Wednesday, December 20, 2006

Manual simplificado do Reveillon

ou "o espirito de Baz Luhrmann nao me abandona"

Este é o Duplas Crônicas desejando a você, caro visitante e/ou amigo, um Reveillon cheio de bebida boa e gente agradável.

Nada de "tomar banho" de Sidra Cereser sabor pêssego em Long Beach, ou agüentar vizinho endividado reclamando da vida. Nada de botar fogo em bombril pra simular os fogos de artifício. Também não desejo que ninguém do meu círculo de convivência passe a virada na Av. Paulista (ok, gente, eu sei que ano passado teve Banda Calypspo, mas né!!).

Não invente de fazer bate-volta em Santos, provavelmente você passará a meia noite descendo a serra. Por favor: tem sempre um maleta que encasqueta que precisa comer lentilha e que não come peru porque o cazzo do bicho "sisca para trás". Não seja uma destas pessoas. Coma o que seu estômago agüentar, mas não se esqueça que O CHAMPAGNA tem gás e as deliciosas bolhinhas da bebida também ocuparão lugar no seu estômago. Não vale ter piriri no meio da fanfarra e pedir sonrisal pro dono da festa.

Tente se manter com todas as peças de roupa com as quais foi à festa (exceto pelo sapato). No dia seguinte vai todo mundo evitar o assunto, mas a bunda branca de uns e outros ficará para sempre na memória. Deixe o celular em casa. Depois da quinta taça de champagne... Bem, você sabe o que acontece depois.

Siga ou não todas essas recomendações, BUT TRUST ME ON ONE THING: todos aqueles que alegam odiar no reveillon o fazem, na verdade, porque nunca passaram uma virada de ano digna de memória. A sorte está lançada.

Cheers, baby, see you next year com mais causos.

Ah, pra quem ainda pula ondas: peçam para que meu companheirinho volte a escrever. Receio que ele tenha sido abduzido por ovnis ou, pior, esteja entalado no hatch da ilha de Lost...

Monday, December 04, 2006

O novo dia do novo tempo que começou

Pelamãedoguarda, como passou rápido!

Esta deve ser a 6ª. vez consecutiva que você olha para o calendário e se dá conta que dezembro já chegou. E dezembro não é como setembro ou maio. Dezembro é o último mês do ano, o que soa desesperador para o nosso amigo aqui de baixo que queria emagrecer e agora começa a ganhar torrone nas cestas de Natal, para a descontrolada que havia prometido economizar para passar a virada de ano num lugar diferente da praia no centro de Bertioga e para qualquer outro mortal habitante deste planeta.

Uma considerável corja tem o discurso pronto sobre como eles odeiam o Natal, o quanto é uma festa capitalista criada pelos Papas pedófilos do passado. Relembram as brigas de família ao redor da mesa da ceia, do tio bêbado que fica falando e fazendo obscenidades com a “patroa” antes da troca dos presentes e de como a carne do peru da prima da sua mãe fica com gosto de isopor. Sem contar os mais radicais, que bradam por ai que “não tem porque comemorar o nascimento daquele Nazareno bastardo”. Existem ate os que gostam de toda a comoção, mas ileso ninguém fica.

Você já passou pela árvore na frente do lago do Ibirapuera e certamente se impressionou com a cafonice da mesma, já tentou ir ao cinema do shopping e desistiu depois de 40 minutos procurando uma vaga no estacionamento. Sua mãe já começou a passar horas no telefone com suas tias, tios e avós para decidir onde vai ser a fuzarca este ano e quem levará o que para a ceia e o almoço. No final é sempre peru, farofa e torta mousse de chocolate.


Sua companheira de trabalho continua se perguntando se deve ou não comprar presente para o novo namorado. Só estão namorando há 3 semanas, sabe como é. No fim das contas ela vai ganhar um cartão Hallmark amassado do Garfield. Ele, uma camisa e um cinto caramelo da Mr. Kitsch. As casas Bahia, a Marabraz, as operadoras de telefonia celular e fixa: estão todos tentando te convencer a comprar presente até pro vizinho do prédio que segura o elevador bem quando você está atrasado . A tal compaixão Natalina que não convence a ninguém.

Aposto que algum amigo seu, desavisado, enviou por email o bendito vídeo do wear sunscreen, você, aposto, se emocionou de novo e acha que vai conseguir tomar isso como uma lição da vida. Criancinhas felizes e banguelas se amontoam sobre o Papai Noel nos comerciais da TV (por que insistem em colocá-las para cantar?!).

Você tinha exatos 50% de chance de adivinhar o que ganharia no amigo secreto: um perfume do Boticário ou um DVD da Ana Carolina com o Seu Jorge. Segunda opção. Há, por isso, quem prefira a Páscoa, “com chocolate não tem quem erre”. Agora é rezar pra sua prima balzaca solteirona não localizar o tal presente antes da ceia ou a dupla vai gritar impiedosamente no seu ouvido noite adentro.


Ah! Sinta-se aliviado: esse ano você não ouviu o (a) cantor (a) Simone cantando a famigerada canção de John Lennon "então é Nataaaaaal, e ano novo tambéééém...". Vestida de branco, descabelada e berrando daquela forma, suspeito que Simone seja uma alma penada hermafrodita. Medo.


Tente não abrir o botão da calça depois do almoço na casa da vó e tente não dormir enquanto seu tio assiste as reprises dos gols do Garrincha na Copa de 70. Tente não caracterizar como diferente o presente daquela tia de quem você sempre esquece o nome. Mas confie em mim quando eu digo que ano que vem será tudo igual.

Monday, November 27, 2006

Boicote

Passada rápida que o fim-de-semana deixou rastros e uma infecção no meu olho, fiquei me sentindo o próprio Jatobá na novela América, só que minha poodle aos 12 anos de idade não tem cacife pra bancar o cão guia Quartz – mas isso é assunto pra outro dia. O breve encontro com este blog tem um motivo especifico: a minha incomensurável repulsa a nova campanha da Rainha.

Se não me falha a excelente memória, nunca comprei nenhum tênis desta marca e com a veiculação desses novos “reclames” na televisão, a previsão é mesmo de que isso nunca venha a acontecer. Tem aquele filme da mulher vestida de Rainha tirando sarro da pobre coitada que corria no parque dizendo que ela vai ficar gorda. Esse até que é simpático.

