pequena. E o leite quando ferve, que sobe e suja todo o fogão? Ah, não dá, gente! Você põe aqui na chocolateira o leite, as gotinhas de chocolate, o creme de leite, o cacau em pó e o açúcar. Ah é, diretor, vou colocar aqui o licor de menta, ligar aqui nesse botãozinho preto e aguardar 20 minutos.
Nesse momento, Flavia virou cerca de meia xícara de licor de menta dentro de meio litro de leite e quando finalmente o chocolate quente ficou pronto, chamou a colega Renata para experimentar a bebida. A coitada disfarçou a engolida dolorosa e comentou pra quem gosta de menta, ta uma delicia.... Delicadamente, largou o copinho atrás da engenhoca aquecedora de leite e voltou pra sessão de secadores de cabelo.
Flavia, não satisfeita, quis fazer waffles (uêifous). Virou metade da tigela com massa crua no aparelho da Fun Kitchen, com formato de coração, hein, gente, olha o que a criancada não vai se divertir comendo isso aqui. Aproveita, dia dos namorados ta ai tambem, faz um desse pro seu amor...”. Enquanto disparava as baboseiras, a massa foi assando, crescendo e transbordando pela máquina. O câmera desavisado enquadrava as mãos de Flavia pressionando o aparelho para tentar reverter a situação. O que era pra ser coração acabou parecendo o boneco Michelin derretido.
O diretor chama para outra delicia: strogonoff de carne no mini grill quadrado. Flavia jogou os pedaços de carne sobre a chapa ainda fria e o telespectador pode ver com detalhes o desespero da moca ao perceber que o filet mignon soltava água e estava mais pálido que um anêmico com pneumonia. Se deixasse a carne exposta ao sol, ela fritaria mais rapidamente, com certeza. Jogou creme de leite, molho de tomate e no final ninguém se atreveu a comer aquele grude.
Flavia ainda quis nos empurrar uma máquina para fazer mini donuts (dãnãts). Sem fritura, sem sujeira, sua família vai adorar. Isso aqui com açúcar, canela e aquele chocolatinho quente ali da chocolateira. Você não precisa de mais nada! Talvez de dinheiro pra pagar, já que essa ultima custava quase 400 reais, o grill mais 250 e a maquina de waffles e de donuts cerca 180 cada, mas isso ela não mencionou.
Não sei se foi o efeito do excesso de licor ou se acordou com o pé virado, mas o fato é que a moça falou tanto, tanto, que esqueceu os mini donuts (dãnãts) assando dentro da maquina, e quando deu por si, as rosquinhas estavam com a maciez de um paralelepípedo e a coloração beirando o preto- piche. Para provar que não tinha feito besteira, Flavia ainda tentou dar uma mordida, ofereceu ao câmera, que desconversou, e encerrou o programa dizendo que eu tiiiiinha que ter aqueles produtos em casa, pra fazer minhas refeições com praticidade e rapidez, assim como ela. Resultados não garantidos.
http://www.shoptime.com.br
Thursday, May 31, 2007
Friday, May 25, 2007
Aceito
Eu não quero casar, né, mas se quisesse não seria na igreja de jeito nenhum. Provavelmente num salão estilo clássico e à noite, com mini lâmpadas (estilo de Natal) iluminando os lírios. Nem eu nem o noivo vestiríamos branco. Eu pra não engordar e ele (que seria bem magro) pra não parecer um filhote desgarrado do Cartola ou do Carlos Cachaça.
Não serviria jantar formal, mas dezenas de petisquinhos pras pessoas comerem em pé, sem nem terem que parar de dançar ou de conversar. Prosecco a rodo. Seria na primavera, perto de outubro, quando o clima é ameno – a maquiagem das moças não derrete com o calor e ninguém morre de frio com vestido de alcinha. A gravata nos homens não seria obrigatória, mas tênis já é abuso.
Não importa quantas delas passem a existir até lá, crianças não seriam bem-vindas, enviaria um vale-nanny junto com o convite. Eu sei que existem as boazinhas, mas perto de 1 da manhã elas estariam fazendo guerra com os doces ou ocupando 3 cadeiras dormindo, então, por que levar? Daminhas de honra além de desnecessárias e chatas, são cafonas.
A aliança seria de ouro branco e muitíssimo discreta. Ouro amarelo é coisa de novo rico. O uso de azul royal ou turquesa seria terminantemente proibido, sob pena de cassação da peça de roupa. Os coques “bolo fofo” e os cachinhos caídos ao lado da franja estariam permitidos, afinal, de quem eu iria rir no vídeo da festa depois?
Sob hipótese alguma eu contrataria uma banda, nem que fosse a do Dave Matthews. Fora os nomes e o figurino de gosto duvidoso, eles têm que parar pra tomar água, tocam o famigerado forró do nosso Ministro da Cultura e outras baixarias. Ao contrário do que dizem, a festa não seria pros convidados, não. Foi porque quis. Eu escolheria o repertorio música por música.
Fiquem tranqüilos, se essa festa fosse ocorrer, eu manteria o Whisk A Go-Go, o biquíni de bolinha amarelinho e o Tim Maia, afinal, ele não queria dinheiro, só amar, coitado. Contrataria uns tiozões daqueles típicos, para beberem e dar vexame, na minha família são todos muito contidos, não iria ter tanta graça. Sofreria uma verdadeira síncope nervosa na hora de escolher os padrinhos e ao final, todos os candidatos seriam compreensivos e amistosos independentemente da minha decisão.
Se eu fosse casar de papel passado, tocaria a marcha nupcial, sim. Porque é bonita, não porque é tradição. E aproveitando para quebrá-la, complementaria a trilha sonora do altar com Can’t Help falling In Love do Elvis, God Only Knows dos Beach Boys, It Had to Be You na voz do Frank e Here, There and Everywhere dos Beatles. Até lá os Strokes teriam gravado algo compatível e eu também pediria pra tocar. Se meu marido discordasse não poderia ser meu marido, infelizmente.
Perucas, óculos, chapéus coloridos e outras bizarrices também fariam parte da festa. Somente se ela fosse realizada num hospital psiquiátrico e eu fosse uma interna. Os convidados dos casamentos ficam bêbados e/ou felizes, eles não adquirem nenhum tipo de retardo mental após ouvirem o “sim” dos noivos.
Antes disso, porém, teria o momento dos votos, igual casamento americano. O noivo tiraria o papelzinho do paletó e eu faria o discurso de cor, após ter ensaiado por semanas. Eu iria chorar, ele não. Mas eu pararia rápido e começaria a rir olhando a maquiagem borrada de toda a ala feminina da minha família mais o meu pai.
