Monday, November 27, 2006

Boicote

Passada rápida que o fim-de-semana deixou rastros e uma infecção no meu olho, fiquei me sentindo o próprio Jatobá na novela América, só que minha poodle aos 12 anos de idade não tem cacife pra bancar o cão guia Quartz – mas isso é assunto pra outro dia. O breve encontro com este blog tem um motivo especifico: a minha incomensurável repulsa a nova campanha da Rainha.

Se não me falha a excelente memória, nunca comprei nenhum tênis desta marca e com a veiculação desses novos “reclames” na televisão, a previsão é mesmo de que isso nunca venha a acontecer. Tem aquele filme da mulher vestida de Rainha tirando sarro da pobre coitada que corria no parque dizendo que ela vai ficar gorda. Esse até que é simpático.

A ojeriza surge mesmo quando aquele sujeito medonho invade a tela da minha tv oferecendo tênis para os clientes. Pra começar que a figura dele é completamente anti-comercial: aquele figurino dele é comparável ao de um vendedor de loja picareta do Largo 13. A barba por fazer NÃO FICA CHARMOSA naquela porpeta humana. Não tem beleza nem charme nem carisma que salvem. Ele é mesmo feio e ponto final.

O trocadilho infame é realmente infame e contra fatos não há argumentos: alguém riu quando o empiastro ofereceu os tênis com sistema NUKI e AIKOM pros clientes? Eu não e espero que você leitor também não tenha feito essa besteira. O produto (que já não me aprece ser bom) não é devidamente valorizado. Alguém entendeu como funciona o ajuste de pisada de acordo com cada pessoa ou mesmo pretende adquirir um par deles? Eu quero um tênis que já venha ajustado, pelo amor de Cristo!

Trocando em miúdos, boicote aos tênis Rainha. O corpo é meu e eu esculhambo o quanto eu quiser.

Tuesday, November 21, 2006

Quando a água bate na bunda

Nessa altura do ano, quem nunca se desesperou para emagrecer ou entalou na porta ou nasceu magro e não liga para essas futilidades. Balofo que é balofo já cometeu desatinos em busca de uns quilos a menos e raros são os casos de sucesso. Não querendo ser pessimista, evidente, até porque ontem mesmo eu recomecei a dieta a sério.

No começo é tudo uma delicia, até mesmo ir ao supermercado fazer as compras light. Alface, rucula, almeirão, rabanete e semente de linhaça que você nunca pos na boca mas esta disposto a começar a comer em nome da saúde. Sim, você pensa,
não é só a estética, eu quero ver meus netos, quero ter mais disposição.

Passando reto pelo gorgonzola, picanha maturada e pelo pacote de Sonho de Valsa, enche o carrinho de Maxi Goiabinhas Bauducco – só 90 calorias, comemora. A maior tentação mesmo é não pedir o pack de Marlboro normal que antigamente eram tragados em menos de uma semana.

Na academia, a salvação: agora vai! Quem sabe você não acaba um viciado em maratonas, não é mesmo? Compra tênis novo com amortecimento até no cadarço, camiseta de dri-fit falsificada e os 30 minutos na esteira parecem o caminho de Santiago de Compostela (agora sabemos por que Paulo Coelho cometeu o desatino de escrever O Diário de um Mago). Depois eu acostumo, ilude-se.

Com o apetite aberto pelo exercício, a vontade é de pedir um x-tudo ali mesmo na lanchonete da academia, mas os olhares de reprovação seriam fatais. Você, então, volta pra casa pra atacar suas guloseimas permitidas. Damasco seco, iogurte desnatado, as benditas goiabinhas e, quem diria, gelatina (zero calorias!).

Após tentar deglutir a metade do mamão papaia no café-da-manha, você se espanta com o “sanduíche”: uma fatia de pão integral e outras duas de queijo minas. Essas ultimas facilmente confundidas com uma folha sulfite. Na quinta xícara de café preto e mais ligado que luz de freio no rush da 23 de Maio, vem o ronco do estomago e o conformismo: daqui a pouco tem lanchinho.