A ojeriza surge mesmo quando aquele sujeito medonho invade a tela da minha tv oferecendo tênis para os clientes. Pra começar que a figura dele é completamente anti-comercial: aquele figurino dele é comparável ao de um vendedor de loja picareta do Largo 13. A barba por fazer NÃO FICA CHARMOSA naquela porpeta humana. Não tem beleza nem charme nem carisma que salvem. Ele é mesmo feio e ponto final.

O trocadilho infame é realmente infame e contra fatos não há argumentos: alguém riu quando o empiastro ofereceu os tênis com sistema NUKI e AIKOM pros clientes? Eu não e espero que você leitor também não tenha feito essa besteira. O produto (que já não me aprece ser bom) não é devidamente valorizado. Alguém entendeu como funciona o ajuste de pisada de acordo com cada pessoa ou mesmo pretende adquirir um par deles? Eu quero um tênis que já venha ajustado, pelo amor de Cristo!

Trocando em miúdos, boicote aos tênis Rainha. O corpo é meu e eu esculhambo o quanto eu quiser.

Tuesday, November 21, 2006

Quando a água bate na bunda

Nessa altura do ano, quem nunca se desesperou para emagrecer ou entalou na porta ou nasceu magro e não liga para essas futilidades. Balofo que é balofo já cometeu desatinos em busca de uns quilos a menos e raros são os casos de sucesso. Não querendo ser pessimista, evidente, até porque ontem mesmo eu recomecei a dieta a sério.

No começo é tudo uma delicia, até mesmo ir ao supermercado fazer as compras light. Alface, rucula, almeirão, rabanete e semente de linhaça que você nunca pos na boca mas esta disposto a começar a comer em nome da saúde. Sim, você pensa,
não é só a estética, eu quero ver meus netos, quero ter mais disposição.

Passando reto pelo gorgonzola, picanha maturada e pelo pacote de Sonho de Valsa, enche o carrinho de Maxi Goiabinhas Bauducco – só 90 calorias, comemora. A maior tentação mesmo é não pedir o pack de Marlboro normal que antigamente eram tragados em menos de uma semana.

Na academia, a salvação: agora vai! Quem sabe você não acaba um viciado em maratonas, não é mesmo? Compra tênis novo com amortecimento até no cadarço, camiseta de dri-fit falsificada e os 30 minutos na esteira parecem o caminho de Santiago de Compostela (agora sabemos por que Paulo Coelho cometeu o desatino de escrever O Diário de um Mago). Depois eu acostumo, ilude-se.

Com o apetite aberto pelo exercício, a vontade é de pedir um x-tudo ali mesmo na lanchonete da academia, mas os olhares de reprovação seriam fatais. Você, então, volta pra casa pra atacar suas guloseimas permitidas. Damasco seco, iogurte desnatado, as benditas goiabinhas e, quem diria, gelatina (zero calorias!).

Após tentar deglutir a metade do mamão papaia no café-da-manha, você se espanta com o “sanduíche”: uma fatia de pão integral e outras duas de queijo minas. Essas ultimas facilmente confundidas com uma folha sulfite. Na quinta xícara de café preto e mais ligado que luz de freio no rush da 23 de Maio, vem o ronco do estomago e o conformismo: daqui a pouco tem lanchinho.

Faltando mais de uma hora para o supracitado, você não consegue mais se concentrar em coisa alguma. Tudo vira comida. A borracha Faber-Castell, inclusive, corre sérios riscos ali dando sopa. Hum, uma sopinha de capeletti... A maçã não serve nem pra engambelar o hipotálamo, mas você segue em frente.

Almoço, jantar, folhas, um fio de azeite e o peito de frango mais ressecado que o cabelo do Walderrama... CHEGA! Chega um momento em que você quer bombardear a Turquia por ser a fornecedora dos damascos, desaparecer com os iogurtes da geladeira e sair pelas ruas arremessando Maxi Goiabinha feito Papai Noel em favela.

Rucula? Acelga? Podem me dar isso para comer quando eu começar a trotar ou usar uma ferradura. Alem do mais, eu não tenho 4 anos pra ficar comendo gelatina feito um babaca! Eu, correndo igual um hipopótamo naquela esteira? Nunca mais!

A mudança de vida não durou nem duas semanas (ainda mais sem os fieis escudeiros nicotina e alcatrão). Não vai ser dessa vez que a calça vai fechar com tranqüilidade ou que você vai desfilar esbelto pela praia. Em contrapartida, domingo tem churrasco e estão avisando da portaria que a meia mussa/meia calabresa já chegou. Quer coisa melhor?

Tuesday, November 14, 2006

Momento de reflexão

Eu queria ser boazinha, priorizar as qualidades e não os defeitos das pessoas, não ter uma língua viperina nem reclamar o quanto eu reclamo. Queria mesmo.

Os erros de português das pessoas não me incomodariam mais nem as barbeiragens dos motoristas tresloucados das ruas dessa cidade. Eu não teria chiliques demorados ao tentar encontrar uma musica decente nas rádios e como não iria encontrar, suspiraria conformada em passar mais 3 minutos ouvindo Charlie Brown Jr ou um reggae picareta qualquer.

Eu não ligaria para balada intransitável nem para loser com xaveco furado, teria sempre um sorriso no rosto mesmo com o calor derretendo minha maquiagem. Crianças ensandecidas fazendo fuzarca em shopping receberiam um afago sincero vindo de Silvia Maria.

Eu não ligaria pras grandes bobagens esotéricas que o povo fala nem pros fritos de rave gritando “good vibes”, iria inclusive retribuir as energias positivas (sabe-se lá como). Deixaria de fazer piada com a desgraça alheia e repensaria antes de fazer comentários sarcásticos.

Gostaria muito de ser daquelas pessoas que acham que “esta tudo bom”, “qualquer coisa serve” ou “vai esse mesmo”. Mas gente: Quem não chora, não mama, cantavam nossos antepassados nas matines de carnaval. Pensem bem!

Então, depois do êxito em todas essas tarefas, eu conseguiria emprego na Copag no cargo de Dois de Paus e você não teria mais este blog para ler.

Wednesday, November 01, 2006

O Brasil é mesmo lindo!

Vi outro dia na TV que um pai de família estava economizando até no absorvente de sua senhora para conseguir bancar as férias da prole em Maceió. Feliz da vida, mostrava as passagens e o folder do hotel – que, com certeza não vai ser 1/3 do que prometia no impresso distribuído pela CVC Turismo. Voltarão todos achando que foi a viagem dos sonhos.