Como me é de hábito, trocaria de sapato assim que meus pés ameaçassem começar a doer e a barra do vestido ficaria imunda sem que eu me importasse com isso. Na hora de jogar o buquê haveria uma disputa acirrada e a mais merecedora conquistaria esperança de se casar em breve.
A festa duraria até 6 da manhã e táxis esperariam os bêbados para que eles não voltassem para casa dirigindo. Sobrariam dezenas de bem-casados e eu iria para o hotel cantando Jamiroquai e comendo, aumentando o volume com o dedo sujo de doce de leite sem represálias do então marido. Eu finalmente tomaria Veuve Clicquot à vontade e acordaria sem dor de cabeça no dia seguinte.
Após voltar da lua-de-mel em Praga com escala em NY, receberia telefonemas seguidos, agradecendo e dando os parabéns pela festa maravilhosa. Com o passar de algumas semanas nossos 2 cachorros já teriam se acostumado com o apartamento de cozinha grande e com o chão de taquinhos de madeira. Sentada no sofá gigante da sala, eu reveria as fotos da festa com saudades e daria um suspiro satisfeito.
Isso se eu quisesse casar, é claro.
Não serviria jantar formal, mas dezenas de petisquinhos pras pessoas comerem em pé, sem nem terem que parar de dançar ou de conversar. Prosecco a rodo. Seria na primavera, perto de outubro, quando o clima é ameno – a maquiagem das moças não derrete com o calor e ninguém morre de frio com vestido de alcinha. A gravata nos homens não seria obrigatória, mas tênis já é abuso.
Não importa quantas delas passem a existir até lá, crianças não seriam bem-vindas, enviaria um vale-nanny junto com o convite. Eu sei que existem as boazinhas, mas perto de 1 da manhã elas estariam fazendo guerra com os doces ou ocupando 3 cadeiras dormindo, então, por que levar? Daminhas de honra além de desnecessárias e chatas, são cafonas.
A aliança seria de ouro branco e muitíssimo discreta. Ouro amarelo é coisa de novo rico. O uso de azul royal ou turquesa seria terminantemente proibido, sob pena de cassação da peça de roupa. Os coques “bolo fofo” e os cachinhos caídos ao lado da franja estariam permitidos, afinal, de quem eu iria rir no vídeo da festa depois?
Sob hipótese alguma eu contrataria uma banda, nem que fosse a do Dave Matthews. Fora os nomes e o figurino de gosto duvidoso, eles têm que parar pra tomar água, tocam o famigerado forró do nosso Ministro da Cultura e outras baixarias. Ao contrário do que dizem, a festa não seria pros convidados, não. Foi porque quis. Eu escolheria o repertorio música por música.
Fiquem tranqüilos, se essa festa fosse ocorrer, eu manteria o Whisk A Go-Go, o biquíni de bolinha amarelinho e o Tim Maia, afinal, ele não queria dinheiro, só amar, coitado. Contrataria uns tiozões daqueles típicos, para beberem e dar vexame, na minha família são todos muito contidos, não iria ter tanta graça. Sofreria uma verdadeira síncope nervosa na hora de escolher os padrinhos e ao final, todos os candidatos seriam compreensivos e amistosos independentemente da minha decisão.
Se eu fosse casar de papel passado, tocaria a marcha nupcial, sim. Porque é bonita, não porque é tradição. E aproveitando para quebrá-la, complementaria a trilha sonora do altar com Can’t Help falling In Love do Elvis, God Only Knows dos Beach Boys, It Had to Be You na voz do Frank e Here, There and Everywhere dos Beatles. Até lá os Strokes teriam gravado algo compatível e eu também pediria pra tocar. Se meu marido discordasse não poderia ser meu marido, infelizmente.
Perucas, óculos, chapéus coloridos e outras bizarrices também fariam parte da festa. Somente se ela fosse realizada num hospital psiquiátrico e eu fosse uma interna. Os convidados dos casamentos ficam bêbados e/ou felizes, eles não adquirem nenhum tipo de retardo mental após ouvirem o “sim” dos noivos.
Antes disso, porém, teria o momento dos votos, igual casamento americano. O noivo tiraria o papelzinho do paletó e eu faria o discurso de cor, após ter ensaiado por semanas. Eu iria chorar, ele não. Mas eu pararia rápido e começaria a rir olhando a maquiagem borrada de toda a ala feminina da minha família mais o meu pai.
Como me é de hábito, trocaria de sapato assim que meus pés ameaçassem começar a doer e a barra do vestido ficaria imunda sem que eu me importasse com isso. Na hora de jogar o buquê haveria uma disputa acirrada e a mais merecedora conquistaria esperança de se casar em breve.
A festa duraria até 6 da manhã e táxis esperariam os bêbados para que eles não voltassem para casa dirigindo. Sobrariam dezenas de bem-casados e eu iria para o hotel cantando Jamiroquai e comendo, aumentando o volume com o dedo sujo de doce de leite sem represálias do então marido. Eu finalmente tomaria Veuve Clicquot à vontade e acordaria sem dor de cabeça no dia seguinte.
Após voltar da lua-de-mel em Praga com escala em NY, receberia telefonemas seguidos, agradecendo e dando os parabéns pela festa maravilhosa. Com o passar de algumas semanas nossos 2 cachorros já teriam se acostumado com o apartamento de cozinha grande e com o chão de taquinhos de madeira. Sentada no sofá gigante da sala, eu reveria as fotos da festa com saudades e daria um suspiro satisfeito.
Isso se eu quisesse casar, é claro.
Monday, May 21, 2007
Descanse em Paz
Parei pra pensar outro dia em como vai ser quando eu morrer. Será que vai ser logo, será vou virar uma discípula da Dercy? Se vão acatar do meu desejo de ser cremada ao som de Frank Sinatra e Pavarotti. Se vão chorar muito ou se já vão estar conformados com a minha ida eminente. Se eu mesma vou pedir pra desligarem os aparelhos quando tudo o que me restar for tocar um tango argentino.
Não pretendo, porém, abreviar minha própria vida. Com a atual saúde mental estável, excluo a possibilidade de suicídio. Parte da culpa é mesmo de minha falta de sandice para tanto, a outra metade é da novela A Viagem. O Guilherme Fontes interpretava o suicida que voltava à Terra para atazanar os vivos. Depois precisou sua irmã ir buscá-lo no Vale dos Suicidas. E se não tiver Diná nenhuma pra ir me buscar?
