Disse Mario de Andrade que Macunaíma é o herói sem caráter. Se procede ou não, eu não sei, pois não li o livro todo, mas só o fato de o personagem ter começado a falar aos seis anos de idade por preguiça já me nutre alguma simpatia pelo famoso índio e seu autor enlouquecido. Só que o Macunaíma saía por aí pra fazer suas maldades saudáveis e conseguiu chegar a São Paulo, inclusive. Já eu... Quando o mundo acabar, eu não preciso nem do barranco pra morrer encostada, deito no chão sem cerimônias.
Pode parecer onda, exagero ou até vagabundagem de minha parte (a última eu assumo parcialmente), mas o fato é que minha preguiça beira a patologia. Não é preguiça de ir trabalhar ou estudar (isso eu também tenho); é preguiça de ir tomar banho, de colocar o sapato, de digitar endereço da internet e de colocar o celular pra carregar. Meu companheiro já relatou aqui seu problema em postergar os compromissos sem motivo aparente, contudo, depois de passar 2 dias com infecção nos olhos, eu deveria aprender a não adiar a retirada das minhas lentes de contato de uma vez por todas.
Dentre tantas, tenho a mania de carregar o controle remoto aonde quer que eu vá (restos de memórias da infância, onde o objeto significava poder na família). Cheguei cansada da faculdade, acertei o sleep timer e fui escovar os dentes com o bendito controle na mão. Já debaixo das cobertas, deparei-me com a Hebe Camargo na tela. Tateando o criado-mudo, constatei a desgraça: deixei o controle em cima da pia. Fiquei ali, no escuro, pedindo um sono arrebatador e negando a mim mesma a possibilidade de ir buscá-lo. Só que como nós sabemos, desgraça pouca é bobagem.
Passei meus últimos minutos daquele fatídico dia assistindo não só a Hebe, mas a também loura Carla Perez fantasiada de jacaré cantando músicas infantis! Seguindo a mesma linha, acordei DAQUELE jeito numa quarta-feira de cinzas, derrubei o supracitado controle no chão e por preguiça de esticar o braço, passei a manhã toda aprendendo a fazer bolsas customizadas e cuscuz a paulista com Amanda Françoso.
Essa indolência toda não aparece somente quando estou com sono. Luto diariamente com a preguiça de reduzir a marcha do carro. Valetas, lombadas, curvas... Dou uma franzida na testa esperando o tranco e BUM, a suspensão do carro sofre calada mais uma vez. Após horas no trânsito, percebi que só mudo de estação de radio ou de faixa no cd quando já estou prestes a dar com a cabeça no centro do volante de tanta irritação. Dá um trabalho apertar o botão... E xixi em dia de cerveja? Eu já devo ter passado da fase dos cálculos direto pras equações renais.
Diante de meu quadro clínico, acabei desenvolvendo algumas técnicas para amenizar a repercussão dessa minha fama. Quando o telefone tocar na sua casa e você estiver tragado pelas almofadas do sofá, grite com veemência que não é pra você. Se rebaterem com um “pra mim também, não”, parta para a ameaça escancarada. “Se não for pra mim, vou desligar na cara!”. Duvido que não dê certo.
Família reunida em volta da mesa no domingo. Massa prum lado, as “brajola” pro outro... Ih, esqueceram o guardanapo. Entreolham-se todos se isentando da tarefa. Ao invés de simular um engasgo, erga lentamente um dos lados dos glúteos. A essa altura, alguém já estará de volta e então você diz: “ah, mas eu já estava indo”. Devo lembrá-los de que a desculpa do piriri pra não tirar a mesa não cola mais na casa de ninguém. Ou bem você ajuda com a louça ou fica fazendo companhia pra tia velha que não sabe mais o seu nome.
Apesar do aquecimento global, do bang-bang urbano, da crise aérea e do Paulo Coelho na ABL, o fim do mundo ainda não chegou. Nem o barranco para eu me recostar. A cama chama e infelizmente terei que ir andando ate lá. Daqui a pouquinho, vai...
Monday, March 19, 2007
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3 comments:
Nunca li Macunaima mas lembro bem do Grande Otelo com os quimba de fora na versão em celulóide do livro.
Viva a preguiça, abaixo o Triatlo ( o que leva alguem a ser triatleta pelamordedeus?!)
Me familiarizei bastante com o texto.
Tome cuidado com a preguiça de fazer xixí. Meu elevador e sua garagem sabem que segurar a mijada na balada não faz bem.
Aliás, não sou tão preguiçoso quanto eu pensava, pois eu lí tudo e ainda estou comentando.
Isso é que é amigo!
q preguiça de comentar jesuis!!!
Soh vou dar o meu parecer pq me identifiquei 98% (apesar de ter peguiça de buscar o controle em outro comodo eu nao suporto a hebe!)
Eu ainda acho q a proxima invenção da humanidade deveria ser um teletransportador....asisim acabaria a preguiça de ir pra faculdade, de levantar no fim da tarde pra ir ao banheiro com dor na bechiga por ter segurado a tarde tda e etc!!!
Viva a preguiça....mto bom o texto silvinha
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