Desconfiando ser um pouso de emergência não-declarado, os quatro desembarcam perto de uma casinha com telhado de sapê e estrutura de madeira maciça e quase têm um piripaque por causa do calor. Quarenta e dois graus sob sol escaldante os fazem repensar se não era melhor ter esperado dentro do avião. Por incrível que pareça, a tal casinha é o aeroporto, que passou a contar com esteiras rolantes para as malas há cerca de 3 meses. Moderno.

Seguindo a bandeirola da guia turística, Nelson, Mariângela, Nelsinho (10) e Caíque (7) seguem para o ônibus (sem ar condicionado) com destino ao aclamado hotel. O caminho tortuoso e de terra batida provoca tosse em metade do circular, mas a esperança de uma semana de sossego nas praias paradisíacas os faz esquecer do incomodo.
“Ué... no papelzinho mostrava o mar azul, benzinho, por que será que ele está marrom hoje?”. “Deve ser a maré, querida, já, já passa”.

O check-in do quarto é feito manualmente e demora longos 40 minutos. Duas camas de casal com varanda de frente para o mar. Um sonho, não fosse a colônia de pernilongos instalada perto da porta do banheiro, as castanhas de caju e a lata de coca-cola a módicos R$8,00 cada que o marido desavisado pegou do frigobar.

Andando até a praia, a família avista um ou dois sapos pelo caminho. Foram avisados que perto do anoitecer é comum eles aparecerem. Tão comum que Nelsinho, com sua sunga verde tamanho M Adulto apesar da pouca idade, vem trazendo o simpático anuro nas mãos, para desespero de sua mãe. A areia grossa e escura logo é coberta por algas amarronzadas, tal como o mar “límpido” da capital alagoana. Entreolham-se todos e ninguém têm coragem de mergulhar.

A piscina, apesar de menor do que o esperado, se mostra a grande salvadora da acalorada família, que larga chinelos e cangas na primeira cadeira vazia e se arremessa na água fosca de tanto cloro. Constatam que a temperatura dentro e fora da piscina é a mesma. Fora dela pelo menos têm a certeza de não estarem nadando em urina alheia. Caíque, com a bóia lhe apertando os braços, corre para o chuveiro. Pena que a fila promete uns 10 minutos de espera.

Mariângela, já no quarto, percebe que esqueceu os itens de banheiro em São Paulo e começa o racionamento de shampoo e “creme rinse” cedidos pelo hotel. Nelson resolveu aliviar seu intestino antes de todos, a privada acabou entupida e a manutenção chega para resolver o problema exatamente na hora do banho da matriarca, que tentava desembaraçar as madeixas tingidas com esforço e sem condicionador.

Já vermelhos do sol, os meninos chegam ao restaurante para jantar estupefatos com o enorme buffet. O mais novo se encantou com acarajé apesar de não estarem na Bahia e o quitute regado a dendê foi tudo o que o menino comeu. O resto da família optou por alimentos leves, dado o calor subsaariano. Nelson se refrescava com sua habitual cervejinha.

Bendito seja o ar condicionado – que só funciona no máximo ou no mínimo, forçando a família a pedir cobertores e deixar o aparelho funcionando em temperatura polar para conseguirem dormir. Antes disso, porém, a mãe deixou bem claro: escovar os dentes com água mineral (
daquele frigobar). Apesar de exótica a coloração amarelada, ela não deve indicar coisa boa. Já na cama, os pimpolhos se chutam sem parar disputando espaço na cama.

Ajudada pela quantidade industrial de acarajé que o caçula ingeriu, a briga fraterna resultou em vomito. Ambos choravam, um de enjôo e o outro de nojo. A mãe aflita enfiou os dois na banheira e ligou 3 vezes na recepção para que trocassem os lençóis enquanto o marido, chumbado, roncava na cama em trajes mínimos, para desgosto da pobre camareira. Além de limpar vomito a meia-noite, ainda é obrigada a ver um verdadeiro leão marinho de ceroulas.

Ao final dos sete dias, o mar não clareou, a água da piscina não refrescou e os sapos coaxavam cada vez mais alto. Os pernilongos não deram trégua nem com repelente radioativo e a conta de frigobar beira o inacreditável. Nelsinho pegou micose em suas protuberâncias adiposas, Nelson-pai não parou de beber nem seu filho mais novo de vomitar. Mariângela arrumou as malas cuidadosamente e voltou para a megalópole dizendo que se divertiu como nunca.

Thursday, October 26, 2006

A vida como ela é

Arrisco-me a dizer que o 17º é o ano mais longo da vida de um individuo. Aquela necessidade de se livrar da adolescência e suas complicações e aquela ansiedade de fazer logo os dezoito anos e acabar com essa palhaçada de ser chamado de aborrecente.

Todo mundo pensou que a vida acadêmica seria uma mamata, que ninguém encheria mais o seu saco para estudar e que as notas não seriam problema. Ate o bar da faculdade começar a encher cada vez mais cedo, o professor de filosofia mandar os alunos lerem Kant e a primeira DP for descoberta.

Aos 17, as táticas para falsificação do RG para entrar na balada variavam entre a mais tosca e a invejada por estelionatários. Ninguém pode ser barrado em porta de balada por não ser maior de idade, é muito constrangimento. O coitado finge que tem 18 anos e o segurança finge que acredita.

O quesito carro é, sem duvidas, o mais influente na hora de rezar pra apagar as 18 velas o mais rápido possível. Não tem coisa mais desagradável do que pedir carona pra mãe de amigo ou para aquele pobre coitado que já tem carteira de motorista e por conta disso se vê obrigado a buscar e levar todo mundo para todas as regiões da cidade (sem reclamar, afinal, ele já passou por isso). Para evitar dar mais trabalho, junta-se os que moram mais próximos e um acaba dormindo na casa do outro. Se acenderam um fosforo no quarto, ele entra em combustao num piscar de olhos.

Chega o grande dia e o Peugeot 206 com o laço vermelho não esta na garagem da sua casa. Por culpa da famosa Lei de Murphy, na primeira oportunidade de mostrar seu rg original, ninguém pede para vê-lo e você repete no Exame Pratico da auto-escola. A essa altura mais um ou dois amigos já ganharam alvará dos pais para usar o carro da família e arranjar carona nem é mais um aborrecimento tão grande.

Vem chegando a conclusão de que na faculdade também é preciso estudar e que logo, logo vai ser preciso arrumar um emprego. Finalmente com a CNH em mãos, os novos maiores de idade disputam quase no tapa para ver quem vai de carro e, com medo de perdê-la, o motorista não ingere uma gota de álcool sequer. Cada um dorme na sua casa, afinal, estão motorizados, não tem cabimento não deixar o outro em casa.