Diz o popular que só não se dá jeito para a morte. Concordo. Para todo o resto é preciso respirar fundo, xingar alguém (pode ser a si mesmo) e ir. Tem que ir. Trabalhar no feriado, buscar filho na balada, lavar louça e ir à depilação. Ou você vai ser demitido, seu filho gastar fortunas em táxi, os pratos e copos da pia vão acabar invadindo a sala e a parte da depilação eu prefiro nem comentar. De todo jeito, vai chegar um momento em que não da mais pra adiar.
Mas e quando você esta tomando banho, aquele frio glacial, ninguém em casa. Fecha a torneira, esfrega o vidro embaçado do vapor tentando localizar a toalha. Abre o box e a porta do armário sob a pia ainda na esperança de terem lhe pregado uma peça, não é possível, não tem motivo para ela não estar aqui!
E não ter toalha pra se enxugar no frio não é como engambelar o papel higiênico depois do xixi na rodoviária. Mulheres vão concordar que não é o ideal, mas é o que se pode fazer na hora. Tanto melhor do que deixar escapar nas calças ou estourar a bexiga. No caso do banho, não tem como se enxugar outra hora.
Quem foi o filho da puta que tirou a toalha daqui? Grita para alguém em vão, cogita se enrolar no tapetinho e até mesmo passar a noite no banheiro, não ia fazer nada mesmo... Quando os dentes começam a ranger, você... Liga o chuveiro outra vez, reproduz quase fielmente a verdadeira london fog e quando a pele dos dedos já está quase descolando e você quase caindo de sono, decide se entregar.
Sai correndo, ensopa o tal tapetinho, escorrega no piso de madeira do corredor e se enrola na toalha como um bebê em posição fetal. Ensaia pulinhos de alegria pelo momento, quase escorrega no chão de novo na hora de voltar, veste o pijama e começa a lidar melhor com o fato caso ele volte a ocorrer.
E a morte é mais ou menos isso, minha gente. Vai ficar aqui fazendo o que? Não pode, tem que esticar as canelas em algum momento. Precisa de coragem pra se entregar, eu sei, mas não adianta adiar, não.
O mundo é um banheiro. No meio do banho quente a Dona Morte te chama. Você disfarça, chora, suspira, xinga ela de filha da puta e vai. Não se sabe se vai ter corredor de madeira nem se você vai escorregar. Só não espere nenhuma toalha felpuda no fim. Eu, por enquanto, não esqueci de levar a minha pro banho.
Não pretendo, porém, abreviar minha própria vida. Com a atual saúde mental estável, excluo a possibilidade de suicídio. Parte da culpa é mesmo de minha falta de sandice para tanto, a outra metade é da novela A Viagem. O Guilherme Fontes interpretava o suicida que voltava à Terra para atazanar os vivos. Depois precisou sua irmã ir buscá-lo no Vale dos Suicidas. E se não tiver Diná nenhuma pra ir me buscar?
Diz o popular que só não se dá jeito para a morte. Concordo. Para todo o resto é preciso respirar fundo, xingar alguém (pode ser a si mesmo) e ir. Tem que ir. Trabalhar no feriado, buscar filho na balada, lavar louça e ir à depilação. Ou você vai ser demitido, seu filho gastar fortunas em táxi, os pratos e copos da pia vão acabar invadindo a sala e a parte da depilação eu prefiro nem comentar. De todo jeito, vai chegar um momento em que não da mais pra adiar.
Mas e quando você esta tomando banho, aquele frio glacial, ninguém em casa. Fecha a torneira, esfrega o vidro embaçado do vapor tentando localizar a toalha. Abre o box e a porta do armário sob a pia ainda na esperança de terem lhe pregado uma peça, não é possível, não tem motivo para ela não estar aqui!
E não ter toalha pra se enxugar no frio não é como engambelar o papel higiênico depois do xixi na rodoviária. Mulheres vão concordar que não é o ideal, mas é o que se pode fazer na hora. Tanto melhor do que deixar escapar nas calças ou estourar a bexiga. No caso do banho, não tem como se enxugar outra hora.
Quem foi o filho da puta que tirou a toalha daqui? Grita para alguém em vão, cogita se enrolar no tapetinho e até mesmo passar a noite no banheiro, não ia fazer nada mesmo... Quando os dentes começam a ranger, você... Liga o chuveiro outra vez, reproduz quase fielmente a verdadeira london fog e quando a pele dos dedos já está quase descolando e você quase caindo de sono, decide se entregar.
Sai correndo, ensopa o tal tapetinho, escorrega no piso de madeira do corredor e se enrola na toalha como um bebê em posição fetal. Ensaia pulinhos de alegria pelo momento, quase escorrega no chão de novo na hora de voltar, veste o pijama e começa a lidar melhor com o fato caso ele volte a ocorrer.
E a morte é mais ou menos isso, minha gente. Vai ficar aqui fazendo o que? Não pode, tem que esticar as canelas em algum momento. Precisa de coragem pra se entregar, eu sei, mas não adianta adiar, não.
O mundo é um banheiro. No meio do banho quente a Dona Morte te chama. Você disfarça, chora, suspira, xinga ela de filha da puta e vai. Não se sabe se vai ter corredor de madeira nem se você vai escorregar. Só não espere nenhuma toalha felpuda no fim. Eu, por enquanto, não esqueci de levar a minha pro banho.
Monday, May 14, 2007
Mocidade Independente de Padre Miguel
Tem aquele samba-enredo meio antigo que diz: “sonhar não custa nada e o meu sonho é tão real”. Não custa nada por enquanto. Prevejo um fatura mensal referente aos sonhos chegando em minha casa todo mês, junto com a conta da TIM. Se pudesse, cancelava a conta, mas como para sonhar a gente não assina nem contrato, quem dirá rescisão. Não vou querer sonho não, obrigada. Nem os de padaria.
Ontem mesmo sonhei que estava numa espécie de Lost. Só que não era uma ilha, era uma cidade. Sayid, o iraquiano que está sempre com o cabelo sujo, me ajudava como podia. E eu não parava de perguntar onde estava o Jack. Já que estava naquela situação, me deixem pelo menos ver os graciosos!