Faltando mais de uma hora para o supracitado, você não consegue mais se concentrar em coisa alguma. Tudo vira comida. A borracha Faber-Castell, inclusive, corre sérios riscos ali dando sopa. Hum, uma sopinha de capeletti... A maçã não serve nem pra engambelar o hipotálamo, mas você segue em frente.

Almoço, jantar, folhas, um fio de azeite e o peito de frango mais ressecado que o cabelo do Walderrama... CHEGA! Chega um momento em que você quer bombardear a Turquia por ser a fornecedora dos damascos, desaparecer com os iogurtes da geladeira e sair pelas ruas arremessando Maxi Goiabinha feito Papai Noel em favela.

Rucula? Acelga? Podem me dar isso para comer quando eu começar a trotar ou usar uma ferradura. Alem do mais, eu não tenho 4 anos pra ficar comendo gelatina feito um babaca! Eu, correndo igual um hipopótamo naquela esteira? Nunca mais!

A mudança de vida não durou nem duas semanas (ainda mais sem os fieis escudeiros nicotina e alcatrão). Não vai ser dessa vez que a calça vai fechar com tranqüilidade ou que você vai desfilar esbelto pela praia. Em contrapartida, domingo tem churrasco e estão avisando da portaria que a meia mussa/meia calabresa já chegou. Quer coisa melhor?

Tuesday, November 14, 2006

Momento de reflexão

Eu queria ser boazinha, priorizar as qualidades e não os defeitos das pessoas, não ter uma língua viperina nem reclamar o quanto eu reclamo. Queria mesmo.

Os erros de português das pessoas não me incomodariam mais nem as barbeiragens dos motoristas tresloucados das ruas dessa cidade. Eu não teria chiliques demorados ao tentar encontrar uma musica decente nas rádios e como não iria encontrar, suspiraria conformada em passar mais 3 minutos ouvindo Charlie Brown Jr ou um reggae picareta qualquer.

Eu não ligaria para balada intransitável nem para loser com xaveco furado, teria sempre um sorriso no rosto mesmo com o calor derretendo minha maquiagem. Crianças ensandecidas fazendo fuzarca em shopping receberiam um afago sincero vindo de Silvia Maria.

Eu não ligaria pras grandes bobagens esotéricas que o povo fala nem pros fritos de rave gritando “good vibes”, iria inclusive retribuir as energias positivas (sabe-se lá como). Deixaria de fazer piada com a desgraça alheia e repensaria antes de fazer comentários sarcásticos.

Gostaria muito de ser daquelas pessoas que acham que “esta tudo bom”, “qualquer coisa serve” ou “vai esse mesmo”. Mas gente: Quem não chora, não mama, cantavam nossos antepassados nas matines de carnaval. Pensem bem!

Então, depois do êxito em todas essas tarefas, eu conseguiria emprego na Copag no cargo de Dois de Paus e você não teria mais este blog para ler.

Wednesday, November 01, 2006

O Brasil é mesmo lindo!

Vi outro dia na TV que um pai de família estava economizando até no absorvente de sua senhora para conseguir bancar as férias da prole em Maceió. Feliz da vida, mostrava as passagens e o folder do hotel – que, com certeza não vai ser 1/3 do que prometia no impresso distribuído pela CVC Turismo. Voltarão todos achando que foi a viagem dos sonhos.

Desconfiando ser um pouso de emergência não-declarado, os quatro desembarcam perto de uma casinha com telhado de sapê e estrutura de madeira maciça e quase têm um piripaque por causa do calor. Quarenta e dois graus sob sol escaldante os fazem repensar se não era melhor ter esperado dentro do avião. Por incrível que pareça, a tal casinha é o aeroporto, que passou a contar com esteiras rolantes para as malas há cerca de 3 meses. Moderno.