Mas e a graça de brigar pelo colchão melhor na casa do amigo? De comemorar dentro da balada a pseudo ingenuidade do segurança ou de chegar em casa feliz da vida com a garrafa de vodka que conseguiu comprar na padaria sem a carteira de identidade? Das aventuras (luaus, inclusive) e medos que uma cambada de adolescente viviam, num verdadeiro comboio arruaceiro?

Foi tudo embora no seu aniversario de 18 anos e você nem tinha se dado conta.

Tuesday, October 17, 2006

Eu só corro de ladrão

Dizem por aí – provavelmente a sua avó – que tudo na vida é uma questão de habito e eu, pra variar, vou ter que discordar. A gente se habitua ao que é bom, ao que nos faz felizes e não a andar de ônibus, por exemplo. Anda de ônibus quem precisa e o mesmo me parece ser com exercícios.

A atividade física salvou a vida do obeso quase moribundo, do velho com problema cardíaco, do Thunderbird que na época estava mais pra aspirador do que pra VJ e do Bolinha da 3ª. Série do primário que só queria saber de comer risole de quatro queijos na lanchonete da escola. Hoje esse pessoal deixou de ser sedentário e dá declarações tal qual um dependente químico sob controle. Em suma, encontraram a luz no fim do túnel (bem comprido, de preferência, que é pra queimar mais calorias).

Tem toda a historia da endorfina que o cerebro libera, dos resultados no corpo, da disposição recuperada
(quem nunca subiu uma ladeira pra chegar numa balada e precisou esperar uns 2 minutinhos pra não entrar ofegante?) e, há quem diga, do vício. Sim, vício em corrida! Eu não tive essa sorte.

Não me habituo nem me vicio em nada que me elimine calorias. Eu sou viciada em vasculhar profiles do Orkut, em jogar Freecell, em comer pão de queijo, Ferrero Rocher e Trakinas. Isso ninguém vangloria. Eu até tento, vou à bendita academia quase que religiosamente com o intuito de me viciar qualquer dia mas isso ainda esta longe de acontecer. Reclamo na musculação, ao subir a escada pra sala das esteiras e dos filmes chatos que passam no horário em que estou lá. Já tentei tênis, natação, hidroginástica, squash, body pump, body combat, step, mat pilates, body balance e nada pareceu dar certo. Em breve iniciarei uma nova modalidade:
body rolling (down the street).

Ou eu que sou muito chata ou as pessoas são persuadidas muito facilmente. Fizeram um evento lá mesmo na academia com o seguinte chamariz: CORRIDA DE 12 KM E DEPOIS SHOW DO BARAO VERMELHO. Todo mundo comprando a camiseta, com sorriso de quem tinha ganhado na loteria... Eu seria capaz de correr o triplo disso para NÃO ASSISTIR UM SHOW DO BARAO VERMELHO! É mentira, é claro, mas não tinha uma outra recompensa? Um Celta usado já estava de bom tamanho.

A Nike, no ano passado, também começou com apelos.
“Estou correndo porque..”. Porque tenho pernas. Se não tivesse, rastejaria. Tenha dó, né, pessoal! Este ano a campanha está mais agressiva, fui a um barzinho daqueles já mencionados aqui e encontrei no espelho do banheiro um adesivo muito do grosseiro. “Não adianta nada arrumar o cabelo se o corpo não esta em forma. Nike Corre 10K”. Tomei mais uma pra esquecer, acordei de ressaca e o máximo que consegui fazer foi me escorar até a gaveta de remédios pra dor de cabeça.

Trocando em miúdos, o que a Nike proporciona aos pobres coitados é uma manhã de suadeira consentida com a desculpa da superação de limites e liberação de endorfina... Eu quero a minha endorfina em dinheiro, alguém pode extraí-la via intravenosa? Não contentes, os participantes ainda bebem aquele suco aguado chamado Gatorade, confraternizam-se numa “balada” ao fim do evento e na segunda-feira 70% chega no trabalho por conta das doses cavalares de Dorflex.

Vovó costuma dizer também que aqui se faz, aqui se paga. Meus exames de rotina, pelo menos, ainda não começaram a se manifestar, a desgraça esta acumulada na barriga, ancas e braços (pra ser otimista!). Já diria o glorioso Chico Buarque (viciado em futebol com os amigos, ninguém é perfeito):
Mesmo com toda a fama / com toda a brahma / com toda a cama / com toda a lama / A gente vai levando / a gente vai levando / a gente vai levando / A gente vai levando essa chama.

Sunday, October 01, 2006

O papelao

Eu não sou dada a grandes demonstrações de afetividade, interação com o publico desconhecido, improvisos e espontaneidade desde... desde sempre. Aos três anos, na minha festinha de aniversario a senhora minha mãe me pediu para dar uma risadinha para a foto, do alto do colo de palhaços simpáticos. Visivelmente desconfortável, a mini Silvia Maria esticou o lábio com o dedo indicador, simulou um sorriso e gerou olhares incrédulos da platéia que cantava parabéns.

Foi assim durante anos, passava muda pelos lugares com medo de ser abordada por uma tia de amiguinha mais afetuosa, um transeunte pedindo as horas ou a professora querendo saber o resultado da equação de primeiro grau. Timidez e insegurança o leitor já deve ter diagnosticado, mas hoje estou curada da mudez voluntária, decidi mudar de tática: falo para evitar silêncios sepulcrais.

Antes, porem, dessa transição decisiva em minha vida, passei por um vexame em família. Pouca gente fala no assunto (ainda bem) com medo que eu reaja da mesma maneira. Minha querida avo fazia 70 anos naquele 5 de outubro e organizamos uma festa surpresa na sala do meu modesto apartamento. Não era só um bolinho pra não passar em branco, não. Com copeiras, frutos do mar, queijo brie e vinho branco, a festa exigiu colaboração e paciência da família inteira alem de causar um certo rombo financeiro. Veio gente da Penha, Araraquara, penetras, crianças, diabéticos e alguns que eu duvidava ate que estivessem vivos.

Acontece, caro leitor, que apesar de tentar fingir, eu tenho traços de mimo em minha personalidade de caçula. No dia seguinte ao grande evento, partiria para a famigerada cidade de Porto Seguro, era minha viagem de formatura, pela qual eu estive esperando alguns longos anos e ninguém parecia se importar com isso. Ninguém foi me levar no cabeleireiro, fui comprar Havaianas e Sundown 45 sozinha e também sozinha arrumei minha mala. Não é nada, não é nada... mas foi a primeira vez que isso me aconteceu e eu não estava gostando.

