Friday, April 13, 2007

Vou ver o mundo girar

Dizem os conformados, os otimistas e principalmente os despeitados que o mundo dá voltas. Algo como “depois da tempestade vem a bonança” ou coisa parecida. Achava eu que, a não ser pelo reveillon, o mundo girava porcaria nenhuma. Principalmente por causa do infeliz do timing, nunca me dei ao luxo de ficar esperando ser recompensada por algum infortúnio do passado. Não aconteceu, azar o meu.

Sem exageros, foi uma década sem ouvir falar de você nem dos seus amigos. Lembro das tardes de verão que passava na piscina, das suas palavras tão oportunas, tão cheias de sentido. Marcava presença onde quer que aparecesse. E como aparecia! Festas de todas as idades, se dava bem com gente de qualquer idade. A aparência dava margem para dúvidas. O visual exótico dividia a mulherada, a mim inclusive. Só que a essa altura eu nem estava ligando para isso, eu só queria que você viesse.

Alguns me mandavam esquecer, como sempre. E eu relutava, como sempre. Não sei de onde tiro essa esperança. Fato é que o tempo foi passando e eu ia falando menos de você, pouca gente se lembrava disso depois que você deu uma sumida. Vira e mexe aparecia, só pra me fazer lembrar de tudo aquilo que eu sentia e insistia em dizer aos outros que não sentia. Parecia de propósito. E continuava esperando.

Às vezes tinha alguma noticia sua e o coração batia mais forte: será que agora ele aparece? Então baixava as expectativas de novo. Arranjei outros nesse percurso. Melhores, inclusive, você nem imagina. Tive que espera-los por bem menos tempo do que você e esses sim vieram - por conta própria, não por causa dessa historia de que o mundo gira. E agora sim eu tenho motivos pra esperar, afinal, diferentemente de você, eles vieram. As pessoas tinham razão, eu precisava te esquecer. E foi o que eu fiz.

Não por força de vontade, acho que por obra do acaso. Eu sabia que não dava mais pra continuar com isso e quando eu te ouvia, não sentia mais nada, não dava nem mais um sorrisinho saudoso ou com um fundo de esperança. Aí eu soube que estava livre de você pra sempre. Que se eu quisesse, tinha alvará pra repetir a dose com aqueles outros que apareceram. E você nem tem do que reclamar.

Estava eu, respirando novos ares, te achando um traste, sem nem querer ouvir falar daqueles seus amigos, e você diz novamente que vem. E dei um daqueles sorrisos que me eram proibidos sem que ninguém visse. Era provável que desse o cano de novo, mas trouxa que sou, alimentei a hipótese. Mesmo aqueles que me falavam pra desistir de você estavam mexidos com a possibilidade.

Ao contrário do que imaginei que fosse fazer quando te encontrasse, saí de casa apressada e não quis nem saber o que estava vestindo. Eu não me importava mais, lembra? Pouco antes de você fazer sua aguardada aparição, caiu uma chuva forte e constante durante uns 20 minutos e você ainda se atrasou! O suficiente pra me deixar com frio e com raiva de você, mas não liguei pro meu cabelo molhado. Não só eu, aliás. Será que você tem consciência de que faz isso com as pessoas ou só se faz de pazzo?

E você estava ali, a alguns metros de distancia, onde eu nunca achei que fosse estar. Esquisito como sempre, agindo como sempre. Entretanto, eu não parecia ligar. Eu não deixei você mexer comigo como fazia antes. Começou simpático pra ver se me cativava de volta, fez aquelas piadinhas que alguns não entenderam – mas eu entendia, como nos velhos tempos. Não adiantou. Nem o romantismo, nem o inesperado.

Não adiantou ficar esperando. Quando o mundo finalmente girou e você quis finalmente aparecer, eu já não queria mais. É essa a recompensa do preterido, do despeitado, do vingativo. É poder dizer pra si mesmo (e pra si mesmo ninguém consegue mentir) que não rola mais, que já não dá mais tempo. Que eu fui uma puta de uma imbecil em ficar te esperando achando que você também estava ansioso pra vir. Pode até ser que estivesse, mas quando veio já era tarde demais.


E quanto a isso, Steven Tyler, ninguém pode fazer nada. A menos que a gente chame o Superman pra girar o mundo pro outro lado para voltarmos no tempo. Do contrario, eu poderei dizer tranquilamente que eu não precisava ter ido ao show do Aerosmith ontem. Sinto muito.

2 comments:

Anonymous said...

Melhor post. Ever. Sério mesmo.

Fernando said...

Hahaha..
Excelente Silvinha.

Eu já esperei por ele tb, e de tanto esquecer, nem sabia q teria o show até q vc me disse q ia.

Beijos