Nada feito. Sayid me disse que era perigoso e mesmo eu alegando que não tinha problema “porque o Jack é muito gato”, não o encontrei. Minha estadia naquele lugar bizarro se baseou no meu salvamento de uma iguana prestes a ser pisoteada. Abri o olho e fiquei olhando pra cima para me certificar de que estava mesmo na minha casa. Nem no sonho eu dou sorte. Não cheguei nem perto do Dr. Shephard.
Parem pra pensar: você passa cerca de 7 horas dormindo e ao mesmo tempo comemorando a ligação do bofe que não tem seu telefone e que só ligaria pra pedir doação de sangue pra mãe doente, dá pulinhos na frente da casa lotérica ao acertar os números da megasena, checa a passagem para Cancun que comprou depois do aumento, entoa os mais famosos refrões da Madonna com os braços pra cima, na primeira fileira do show.
Depois de apertar o snooze três vezes, finalmente se levanta. Com a escova de dente na mão e um sorriso indo de leste a oeste do rosto, você se pergunta o porquê de tanta alegria, afinal, são 6:15 da manhã, chove copiosamente e ainda é 3ª. Feira. Ah é, tava sonhando, mesmo...
Ou seja, o cara não ligou, a Madonna não pretende deixar suas aulas de Cabala em Londres pra levar tiro no Brasil, seu salário não aumentou um centavo, você não sabe quando poderá tirar férias e pra completar, esqueceu de comprar o bilhete da megasena com o prêmio acumulado em 34 milhões.
Por essas e outras que eu prefiro os sonhos descabidos. Não que a minha participação imaginária em Lost tenha algum fundamento, mas tinha enredo, fazia o mínimo sentido e criava expectativas. Nada tão divertido quanto a vez em que sonhei, há muito tempo, que meu irmão tinha ganhado uma fita cassete da Baby Consuelo (antes de dizer que viu Jesus por dentro e de fundar uma Igreja, Baby do Brasil chamava Baby Consuelo). A Magali, amiga da minha mãe tinha sido a suposta responsável pelo presente.
Acordei rindo feito uma maluca, porém completamente consciente de que a Magali não tinha comprado uma fita da ex-integrante dos Novos Baianos para um menino de 10 anos de idade. O mesmo aconteceu quando uma cobrinha oriunda de um desenho animado (só podia ser) com uma florzinha cor de laranja adornando sua cabeça pequenina. Despertei bem-humorada, mais uma vez, onde já se viu cobra simpática invadindo minha casa?
Só que às vezes eu acordo pensando que a vida é linda e que ouvir Rolling Stones emagrece mais que aula de spinning. Vem a realidade e te da um tapa na cara daqueles bem ardidos, de fazer barulho seco. Sonhar não custa nada, mas eu bem que poderia receber um troquinho quando não gosto do sonho. Ou um da padaria, mesmo.
Ontem mesmo sonhei que estava numa espécie de Lost. Só que não era uma ilha, era uma cidade. Sayid, o iraquiano que está sempre com o cabelo sujo, me ajudava como podia. E eu não parava de perguntar onde estava o Jack. Já que estava naquela situação, me deixem pelo menos ver os graciosos!
Nada feito. Sayid me disse que era perigoso e mesmo eu alegando que não tinha problema “porque o Jack é muito gato”, não o encontrei. Minha estadia naquele lugar bizarro se baseou no meu salvamento de uma iguana prestes a ser pisoteada. Abri o olho e fiquei olhando pra cima para me certificar de que estava mesmo na minha casa. Nem no sonho eu dou sorte. Não cheguei nem perto do Dr. Shephard.
Parem pra pensar: você passa cerca de 7 horas dormindo e ao mesmo tempo comemorando a ligação do bofe que não tem seu telefone e que só ligaria pra pedir doação de sangue pra mãe doente, dá pulinhos na frente da casa lotérica ao acertar os números da megasena, checa a passagem para Cancun que comprou depois do aumento, entoa os mais famosos refrões da Madonna com os braços pra cima, na primeira fileira do show.
Depois de apertar o snooze três vezes, finalmente se levanta. Com a escova de dente na mão e um sorriso indo de leste a oeste do rosto, você se pergunta o porquê de tanta alegria, afinal, são 6:15 da manhã, chove copiosamente e ainda é 3ª. Feira. Ah é, tava sonhando, mesmo...
Ou seja, o cara não ligou, a Madonna não pretende deixar suas aulas de Cabala em Londres pra levar tiro no Brasil, seu salário não aumentou um centavo, você não sabe quando poderá tirar férias e pra completar, esqueceu de comprar o bilhete da megasena com o prêmio acumulado em 34 milhões.
Por essas e outras que eu prefiro os sonhos descabidos. Não que a minha participação imaginária em Lost tenha algum fundamento, mas tinha enredo, fazia o mínimo sentido e criava expectativas. Nada tão divertido quanto a vez em que sonhei, há muito tempo, que meu irmão tinha ganhado uma fita cassete da Baby Consuelo (antes de dizer que viu Jesus por dentro e de fundar uma Igreja, Baby do Brasil chamava Baby Consuelo). A Magali, amiga da minha mãe tinha sido a suposta responsável pelo presente.
Acordei rindo feito uma maluca, porém completamente consciente de que a Magali não tinha comprado uma fita da ex-integrante dos Novos Baianos para um menino de 10 anos de idade. O mesmo aconteceu quando uma cobrinha oriunda de um desenho animado (só podia ser) com uma florzinha cor de laranja adornando sua cabeça pequenina. Despertei bem-humorada, mais uma vez, onde já se viu cobra simpática invadindo minha casa?
Só que às vezes eu acordo pensando que a vida é linda e que ouvir Rolling Stones emagrece mais que aula de spinning. Vem a realidade e te da um tapa na cara daqueles bem ardidos, de fazer barulho seco. Sonhar não custa nada, mas eu bem que poderia receber um troquinho quando não gosto do sonho. Ou um da padaria, mesmo.
Maluco Beleza
Não tenho vergonha de dizer que fiz faculdade de Gastronomia. O constrangimento fica por conta de toda a atmosfera que envolve a profissão, ou seja, comida. Ah, então quer dizer que você é chef, né? E ai, quando vai fazer um jantar pra mim? E filé ao molho madeira, sabe fazer? Então, minha receita de torta de frango leva margarina na massa, usar manteiga é melhor?
As duvidas e sugestões eu atendo com o maior prazer, mas na hora de marcar um almoço ou jantar, a resposta é sempre a mesma: é só combinar. Fulano que eu não vejo há anos me pedindo pra fazer comida pra ele? E você? Te conheci há 1 hora, ta pensando o que? Médicos devem sofrer do mesmo problema, dando pseudo consultas em lugares estapafúrdios como filas de supermercado. No entanto, a profissão de quem eu mais me compadeço nesse quesito é a do dj.
