Wednesday, November 01, 2006

O Brasil é mesmo lindo!

Vi outro dia na TV que um pai de família estava economizando até no absorvente de sua senhora para conseguir bancar as férias da prole em Maceió. Feliz da vida, mostrava as passagens e o folder do hotel – que, com certeza não vai ser 1/3 do que prometia no impresso distribuído pela CVC Turismo. Voltarão todos achando que foi a viagem dos sonhos.

Desconfiando ser um pouso de emergência não-declarado, os quatro desembarcam perto de uma casinha com telhado de sapê e estrutura de madeira maciça e quase têm um piripaque por causa do calor. Quarenta e dois graus sob sol escaldante os fazem repensar se não era melhor ter esperado dentro do avião. Por incrível que pareça, a tal casinha é o aeroporto, que passou a contar com esteiras rolantes para as malas há cerca de 3 meses. Moderno.

Seguindo a bandeirola da guia turística, Nelson, Mariângela, Nelsinho (10) e Caíque (7) seguem para o ônibus (sem ar condicionado) com destino ao aclamado hotel. O caminho tortuoso e de terra batida provoca tosse em metade do circular, mas a esperança de uma semana de sossego nas praias paradisíacas os faz esquecer do incomodo.
“Ué... no papelzinho mostrava o mar azul, benzinho, por que será que ele está marrom hoje?”. “Deve ser a maré, querida, já, já passa”.

O check-in do quarto é feito manualmente e demora longos 40 minutos. Duas camas de casal com varanda de frente para o mar. Um sonho, não fosse a colônia de pernilongos instalada perto da porta do banheiro, as castanhas de caju e a lata de coca-cola a módicos R$8,00 cada que o marido desavisado pegou do frigobar.

Andando até a praia, a família avista um ou dois sapos pelo caminho. Foram avisados que perto do anoitecer é comum eles aparecerem. Tão comum que Nelsinho, com sua sunga verde tamanho M Adulto apesar da pouca idade, vem trazendo o simpático anuro nas mãos, para desespero de sua mãe. A areia grossa e escura logo é coberta por algas amarronzadas, tal como o mar “límpido” da capital alagoana. Entreolham-se todos e ninguém têm coragem de mergulhar.

A piscina, apesar de menor do que o esperado, se mostra a grande salvadora da acalorada família, que larga chinelos e cangas na primeira cadeira vazia e se arremessa na água fosca de tanto cloro. Constatam que a temperatura dentro e fora da piscina é a mesma. Fora dela pelo menos têm a certeza de não estarem nadando em urina alheia. Caíque, com a bóia lhe apertando os braços, corre para o chuveiro. Pena que a fila promete uns 10 minutos de espera.

Mariângela, já no quarto, percebe que esqueceu os itens de banheiro em São Paulo e começa o racionamento de shampoo e “creme rinse” cedidos pelo hotel. Nelson resolveu aliviar seu intestino antes de todos, a privada acabou entupida e a manutenção chega para resolver o problema exatamente na hora do banho da matriarca, que tentava desembaraçar as madeixas tingidas com esforço e sem condicionador.

Já vermelhos do sol, os meninos chegam ao restaurante para jantar estupefatos com o enorme buffet. O mais novo se encantou com acarajé apesar de não estarem na Bahia e o quitute regado a dendê foi tudo o que o menino comeu. O resto da família optou por alimentos leves, dado o calor subsaariano. Nelson se refrescava com sua habitual cervejinha.

Bendito seja o ar condicionado – que só funciona no máximo ou no mínimo, forçando a família a pedir cobertores e deixar o aparelho funcionando em temperatura polar para conseguirem dormir. Antes disso, porém, a mãe deixou bem claro: escovar os dentes com água mineral (
daquele frigobar). Apesar de exótica a coloração amarelada, ela não deve indicar coisa boa. Já na cama, os pimpolhos se chutam sem parar disputando espaço na cama.

Ajudada pela quantidade industrial de acarajé que o caçula ingeriu, a briga fraterna resultou em vomito. Ambos choravam, um de enjôo e o outro de nojo. A mãe aflita enfiou os dois na banheira e ligou 3 vezes na recepção para que trocassem os lençóis enquanto o marido, chumbado, roncava na cama em trajes mínimos, para desgosto da pobre camareira. Além de limpar vomito a meia-noite, ainda é obrigada a ver um verdadeiro leão marinho de ceroulas.

Ao final dos sete dias, o mar não clareou, a água da piscina não refrescou e os sapos coaxavam cada vez mais alto. Os pernilongos não deram trégua nem com repelente radioativo e a conta de frigobar beira o inacreditável. Nelsinho pegou micose em suas protuberâncias adiposas, Nelson-pai não parou de beber nem seu filho mais novo de vomitar. Mariângela arrumou as malas cuidadosamente e voltou para a megalópole dizendo que se divertiu como nunca.

4 comments:

Anonymous said...

esse post sim merece um puta de um:
''que faaaase !!!!''*

* copyright Rafael Comenale

Anonymous said...

afe maria!!!!

Anonymous said...

Já vi esse filme... hahah

detalhe para o Leôncio de ceroulas. Imperdível.

Beijos Silvinha

Mss. Kohn said...

Hahaha.... esse foi com certeza um dos melhores textos.

Te agradeço pelas risadas!!!

Bjs