Ainda não sei dizer como foi possível acomodar tanta gente dentro desta casa. Minha avo, muito espirituosa, chorou com a surpresa, o jantar corria dentro do previsto a não ser pelo “animador” que minha mãe contratou sem avisar ninguém. Típico dela, mas ninguém desconfiou, muito menos eu que detesto ocorrências inesperadas. Adentro a sala um sujeito vestido nos moldes do cantor Falcão dizendo que era amante da minha avo (o que não teve tanta graça já que meu avo havia morrido um ano antes) e outras gracinhas que pareciam animar a platéia da 4ª. Idade.

Como me é de habito, fiquei escondida atrás da multidão temendo qualquer tipo de abordagem por parte do comediante de araque. Não preciso nem dizer que foi em vão e no final das contas o homem me puxou pela mão, chamando todas as mulheres da família sabe-Deus pra que. Desvencilhei-me das mãos dele e agradeci o convite mas a massa estava enlouquecida e me empurravam para o centro da sala.

Alem da exposição, me contrariaram e nem deram bola pro meu nervosismo pré-viagem. Some ali algumas tacinhas de vinho e... Silvia Maria teve, vamos dizer, um colapso nervoso, gritou com o cidadão e com quem mais lhe dissesse pra participar da brincadeira e como se não bastasse, começou a chorar compulsivamente. Tudo devidamente registrado em vídeo, pela insolente cunhada que me persegui ate a cozinha enquanto eu soluçava e tentava falar alguma palavra coerente.

Uma meia dúzia de pessoas tentou me acalmar em vão e como a coisa não parecia melhorar em nada, minhas duas amigas presentes tiveram que me tirar do local. Agora era eu, chorando de nervoso, vergonha (chame do que quiser) no hall do meu prédio. O cover do Falcão encerrou sua performance, recebeu seu cheque, foi me pedir desculpas e eu CONTINUAVA CHORANDO, agora com medo de levar bronca da minha mãe.

Passei pela sala escoltada pela mesma (compreensiva, graças a Deus) e fui direto pro meu quarto, onde recebia os quitutes e o suco de maracujá trazidos pela minha prima, que se solidarizou com a minha causa e me ajudou a fechar a mala. Não me perguntem sobre o vídeo, eu não sei do paradeiro dele.

O momento traumático foi uma suplica: não me façam surpresas, não me levem a mostras de arte interativas, a espetáculos do naipe “de la guarda”, não contratem falastrões para “animar” o meu aniversario. NÃO ME SURPREENDAM ou eu posso ter um chilique.

Friday, September 22, 2006

O Luau em Peruibe

Uma das piores desgraças que podem ocorrer a um ser humano por volta de seus 17 anos é se ver de férias com os pais e alguns amigos na praia, pouco dinheiro no bolso e nenhum meio de locomoção motorizado. Essa me parece ser a única explicação plausível para que alguém organize ou participe de um luau. Para mim, é claro. Experiências próprias e nem tão recentes me disseram o contrario: há, sim, quem goste.

Como não tem carro nem idade para dirigir, o pobre jovem se vê num mato sem cachorro, sorte que não está sozinho nessa, há dezenas de outros na mesma situação. Eles querem beber, fumar maconha, tentar pegar mulher... Não havendo outra saída, encontram com pouco esforço um camarada que diz saber tocar violão e pronto, a diversão noturna esta armada.

São raras as meninas que entendem o espírito da coisa. Uma vai de saia curta, a outra de salto e a terceira esquece da umidade do mar e só vai perceber que a escova no cabelo desandou quando chegar em casa. O mais lesadinho do grupo tenta atear fogo em galhos molhados e acaba estragando o isqueiro. A grande maioria restante fica em volta da garrafa de Soda Limonada quente preenchida com vodka Tchaikovsky também quente, mas ninguém se incomoda em entornar a mistura explosiva no gargalo.

A areia molhada na bunda não parece atrapalhar o aquecimento do companheiro do violão claramente desafinado. Ele tenta tocar o Brasileirinho e todos acham que as cordas estão estourando. Não tinha medo o tal João de Santo Cristo era o que todos diziam quando ele se perdeu... Não preciso nem falar que depois das goladas do drink, todo mundo se perdeu na letra da famigerada canção.

Algum menino de apelido esquisito (Planc, Meleca, Lombriga...) acaba de assumir o posto de Zé Droguinha da turma e vai preparando o beck, véio, que acabou parecido com um bombom Sonho de Valsa. Mesmo assim, pra chamar a atenção do mulheril, um e outro discorrem sobre a importância de Jah nessa Era. Bob Marley e Gilberto Gil:
tudo, tudo, tudo vai dar pé... no woman, no cry...

Meia dúzia levantou pra dançar forro mesmo ouvindo Tears in Heaven do Eric Clapton, é o álcool batendo na cabeca do pessoal. Pelo mesmo motivo, o gordinho suado tenta (em vão, claro) agarrar qualquer espécie do sexo feminino que encontra pela frente; a baixinha de nariz esquisito liga pra melhor amiga que ficou em SP se lamentando por algum amor mal-resolvido; a que estava de saia encarna a Sharon Stone caiçara e nem liga; o maconheiro declara que viu os sete anões andando pelas redondezas e sai em busca da Branca de Neve.

Apesar de parecer concentrado em sua performance, o rapazinho do violão não se esquece de beber e dar suas tragadas também. Logo ele, que sóbrio não servia pra tocar nem em quermesse de interior, resolve desafiar a si mesmo (e a paciência dos outros) tocando Patience, com direito aos assovios e a mexida de cabeça do Axl Rose. Quem passa por ali não sabe se ele esta recebendo um espírito ou falando Javanês.

Já passam das 4 horas da manha, contudo, o luau só se da por encerrado quando tem dois vomitando, um dormindo, pelo menos uma mulher chorando e um outro coitado com medo do pito que vai levar quando chegar em casa. Uma caravana segue a pé rumando as casas, já combinando o que farao no dia seguinte. Antes de mais nada, atacar as sobras do churrasco pra matar a fome.