Até muito pouco tempo não existia faculdade de djs. Hoje quem quiser se tornar um pode estudar por 2 anos. Os old school contam com o talento próprio seja para a mixagem ou para o repertório. Pesquisa, estuda, treina, dá a cara a tapa na hora de tocar. Tem os que tocam bem, mal, com disco, cd ou computador. Os amadores, os antológicos, os que viraram celebridade e os mais modestos. Nenhum deles gosta de ouvir pedido de música durante o set.
Pode acreditar. Uns não ligam, outros fingem que gostam. Bem ou mal é o trabalho deles e se você não diz ao seu medico que tipo de linha você quer que ele use enquanto sutura sua mão, se você não diz ao arquiteto para tirar algumas vigas da casa em construção, você não pede música ao dj.
Nem se for seu aniversario, nem se ele for seu amigo, nem se for seu casamento. Se ele for um contratado seu, combine a playlist antes do evento. Tem sempre o bêbado que interrompe, tropeça no case e apóia o copo do lado do mixer. Não faça isso, caro leitor. Nem que sua vida dependa da Madonna no meio de uma rave de psy.
Pode ser que o dj goste da musica que você pediu, inclusive que vá toca-la, mas se ele não fosse responsável pelo repertorio e pelo momento certo de tocar as musicas, colocaríamos uma jukebox no lugar das pick-ups e estaria tudo resolvido. Eu sou xiita nesse aspecto, sim senhor. E tambem já pedi musica uma vez, todo mundo tem lapso no caráter uma vez – ou algumas - na vida. Essa é, portanto, uma campanha anti-pedidos.
Pagando o dinheiro da entrada do club, rave ou quermesse de interior, você chegou a pagar também uma pequena porcentagem do cachê do dj. E a menos que você tenha sido amordaçado, significa que você esta lá porque quer. E se você não gosta da musica, pode tanto não ir ao local quanto ir embora ao menor sinal de tédio.
Caso não lhe seja cômodo escolher uma festa com musicas que lhe agradem e você realmente acha que seus dons para ser dj são mesmo evidentes, faça uma festa você. Chame seus amigos, escolha um lugar legal e toca a musica que você quiser. E se aparecer alguém gritando TOCA RAUL, tente responder pacientemente que você não trouxe o disco dele.
As duvidas e sugestões eu atendo com o maior prazer, mas na hora de marcar um almoço ou jantar, a resposta é sempre a mesma: é só combinar. Fulano que eu não vejo há anos me pedindo pra fazer comida pra ele? E você? Te conheci há 1 hora, ta pensando o que? Médicos devem sofrer do mesmo problema, dando pseudo consultas em lugares estapafúrdios como filas de supermercado. No entanto, a profissão de quem eu mais me compadeço nesse quesito é a do dj.
Até muito pouco tempo não existia faculdade de djs. Hoje quem quiser se tornar um pode estudar por 2 anos. Os old school contam com o talento próprio seja para a mixagem ou para o repertório. Pesquisa, estuda, treina, dá a cara a tapa na hora de tocar. Tem os que tocam bem, mal, com disco, cd ou computador. Os amadores, os antológicos, os que viraram celebridade e os mais modestos. Nenhum deles gosta de ouvir pedido de música durante o set.
Pode acreditar. Uns não ligam, outros fingem que gostam. Bem ou mal é o trabalho deles e se você não diz ao seu medico que tipo de linha você quer que ele use enquanto sutura sua mão, se você não diz ao arquiteto para tirar algumas vigas da casa em construção, você não pede música ao dj.
Nem se for seu aniversario, nem se ele for seu amigo, nem se for seu casamento. Se ele for um contratado seu, combine a playlist antes do evento. Tem sempre o bêbado que interrompe, tropeça no case e apóia o copo do lado do mixer. Não faça isso, caro leitor. Nem que sua vida dependa da Madonna no meio de uma rave de psy.
Pode ser que o dj goste da musica que você pediu, inclusive que vá toca-la, mas se ele não fosse responsável pelo repertorio e pelo momento certo de tocar as musicas, colocaríamos uma jukebox no lugar das pick-ups e estaria tudo resolvido. Eu sou xiita nesse aspecto, sim senhor. E tambem já pedi musica uma vez, todo mundo tem lapso no caráter uma vez – ou algumas - na vida. Essa é, portanto, uma campanha anti-pedidos.
Pagando o dinheiro da entrada do club, rave ou quermesse de interior, você chegou a pagar também uma pequena porcentagem do cachê do dj. E a menos que você tenha sido amordaçado, significa que você esta lá porque quer. E se você não gosta da musica, pode tanto não ir ao local quanto ir embora ao menor sinal de tédio.
Caso não lhe seja cômodo escolher uma festa com musicas que lhe agradem e você realmente acha que seus dons para ser dj são mesmo evidentes, faça uma festa você. Chame seus amigos, escolha um lugar legal e toca a musica que você quiser. E se aparecer alguém gritando TOCA RAUL, tente responder pacientemente que você não trouxe o disco dele.
Wednesday, May 09, 2007
Dia das Mães parte 2
Embora nunca tenha negado e nenhum leitor se oposto ao fato, corro com as linhas abaixo o risco de parecer pretensiosa. Sigo em frente, então, ou melhor, volto para relembrar alguns momentos que me ajudem a lhe convencer por que a minha mãe é melhor.
Todo filho que se preze (excluo as Suzanes da vida) vai dizer que a sua mãe é a melhor. Evidente, é um amor físico, ficamos muito tempo dependendo dela. Mas eu não. Se não fosse filha dela, acho que ia achá-la a melhor mãe do mundo mesmo assim. Ou pelo menos uma mulher genial de quem eu gostaria de ser filha.
Essa minha devoção não tem a ver com a gratidão que eu tenho por ela ter chamado de filha uma criatura careca, cabeçuda, amarelada com olho vermelho por causa da icterícia. Deve ter sido assustador, mas continua não sendo o bastante. Porque cuidar dos seus filhos – problemáticos ou não – a maioria das mães faz e faz muito bem. Só que a minha faz melhor.
Freud culpou a sua por todos os problemas que lhe aconteceram e eu poderia seguir o exemplo dele se minha mãe não tivesse me mostrado ao longo dos anos que o mundo não espera que eu os resolva. E que mesmo tendo um olhar crítico, exigente e ferrenho sobre o mundo, fazer drama nunca levou ninguém a lugar algum.