Seguindo a bandeirola da guia turística, Nelson, Mariângela, Nelsinho (10) e Caíque (7) seguem para o ônibus (sem ar condicionado) com destino ao aclamado hotel. O caminho tortuoso e de terra batida provoca tosse em metade do circular, mas a esperança de uma semana de sossego nas praias paradisíacas os faz esquecer do incomodo.
“Ué... no papelzinho mostrava o mar azul, benzinho, por que será que ele está marrom hoje?”. “Deve ser a maré, querida, já, já passa”.

O check-in do quarto é feito manualmente e demora longos 40 minutos. Duas camas de casal com varanda de frente para o mar. Um sonho, não fosse a colônia de pernilongos instalada perto da porta do banheiro, as castanhas de caju e a lata de coca-cola a módicos R$8,00 cada que o marido desavisado pegou do frigobar.

Andando até a praia, a família avista um ou dois sapos pelo caminho. Foram avisados que perto do anoitecer é comum eles aparecerem. Tão comum que Nelsinho, com sua sunga verde tamanho M Adulto apesar da pouca idade, vem trazendo o simpático anuro nas mãos, para desespero de sua mãe. A areia grossa e escura logo é coberta por algas amarronzadas, tal como o mar “límpido” da capital alagoana. Entreolham-se todos e ninguém têm coragem de mergulhar.

A piscina, apesar de menor do que o esperado, se mostra a grande salvadora da acalorada família, que larga chinelos e cangas na primeira cadeira vazia e se arremessa na água fosca de tanto cloro. Constatam que a temperatura dentro e fora da piscina é a mesma. Fora dela pelo menos têm a certeza de não estarem nadando em urina alheia. Caíque, com a bóia lhe apertando os braços, corre para o chuveiro. Pena que a fila promete uns 10 minutos de espera.

Mariângela, já no quarto, percebe que esqueceu os itens de banheiro em São Paulo e começa o racionamento de shampoo e “creme rinse” cedidos pelo hotel. Nelson resolveu aliviar seu intestino antes de todos, a privada acabou entupida e a manutenção chega para resolver o problema exatamente na hora do banho da matriarca, que tentava desembaraçar as madeixas tingidas com esforço e sem condicionador.

Já vermelhos do sol, os meninos chegam ao restaurante para jantar estupefatos com o enorme buffet. O mais novo se encantou com acarajé apesar de não estarem na Bahia e o quitute regado a dendê foi tudo o que o menino comeu. O resto da família optou por alimentos leves, dado o calor subsaariano. Nelson se refrescava com sua habitual cervejinha.

Bendito seja o ar condicionado – que só funciona no máximo ou no mínimo, forçando a família a pedir cobertores e deixar o aparelho funcionando em temperatura polar para conseguirem dormir. Antes disso, porém, a mãe deixou bem claro: escovar os dentes com água mineral (
daquele frigobar). Apesar de exótica a coloração amarelada, ela não deve indicar coisa boa. Já na cama, os pimpolhos se chutam sem parar disputando espaço na cama.

Ajudada pela quantidade industrial de acarajé que o caçula ingeriu, a briga fraterna resultou em vomito. Ambos choravam, um de enjôo e o outro de nojo. A mãe aflita enfiou os dois na banheira e ligou 3 vezes na recepção para que trocassem os lençóis enquanto o marido, chumbado, roncava na cama em trajes mínimos, para desgosto da pobre camareira. Além de limpar vomito a meia-noite, ainda é obrigada a ver um verdadeiro leão marinho de ceroulas.

Ao final dos sete dias, o mar não clareou, a água da piscina não refrescou e os sapos coaxavam cada vez mais alto. Os pernilongos não deram trégua nem com repelente radioativo e a conta de frigobar beira o inacreditável. Nelsinho pegou micose em suas protuberâncias adiposas, Nelson-pai não parou de beber nem seu filho mais novo de vomitar. Mariângela arrumou as malas cuidadosamente e voltou para a megalópole dizendo que se divertiu como nunca.