Tuesday, September 12, 2006

As pessoa tudo

1)
- Gérson, tive uns pobrema hoje...
- Fala Naldo, que que tu apronto rapá?
- Prontei nada não, só tentei arribar umas coisa lá em casa.
- Arriba o que?
- Eu e a Keyla rabisquemo uns desenho lá pra puxar um quartinho nos fundo.
- E ai?
- Só sei que rabisquemo, rabisquemo e rabisquemo e num encontremo solução.
- Pior é eu.
- Que que ta pegando?
- To com uns vazamento na laje....
- Vixi meu!
- É memo...achei que se eu tirava a caixa de a´gua dava menas manutenção...tava entrando sujeira.
- Mas e aí?
- E ai nada, ta dando uma pá de mofo na parede dos minin...
- Mas Naldo, porque tu num pois uma tauba pra cobri ela?
- Ta ai, tu é muito esperto memo, vou roubar uma tauba da obra lá perto...


2)
- Dayane! Dayane! Tua mãe ta te chamano lá dentro!


- Oi mainha, fala.
- Dayane, eu num vô mais ficar cum a tua neném!
- Porque mãe?
- Por causa que em vez de você arrumar um serviço você fica dando piscadela pra esses moço aí do bairro.
- Ah mãe, pára de me fica me encheno! Eu já tenho 16 anos! Quero ir pro salão dançá né!
- DançaR minina, dançaR! Dançá o que?
- Ai mãe, sou eclética...danço funk, uns black, uns forró! Uns régay também!
- Com aqueles malandro tudo né!
- Nada não mãe! Cum as menin aqui da rua, a Jaslana, a Jéssica e a Catymilla!
- Quero só vê hein Dayane, tu ta maior folgada! Então ta, daqui a neném...cadê a Joelma?
- Tó mãe, cuida dela por causa de que as criança da creche ta cum uns catarro escorrendo, ela num pode pegar pé de vento.
- Ta fia, vai lá! E vê se vai de calcinha pra num ganha neném né!




3)


- Berenice, senta aqui com eu pra nóis conversa...
- Claro Margaretty, vô pega umas mexirica pra nóis i comeno...
- E aí fia, como ta as coisa?
- Ai ta indo né Má....o Jefferson arrumou um serviço, ele fez uns curso de zininformática né?
- É... o fio da minha colega lá do serviço que eu fiz no ano passado na casa da dna. Leila também feiz.
- Intão minina, e vc e o Naldo?
- A gente ta com uns pobrema na laje né, mais ele que é um besta memo, que num sabe faze nada. Ô diaxo de homi! Se num fosse esse cavalão na cama acabava memo era eu dexano ele...
- Faiz isso não amiga...Vê só que outro dia tava falano com uma colega no circular e ela contou que o marido dela foi pro bar cum uns amigo né? Aí a cumadre dela que é prima de uma colega da tia dela falo pra minha amiga que um colega dela contou ,porque uma meia irmã dele, que é de menor, viu, o esposo dela saino da casa da Marlene, uma mó facinho que tem lá perto da casa dela lá....
- Jura?
- É! Mais aí a minha colega chamo o marido na sorveteria do bairro, pego ele pelos cabelo, ameaço ele com uma garrafa quebrada que se ele fosse se engraçá com aquela piranha de novo ela cortava os bago dele fora!
- Minina jura?
- Juro! Aí ele deu um tapa na cara dela, disse que rapariga assim era semente da discórdia e que ele num se enfronhava cuninhuma delas!
- Cachorro!
- Se é cachorro eu num sei, mas olha lá, ele se resolveram tudo a situação! O amor é bunito né! Inscrusive porque ela tava esperando neném, toda embuxada e ele bateu de leve, afinal ela tava dando ao luz ao sétimo fio dele!
- Mas e os outro dois?
- O Marcondes ela num sabe de quem é o Wallace é do segundo marido dela...
- Ah ai sim, tudo bem....vô entrar minina...vô ver o seu Gugu....a Joelma vai cantar!
- Vai lá muié!


E LEMBRANDO QUE TUDO ISSO NÃO TEM GRAÇA NENHUMA....

Sunday, September 10, 2006

Rock Sujinho

Lá vou eu de novo discorrer sobre barzinho. Ao invés de Vila Olímpia, a parte menos abastada do bairro de Pinheiros. Troque o pop/rock por rock. “Mas rock mesmo, não essas babas que tocam nas rádios”. Aaah, ta, sei...

Para se chegar ao estacionamento mais próximo, tem-se que andar uns 8 ou 9 quarteirões e o flanelinha acaba sendo a saída. Cabelos compridos, all star cano alto ou coturno gasto, camisetas puídas do Iron Maiden, Pearl Jam e Angra para ambos os sexos, camisas de flanela, a verdadeira sucursal de Seattle.

É festa de confraternização “lá do serviço, fica chato não aparecer”. Fecham uma mesa com cadeiras desconfortáveis e a cerveja – pelo menos – é gelada com preço justo. Pinheiros e Vila Madalena levam cerveja a serio, não ouse não pedir Original. O povo vai chegando e a banda ensaia os primeiros acordes da guitarra e do baixo:

- “SOM. SOM. SOM... 1, 2, 1, 2, 3, 4... Se um dia eu pudesse veeer meu passado inteiro. E fizesse parar de chover nos primeiros erros... Soool, meu corpo viraria Sooool...”

Ainda estão na terceira musica e a gordinha de tailleur de microfibra turquesa já demonstra sinais de alguma embriaguez. Pessoal da informática ainda discute os pênaltis do Rogério Ceni e o do financeiro defende o PSDB com argumentos talvez infundados.

- “O que? A Marta? A Marta acabou com a cidade...”

- QUE PAIS E ESSE???? QUE PAIS EH ESSEEEEEEE?? - pergunta o vocalista da banda cover.
Tem coisa mais deprimente do que banda cover, eu pergunto?

O próximo bloco do show tem a seguinte definição: musicas que as pessoas só sabem cantar duas frases. Começando com Eagles: Welcome to the hotel Califórnia. Such a lovely place, such a lovely face. Prosseguimos com Doors em sua famosa Roadhouse Blues: let it roll, baby, roll. Let it roll all night long. (nessa hora a gordinha de tailleur - que provavelmente trabalha no rh e tinha uma reputação a manter, já o abandonou na cadeira, perdeu as estribeiras e esta na frente da banda rodopiando conforme o refrão da canção).

Ainda esta faltando o encerramento do bloco com o hino-mor das musicas que as pessoas só sabem cantar duas frases. Com vocês, Creedence Clearwater Revival. “Iiiiii wanna knooooow have you eeeever seen the rain? **Comin’ down, sunny day**”.

**Saber essa segunda parte é privilegio de poucos.

A essa altura do campeonato, a arruaça esta armada. A política deu lugar pro “rabo da gostosa da recepção”, as camisas sintéticas da rapazeada já apresentam as famosas rodelas de suor. As mulheres comecam a ficar assanhadas (geralmente as feias). Ninguém se lembra mais dos roubos de canetas boas, do empiastro que manda ppt com narração do Cid Moreira todo dia, das comidas de rabo do chefe que acorda sempre de mau-humor.