Isso não significa, contudo, que ela não saiba confortar alguém desesperado. Significa que somente ela sabe abraçar e fazer uma leve pressão no peito de quem chora para ela parar de chorar. Digo que ela é melhor não porque ela cuidou de nós 3, trabalhava o dia inteiro, assoviava e chupava cana, mas porque ela nunca fez disso um fardo. E se fez, nunca demonstrou.
Sinto muito, mas nenhuma outra vai conseguir ensinar como é bom ter e ser irmão de alguém – não só os com parentesco, mas todos os nossos amigos que ela acolheu como filhos ao longo dos anos. E com isso eu não quero ofender mãe nenhuma, não me entendam mal. Inclusive porque Dona Leda não precisa disso. Low-profile nata, ela se faz notar com o menor dos esforços. No entanto, ela se esforça. Perfeccionista daquelas que não incomoda porque ela vai acabar conseguindo, não adianta discutir.
E mesmo sem precisar se impor perante os outros, ela dá a cara a tapa – no fundo deve saber de tudo isso. Então ela faz projeto de casa na praia, móvel pra TV, costura e desenha modelos de vestido, decora casas, tosa cachorros, melhora TCC dos outros, tira fotos, escreve e discute literatura, política, toca piano, corta cabelo, faz a melhor maquiagem pra festas, cozinha impecavelmente e improvisa sobremesas. Escolheu a enfermagem como profissão, todavia.
Não disse que ela é perfeita porque gente perfeita cansa – alem de não existir, é claro. E se tem uma coisa que a minha mãe não gosta (na verdade tem muitas) é de gente cansativa e normal. Apesar de chegar a duvidar algumas vezes de que ela existe e de que dorme no quarto ao lado, eu lembro que ela é concreta toda vez que aumento o tom e canto uma musica.
Nesse momento eu percebo que ela não tem o menor talento nem voz para cantar; nem ela nem eu. E que isso nunca nos impediu de continuar cantando. Carregando essa herança de pequena imperfeição dela, penso que valeu a pena cada maldita vez que eu quis que ela desaparecesse. Se não tivesse essa voz esganiçada e essa vontade latente de querer fazer tudo do meu jeito – e sempre o melhor jeito, eu não seria filha da dona Leda. E então nada me teria valido a pena até agora.
Peço desculpas novamente se pareço pedante ou se menosprezo a mãe alheia, nesse caso é necessário. Minha mãe não é pedante, garanto. Inclusive ela vai me perguntar por que diabos eu escrevi tudo isso se algum dia chegar a ler. E eu vou responder que não sei. Mas na verdade eu sei, só não vou falar em voz alta porque levaria muito tempo. E por causa da voz.
Todo filho que se preze (excluo as Suzanes da vida) vai dizer que a sua mãe é a melhor. Evidente, é um amor físico, ficamos muito tempo dependendo dela. Mas eu não. Se não fosse filha dela, acho que ia achá-la a melhor mãe do mundo mesmo assim. Ou pelo menos uma mulher genial de quem eu gostaria de ser filha.
Essa minha devoção não tem a ver com a gratidão que eu tenho por ela ter chamado de filha uma criatura careca, cabeçuda, amarelada com olho vermelho por causa da icterícia. Deve ter sido assustador, mas continua não sendo o bastante. Porque cuidar dos seus filhos – problemáticos ou não – a maioria das mães faz e faz muito bem. Só que a minha faz melhor.
Freud culpou a sua por todos os problemas que lhe aconteceram e eu poderia seguir o exemplo dele se minha mãe não tivesse me mostrado ao longo dos anos que o mundo não espera que eu os resolva. E que mesmo tendo um olhar crítico, exigente e ferrenho sobre o mundo, fazer drama nunca levou ninguém a lugar algum.
Isso não significa, contudo, que ela não saiba confortar alguém desesperado. Significa que somente ela sabe abraçar e fazer uma leve pressão no peito de quem chora para ela parar de chorar. Digo que ela é melhor não porque ela cuidou de nós 3, trabalhava o dia inteiro, assoviava e chupava cana, mas porque ela nunca fez disso um fardo. E se fez, nunca demonstrou.
Sinto muito, mas nenhuma outra vai conseguir ensinar como é bom ter e ser irmão de alguém – não só os com parentesco, mas todos os nossos amigos que ela acolheu como filhos ao longo dos anos. E com isso eu não quero ofender mãe nenhuma, não me entendam mal. Inclusive porque Dona Leda não precisa disso. Low-profile nata, ela se faz notar com o menor dos esforços. No entanto, ela se esforça. Perfeccionista daquelas que não incomoda porque ela vai acabar conseguindo, não adianta discutir.
E mesmo sem precisar se impor perante os outros, ela dá a cara a tapa – no fundo deve saber de tudo isso. Então ela faz projeto de casa na praia, móvel pra TV, costura e desenha modelos de vestido, decora casas, tosa cachorros, melhora TCC dos outros, tira fotos, escreve e discute literatura, política, toca piano, corta cabelo, faz a melhor maquiagem pra festas, cozinha impecavelmente e improvisa sobremesas. Escolheu a enfermagem como profissão, todavia.
Não disse que ela é perfeita porque gente perfeita cansa – alem de não existir, é claro. E se tem uma coisa que a minha mãe não gosta (na verdade tem muitas) é de gente cansativa e normal. Apesar de chegar a duvidar algumas vezes de que ela existe e de que dorme no quarto ao lado, eu lembro que ela é concreta toda vez que aumento o tom e canto uma musica.
Nesse momento eu percebo que ela não tem o menor talento nem voz para cantar; nem ela nem eu. E que isso nunca nos impediu de continuar cantando. Carregando essa herança de pequena imperfeição dela, penso que valeu a pena cada maldita vez que eu quis que ela desaparecesse. Se não tivesse essa voz esganiçada e essa vontade latente de querer fazer tudo do meu jeito – e sempre o melhor jeito, eu não seria filha da dona Leda. E então nada me teria valido a pena até agora.
Peço desculpas novamente se pareço pedante ou se menosprezo a mãe alheia, nesse caso é necessário. Minha mãe não é pedante, garanto. Inclusive ela vai me perguntar por que diabos eu escrevi tudo isso se algum dia chegar a ler. E eu vou responder que não sei. Mas na verdade eu sei, só não vou falar em voz alta porque levaria muito tempo. E por causa da voz.
