Pode ser que o amor não o seja. Mas falar de amor, sem duvida é. Nem Fernando Pessoa, nem Sinatra. Sequer Pablo Neruda. Ninguém escapa do ridículo que é falar de amor
Ninguém trata – com o realismo necessário – da decepção e da frustração que é não ser correspondido, da insegurança que faz os olhos arderem de ciúmes (olha lá, estou sucumbindo!!), do chute na boca do estômago que é ser trocado por outrem de uma hora pra outra. Só falam do lado bom do amor, mais ou menos como a Globo fez com o Collor em 1990.
Pouca gente pára pra pensar no quanto é imbecil ficar pensando na roupa que vai usar com uma semana de antecedência, ou mudar inconscientemente o discurso de acordo com o alvo escolhido. Na dura tarefa de apresentar o dito cujo para a família e amigos. Sem contar aquela época em que ninguém sabe se é namoro ou não, mas mesmo assim tem-se que ouvir a pergunta de pessoas inconvenientes.
“Que seja eterno enquanto dure”, “um grande laço”, “fogo que arde sem se ver”, “o calor que aquece a alma”... Eu realmente não concebo que um cidadão escreva uma coisa parecida depois de ter passado pelo menos 3 dias pensando incessantemente em alguém. Não é legal, não é saudável, não pode ser normal.
Tive um professor de Literatura que mesmo misturando a história d’Os Lusíadas com a do famoso assassino Chico Picadinho, declarou sabiamente em uma de suas aulas que quando se começa a achar bonitinho que o outro coma de boca aberta ou que pare de usar o plural das palavras é que a coisa não vai bem.
Fica todo mundo com cara de Regina Duarte com o pescoço quebradinho pro lado e a mão direita no peito fazendo “awwwwn” pra cada respiro do individuo ao lado. Perde-se o senso critico, os critérios pré-estabelecidos, as noções de civilidade, as convicções e, em alguns casos, os amigos!
Ficamos aqui, ouvindo Jeff Buckley fingindo que queremos chorar pra dar mais autenticidade ao sofrimento achando bonitinha a falta de tato com a língua-mãe e tentando encontrar razões plausíveis pra isso. Ou então jurando pra deus e o mundo que já superamos o fracasso, que a bendita da fila andou. Mas a gente sabe que às vezes a fila demora pra andar – e não sabemos nem se a gente quer que a fila ande!
O defunto nem esfriou e já vêm uma meia dúzia querendo arranjar outro par pro recém-preterido. Como se fosse crime hediondo ficar sozinho e não querer passar por isso de novo. Como se a vida de todo habitante deste planeta tivesse, obrigatoriamente, que ter como trilha sonora alguma musica romântica do Chico Buarque.
Vai por mim, o amor é como uma garrafa de gim: http://magnetic-fields.letras.terra.com.br/letras/537995
Thursday, January 18, 2007
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3 comments:
Hahaha... mto bom... naturalista, eu diria.
"Falar da dor do amor, alivia... Falor do calor do amor, necessidade"...
Ou será q Camões qndo disse "arde sem se ver", esse ardor era só positivo?...
Tudo, mas absolutamente Tudo, tem os dois lados... E qndo se trata de algo forte como o amor, o lado de lá é proporcionalmente ruim, qnto o de cá é bom...
Beijos Silvinha,
amo vc
Ótimo texto. Como sempre... ótimo tb o comentário do seu amigo (ou amiga??) "Fê". Naturalista...
Beijos
Ana
Cada vez melhor sil, parabens!!!
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