Apesar de tentar (em vão) imitar Kurt Cobain em Smells Like Teen Spirit, o cantor do “conjunto” infelizmente não adquiriu rouquidão vitalícia e o show prossegue. Hora de levantar os isqueiros. Hora das baladas.

Da pra imaginar o que o guitarrista de uma banda que toca em véspera de Natal num bar apertado na Mourato Coelho é capaz de fazer com o solo de Stairway to Heaven? Jimmy Page passou a sentir pontadas nos rins e ninguém sabe explicar o porque. Quem ouviu sabe, mas evita tocar no delicado assunto com o musico amador.

Se depois dessa ninguém relembrou da Malu Mader na novela Top Model de 1989 nem começou com lamurias é porque alguma coisa vai mal e a banda percebe o clima de longe: “U2. UUU-HUUUU: With or without yoooooou. With or without yoooou oh oh...

Alguém começou a chorar e quem bebe sabe que não precisa de motivo razoável para isso. Ex-namorado, bofe que não liga, chifre, cachorro que morreu há 10 anos, salário ruim, sapato apertado. Só há 3 coisas a se fazer: pedir a saidera, enxugar as lagrimas e tentar lembrar o caminho de casa (“ai, meu deus, fiquei de deixar fulano em casa. Vou fingir que esqueci!”).

Quando se pensa que a tristeza esta acabando, Renato Russo e sua trupe ressurgem das trevas musicais para o eterno hino de amizade, consciência social e, por que não, cafonice? Braços erguidos (dedos queimados pelo isqueiro) balançando de um lado pro outro, como num culto evangélico louvando ao Senhor. “É preciso amaaaaaaar as pessoas como se não houvesse amanha…”

As luzes acendem, o flanelinha te cobrou 10 reais por não ter feito nada, o "colega" que te pediu carona grudou no seu braço e é fato que o caminho de volta sera tortuoso. Ao contrario do que disse o finado companheiro acima, o amanha vai existir e sera ressaquento.

Saturday, September 02, 2006

Aniversario na Vila Olimpia

Tenho muitos traumas. Um dos mais importantes foi ter nascido no meio das ferias de verão. Bem período em que todas as criancinhas se mandavam pra Ubatuba ou Guarujá e só voltavam no reinicio das aulas. Não bastasse, ainda é no mesmo dia e hora da minha mãe.

Provavelmente por isso não estou acostumada a fazer grandes comemorações (a não ser pela festa temática da Hello Kitty) e peguei birra quase mortal de gente que faz aniversario em barzinho. Obvio que ninguém é obrigado a fazer festa de aniversario e bancar comida e bebida pra cambada toda, mas há limites.

Pra não ofender ninguém, é sempre escolhido aquele barzinho arroz com feijão... Ninguém ama mas também ninguém sai de lá reclamando. Chooovem scraps no orkut, email, nick de messenger e alguns aniversariantes ate ligam pra confirmar presença e perguntar quantos nomes precisa por na lista. Os mais especiais avisam que "é só dizer que é o meu aniversario que você já tem desconto”.

A priori nenhum desses encontros é caro. Dez reais pra entrar no barzinho escolhido não me empobrecem nem enriquecem, o problema é que alem de não sair satisfeita, no final da noite NUNCA SAO SO DEZ REAIS. Some ali mais 10 de estacionamento, 8 da gasolina que você gastou ao ficar parado no transito da Faria Lima com ar condicionado ligado pra não ter que baixar o vidro e ouvir gracinha de motorista de Civic emprestado do pai e mais 4 da Skol Bocao que comprou no posto do caminho pra ir relaxando.

Quarenta minutos depois (mas antes da meia noite, senão o preço sobe e você se ferra ainda mais), você encontra o local, vê fila na porta e se arrepende. Muito tarde pra dar meia-volta, o manobrista já saiu cantando o pneu do teu carro e o aniversariante já te viu. Nome, telefone, data de nascimento na comanda e você finalmente consegue pisar no bar.

Mais 10 minutinhos e 2 chopps superfaturados depois, o garçom aparece com a sua cadeira, que foi milimetricamente projetada pra te encurralar entre a pessoa mais chata da mesa e o mais desconhecido. Tem também o abstêmio, que alem de ficar te oferecendo bolinho de mandioca com carne seca e pastelzinho de palmito ainda olha feio enquanto você tenta fazer tinquina na sua comanda.

A essa altura você se lembra que dos 10 reais que pagou de entrada, 7 são couvert artístico pra uma banda de pop/rock nacional/internacional e eles voltam do intervalinho: "eu quis dizer, você não quis escutaaaar"; "save tonigh and fight the break of dawn, come tomorrow..." ; "fazer amor de madru-ga-da paramparamparamparamram"; "i can`t always be waiting, waiting on yooou..."

Sua garganta parece ter vindo de fabrica acoplada a um funil de óleo automotivo e você certamente esqueceu que em dado momento do mês o dinheiro acaba ou que tem coisa melhor em que gastar. O que importa é que o garçom entenda suas necessidades: chopp atrás de chopp. Inclusive, não se esqueça de perguntar se há alguma promoção de drinks da casa. Double Lagoa Azul All Night pode parecer uma roubada, mas depois do segundo você nem faz mais careta e vai sair de lá mais bêbado do que qualquer um que entrou.

Os amigos que juraram pela mãe mortinha que não iriam furar, furaram. Dois sms recebidos tentando justificar e outros quatro que você fingiu que recebeu só pra não ficar sem graça na mesa e tentar fazer com que acreditem que tem programa pra depois. "Se eu não tivesse bebido o que eu bebi aqui, tinha sobrado algum pra encontrar o resto do pessoal...", você reflete.

Tarde demais. A mesa começa a esvaziar e depois que o aniversariante tirou sua pior foto da historia ao lado daquela gente toda com um prato de bolo rançoso na mão, você pede o 11o. refil do drink e fica mais sociável. Cantarola discretamente mais uma musica do original repertorio e relembra dos velhos tempos em que era amigo de alguém ali (principalmente daqueles tempos em bastavam 2 caipirinhas pra te deixar de porre).

O pessoal começa a se levantar e a dar tchau ao mesmo tempo e o couro do seu sapato quase mugiu de tanto pisao que levou - lembre-se, isso não te incomoda mais! E com 10 pessoas a menos na mesa, cogita-se arrematar aquele ultimo provolone a milanesa engordurado que eles deixaram no prato."Naaao, tem Burguer King aqui do lado, depois eu passo lá!"