Monday, May 07, 2007
Paranóia Delirante
Eu não sei ao certo, mas além da menstruação receio que essa seja mais uma exclusividade de mulher. A exclusividade de ter paranóias. Não paranóia patológica, que precisa ser tratada com tarja preta e psiquiatra 5 vezes na semana. Aquela paranóia com a aparência, com o excesso (ou a falta de) valor que dá a si mesma quando os relacionamentos vão bem ou mal. A que precisa ser resolvida com umas 5 horas de conversa com amigos – embora queira, na verdade, a cartela de tarja preta.
Mesmo lendo horóscopo, fazendo mapa astral, jogando búzios, simpatia e promessa pra Santo Antonio (aquele, o casamenteiro), mulher não entende que os fatos não precisam de um motivo para (não) acontecer. Não acreditam no acaso e, por incrível que pareça, nem no desconhecido. As malditas discussões de relacionamento nada mais são do que uma demonstração disso. O namorado só ligou uma vez a tarde, é verdade. Mas não porque não a ama nem porque tem outra.
Tem mulher que faz planejamento semanal de roupa e se o encontro no fim de semana não for bem sucedido, a culpa é do guarda-roupa defasado. Fica de olho no cara a noite inteira e se no fim das contas ele não pedir o telefone, só pode ter sido por causa da lasca do esmalte vermelho no dedo indicador. Ficou segurando o copo, com certeza ele viu e achou que ela é mal-cuidada.
Fica na expectativa – eu, uma incurável e ansiosa doentia, digo que criar expectativa está no top 5 das desgraças sentimentais – imaginando que aquele amigo do amigo vai agarrá-la na primeira oportunidade, que vão passar a noite juntos e que ele vai dizer que só demorou pra agir porque é envergonhado.
O agarrão sorrateiro deu lugar para um abraço amistoso, aquela conversa besta de começo de noite seguida do famoso “vou ali com os meus amigos”. Ai pronto. A culpa é da roupa. Falei pra fulana que eu ficava parecendo vagabunda com esse vestido tão curto. Devia ter posto o outro, com o sapato mais alto, ele deve ser do tipo que gosta de mulher de salto alto, de cabelo enrolado. Por que eu passei chapinha? O ondulado ia ficar mais bonito, ele deve preferir cabelo natural.
Ou será que foi a cerveja? Ah, pode ser, só o vi tomando um whiskey a noite inteira, ele não gosta de mulher que bebe. Ou então me achou gorda. Homem pega mulher feia, mas feia e magra. Só posso ser gorda, será que fiquei mais gorda com esse vestido?
Mulher não entende que a lasca do esmalte, a cor do sapato, o cabelo curto ou comprido, enrolado ou loiro não influencia. O fato é que não rolou. Ele não estava com outra, não te achou chata, carente, nem mal amada. Se te achasse gorda e quisesse te pegar, pegaria mesmo assim. Não está se fazendo de difícil, não é um cafajeste, um babaca esquisito, um partidor de corações cosmopolita. Pode ser que você mereça alguém muitíssimo parecido com ele, ao contrário do que suas amigas vão lhe dizer.
Sua conversa não é precipitada demais, seus amigos não são desagradáveis, seu gosto pra filmes não é comercial demais, seu senso de humor é apropriado, você não é burra, pelo amor de deus! Ele simplesmente não quis te beijar e isso definitivamente não precisa de um motivo. De uma vez por todas.
Mesmo lendo horóscopo, fazendo mapa astral, jogando búzios, simpatia e promessa pra Santo Antonio (aquele, o casamenteiro), mulher não entende que os fatos não precisam de um motivo para (não) acontecer. Não acreditam no acaso e, por incrível que pareça, nem no desconhecido. As malditas discussões de relacionamento nada mais são do que uma demonstração disso. O namorado só ligou uma vez a tarde, é verdade. Mas não porque não a ama nem porque tem outra.
Tem mulher que faz planejamento semanal de roupa e se o encontro no fim de semana não for bem sucedido, a culpa é do guarda-roupa defasado. Fica de olho no cara a noite inteira e se no fim das contas ele não pedir o telefone, só pode ter sido por causa da lasca do esmalte vermelho no dedo indicador. Ficou segurando o copo, com certeza ele viu e achou que ela é mal-cuidada.
Fica na expectativa – eu, uma incurável e ansiosa doentia, digo que criar expectativa está no top 5 das desgraças sentimentais – imaginando que aquele amigo do amigo vai agarrá-la na primeira oportunidade, que vão passar a noite juntos e que ele vai dizer que só demorou pra agir porque é envergonhado.
O agarrão sorrateiro deu lugar para um abraço amistoso, aquela conversa besta de começo de noite seguida do famoso “vou ali com os meus amigos”. Ai pronto. A culpa é da roupa. Falei pra fulana que eu ficava parecendo vagabunda com esse vestido tão curto. Devia ter posto o outro, com o sapato mais alto, ele deve ser do tipo que gosta de mulher de salto alto, de cabelo enrolado. Por que eu passei chapinha? O ondulado ia ficar mais bonito, ele deve preferir cabelo natural.
Ou será que foi a cerveja? Ah, pode ser, só o vi tomando um whiskey a noite inteira, ele não gosta de mulher que bebe. Ou então me achou gorda. Homem pega mulher feia, mas feia e magra. Só posso ser gorda, será que fiquei mais gorda com esse vestido?
Mulher não entende que a lasca do esmalte, a cor do sapato, o cabelo curto ou comprido, enrolado ou loiro não influencia. O fato é que não rolou. Ele não estava com outra, não te achou chata, carente, nem mal amada. Se te achasse gorda e quisesse te pegar, pegaria mesmo assim. Não está se fazendo de difícil, não é um cafajeste, um babaca esquisito, um partidor de corações cosmopolita. Pode ser que você mereça alguém muitíssimo parecido com ele, ao contrário do que suas amigas vão lhe dizer.
Sua conversa não é precipitada demais, seus amigos não são desagradáveis, seu gosto pra filmes não é comercial demais, seu senso de humor é apropriado, você não é burra, pelo amor de deus! Ele simplesmente não quis te beijar e isso definitivamente não precisa de um motivo. De uma vez por todas.