Fila no caixa, dancinha pra tapear a vontade de fazer xixi. "Quarenta e nove?? Com os 10% já, ne? Ta, passa no debito, pra mim, por favor". Suspiro aliviado que o cartão resolveu ser bondoso com a sua pessoa, mais 15 minutos no frio esperando o carro - que chega com o banco e os espelhinhos desregulados pelo manobrista. Em cinco minutos você passa na frente do Burguer King e nega a si mesmo a possibilidade de estarem distribuindo os sanduíches gratuitamente, tamanha a fila. Passa reto.

Começa a rezar pra deus que não existe ter te preparado algo pra comer ou pelo menos pra passar nos faróis vermelhos da Santo Amaro sem grandes percalços. Reza outra vez no elevador de casa, pra não molhar as calcas antes de chegar ao banheiro. Lasanha gelada, pijama de flanela, cachorro latindo e sleep time na tv de 15 minutos bastam pra deitar na sua cama jurando pela sua mãe mortinha que nunca mais vai a um desses.

Thursday, August 31, 2006

Um lugar ao Sol


- Olááá, tudo béim?
- Opa, como é que vai?
- Silvia, conta pra gente essa emoção de ter um blog..
- Então, eu já tenho um outro blog, mas ele está fadado ao fracasso. Esse não. Esse nos levará ao tão sonhado estrelato.
- Isso mesmo, pede pra Bruna Surfistinha tomar cuidado que a gente vai lançar nosso livro “O doce veneno do ornitorrinco”.
- Exatamente, Rafa, vamos deixar as vendagens daquela biscata no chinelo. Mas peraí, ornitorrinco tem veneno?
- Tem, tem sim. LIÇÃO DE CASA: fazer pesquisa sobre os perigosos ornitorrincos. Afinal de contas, a gente tem que tomar cuidado com esse tipo de bicho, né, gente?
- Ah, é mesmo, eles não têm hora pra aparecer.
- Falando em aparecer, quem vai sentar do lado do Jô quando formos entrevistados e dissermos que nunca nem sonhamos com a fama?
- Então, eu voto num revezamento 2x2. Sempre quis beber água naquela canequinha. Aliás, água, não, se tivesse um prosecco era melhor...
- Calma, no lançamento do nosso livro só vai ter prosecco.
- É, e depois do lançamento, prosecco nunca mais. Vamos ficar ricos e o esquema vai ser clicqot pra cima!
- Quiçá, Crystal. Mas escuta, o que você pretende com isso aqui? Firmar sua carreira de modelo/atriz, ou seja, conquistar o seu lugar ao sol assim como a transex Bianca Soares?
- Olha, Rafa, modelo eu nunca sonhei em ser, muito menos transexual, estou muito bem assim, obrigada. No entanto, além de blogueira famosa, eu quero ser rica. Não preciso de sol, o dinheiro paga aquecimento na piscina e bronzeamento artificial. E você, o que pretende com essa nova empreitada?
- Olha, Silvia, esse nosso desafio vai me trazer muito auto-conhecimento, assim como eliminado de reality show. O que vale é crescer como pessoa, né? E ficar rico também! A gente cresce mais saudável.
- É, não crescendo pros lados, ta bom...
- Eu queria era crescer pra cima.
- Eu queria era parar de enrolação e começar a escrever logo. De acordo?
- Dissimulada!! Aposto mesmo que você quer um lugar ao sol. Estou de acordo, sim.


Comecemos, enfim...

Caros leitores (se é que já temos algum), minha comparsa S.M. (que não é o Rodrigo S.M de Clarice Lispector) pediu para que eu falasse um pouco sobre mim. Eu? Gaúcho, 18 anos, ninfeto, pênis generoso e faço programas....tá pára a palhaçada. Eu sou o Rafa. Nome comum, eu sei. Mas “comum” é o alimento da crônica. O cotidiano. Será tratado aqui sob dois pontos de vistas diferentes. O rapazote sensual que vos escreve e Silvinha Piccolo, a caçula prodígio de três irmãos, colocaremos opiniões semelhantes, ou não, sobre qualquer assunto.

Após tardes discorrendo sobre as “Donas Berenices” da vida, que chupam mexerica na calçada da periferia, sentadas na cadeira de praia e conversando com a vizinha Bernadete ao som do Gugu na TV, decidimos que o mundo (sim, somos audaciosos) merece conhecer essas peculiaridades do povo brasileiro conosco.Sobre a nossa ótica, claro. Maneiras diferentes de escrever, opiniões variáveis, mas de certo, ironias. Isso você encontrará aqui. Acostume-se a ler “é memo”, “obrigááda”, “desculpa, eu não sabia”, “né Silviá” e quaisquer outras expressões que forem acrescentadas ao nosso vocabulário. Fiquem por aí, dêem uma passada de vez em quando. Quem sabe um dia desses a gente não posta algo que realmente mude sua vida? (duvido). Parafraseando uma das últimas divas da comunicação, Maria Alice Vergueiro, (sim, está batido, mas reconheçam que o ‘tapa na pantera’ marcou o ano) “então é isso, apareçam...peguem meu cartão” ou ainda a saudosa Ruth Lemos “sandu- íche-íche”, afinal de contas “a risada é sem dúvidas um grande...radar!”

Comentem, pois “o poder é de vocês!”!

Por motivos que explico qualquer dia, nunca me acostumei em ser chamada de Silvia. Todos sempre me conheceram por Silvinha. Talvez Si. Aos 21 anos (bem vividos em SP), percebi que Sil é o diminutivo mais comum para o meu nome. O que importa é que o Banco Real da 10 dias sem juros no cheque especial, que eu falo e escrevo com a compulsão de um gordinho na frente de um pacote de Fandangos e que invariavelmente eu digo maldades sobre o alheio. É pecado, eu sei. Se ele existisse, eu iria pro inferno. Por enquanto, inferno mesmo é escrever em computador sem acentuação.

Por obra do acaso e de um colégio de classe media, hoje posso dividir minhas imodestas opiniões sobre o dia-a-dia do típico brasileiro (NAO GOSTO DO MANUEL CARLOS) com o meu querido Rafa. O blog começa em ritmo de Brasil em véspera de carnaval rumo ao estrelato. De seu pitaco, aceite respostas atravessadas, tenha senso de humor irônico, sarcástico (e, por que não, duvidoso?) e seja bem vindo.