Wednesday, May 02, 2007
Mãe, só tem uma!
ou dia das mães parte 1
Tem as mães descontroladas, as ditas melhores amigas, as engraçadas, as fofas, as hippies, as moderninhas, as old-school, as workaholics ausentes, as superprotetoras e as que passaram desta para uma melhor. Você, querido leitor, encaixa sua mãe em alguma definição acima e mesmo tendo uma resma de impropérios para dizer a ela, hesite e pense em tudo que a mulher fez por você – para o bem ou para o mal, mas sempre bem intencionada.
Ela destruiu o próprio corpo durante longos meses à sua espera, deixou de fumar e de tomar vinho na happy hour. Ficou parecendo um bujão de gás com roupinha florida, fazendo xixi a cada 15 minutos, chorando descontrolada sem motivo, comendo salada e evitando fritura. Tudo em nome da saúde do bebê, ou melhor, da sua.
Agüentou calada a encheção de saco das tias velhas lhe mandando fazer simpatias descabidas, vomitou mais do que gordo bêbado em fim de festa, deixou desconhecidos colocarem a mão na barriga dela e quase foi proibida de limpar a própria bunda pra não se esforçar demais, afinal, poderia ser perigoso para o feto.
Discutiu com o seu pai e esbravejou dizendo que definitivamente não ia nomear um pobre bebezinho de Carmem ou Vicentino Junior. Sendo homenagem a quem quer que fosse. Para não ser apelativa, não vou mencionar a brutalidade de um parto normal, tampouco a estranheza que deve ser assistir um projetinho de gente desdentado sugando seu peito a cada três horas. Trocou um sem-número de fraldas e babadores sem ter nojo.
E como sua mãe não tem nojo de você, ela acha que não tem problema molhar o dedo com a própria saliva e passar na sua bochecha quando está suja de pasta de dente. Bom-senso não é característica de mãe nenhuma (essa historia de amor incondicional é mesmo assustadora), por isso ela não teve pudores em enfiar sua camiseta pra dentro da calça do uniforme da escola e depois te mandar levantar os braços pra dar uma afofada no visual.
Pintou seu dente de preto na festa junina, se emocionou quando você fez papel de árvore estática na peça da escola e chorou com o seu poeminha bizarro no dia das mães (mesmo sendo obrigada a ler a palavra você grafada com cedilha). Agüentou filas quilométricas no Playcenter e se segurou para não te mandar pro inferno quando você dizia que queria mesmo era ir pra Disney.
A sua mãe é uma das poucas pessoas que não deve ter se animado com esse revival dos anos 80. Mesmo tendo que ouvir o LP do Balão Mágico cerca de 8 vezes por dia, ela não estourou a vitrola nem arremessou o vinil pelos ares. Além disso, tem crises de gastrite toda vez que ouve a voz da Xuxa no comercial do hidratante Monange. E é tudo por sua causa.
Não posso me esquecer das festinhas de aniversario em que ela rodou a cidade em busca das réplicas mais fiéis dos personagens do He-Man ou da Cinderela nem da arruaça que ela foi obrigada a organizar depois dos parabéns. Coxinha esmagada no tapete, coca-cola em cima do cachorro e brigadeiro debaixo da almofada do sofá.
Por isso, meus caros, termino aqui, pedindo que reflitam antes de mandar sua mãe para o inferno e mais ainda, que reflitam antes de procriar. Afinal, criança é igual peido: só agüenta quem faz.
Tem as mães descontroladas, as ditas melhores amigas, as engraçadas, as fofas, as hippies, as moderninhas, as old-school, as workaholics ausentes, as superprotetoras e as que passaram desta para uma melhor. Você, querido leitor, encaixa sua mãe em alguma definição acima e mesmo tendo uma resma de impropérios para dizer a ela, hesite e pense em tudo que a mulher fez por você – para o bem ou para o mal, mas sempre bem intencionada.
Ela destruiu o próprio corpo durante longos meses à sua espera, deixou de fumar e de tomar vinho na happy hour. Ficou parecendo um bujão de gás com roupinha florida, fazendo xixi a cada 15 minutos, chorando descontrolada sem motivo, comendo salada e evitando fritura. Tudo em nome da saúde do bebê, ou melhor, da sua.
Agüentou calada a encheção de saco das tias velhas lhe mandando fazer simpatias descabidas, vomitou mais do que gordo bêbado em fim de festa, deixou desconhecidos colocarem a mão na barriga dela e quase foi proibida de limpar a própria bunda pra não se esforçar demais, afinal, poderia ser perigoso para o feto.
Discutiu com o seu pai e esbravejou dizendo que definitivamente não ia nomear um pobre bebezinho de Carmem ou Vicentino Junior. Sendo homenagem a quem quer que fosse. Para não ser apelativa, não vou mencionar a brutalidade de um parto normal, tampouco a estranheza que deve ser assistir um projetinho de gente desdentado sugando seu peito a cada três horas. Trocou um sem-número de fraldas e babadores sem ter nojo.
E como sua mãe não tem nojo de você, ela acha que não tem problema molhar o dedo com a própria saliva e passar na sua bochecha quando está suja de pasta de dente. Bom-senso não é característica de mãe nenhuma (essa historia de amor incondicional é mesmo assustadora), por isso ela não teve pudores em enfiar sua camiseta pra dentro da calça do uniforme da escola e depois te mandar levantar os braços pra dar uma afofada no visual.
Pintou seu dente de preto na festa junina, se emocionou quando você fez papel de árvore estática na peça da escola e chorou com o seu poeminha bizarro no dia das mães (mesmo sendo obrigada a ler a palavra você grafada com cedilha). Agüentou filas quilométricas no Playcenter e se segurou para não te mandar pro inferno quando você dizia que queria mesmo era ir pra Disney.
A sua mãe é uma das poucas pessoas que não deve ter se animado com esse revival dos anos 80. Mesmo tendo que ouvir o LP do Balão Mágico cerca de 8 vezes por dia, ela não estourou a vitrola nem arremessou o vinil pelos ares. Além disso, tem crises de gastrite toda vez que ouve a voz da Xuxa no comercial do hidratante Monange. E é tudo por sua causa.
Não posso me esquecer das festinhas de aniversario em que ela rodou a cidade em busca das réplicas mais fiéis dos personagens do He-Man ou da Cinderela nem da arruaça que ela foi obrigada a organizar depois dos parabéns. Coxinha esmagada no tapete, coca-cola em cima do cachorro e brigadeiro debaixo da almofada do sofá.
Por isso, meus caros, termino aqui, pedindo que reflitam antes de mandar sua mãe para o inferno e mais ainda, que reflitam antes de procriar. Afinal, criança é igual peido: só agüenta quem faz.
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