Sunday, September 10, 2006

Rock Sujinho

Lá vou eu de novo discorrer sobre barzinho. Ao invés de Vila Olímpia, a parte menos abastada do bairro de Pinheiros. Troque o pop/rock por rock. “Mas rock mesmo, não essas babas que tocam nas rádios”. Aaah, ta, sei...

Para se chegar ao estacionamento mais próximo, tem-se que andar uns 8 ou 9 quarteirões e o flanelinha acaba sendo a saída. Cabelos compridos, all star cano alto ou coturno gasto, camisetas puídas do Iron Maiden, Pearl Jam e Angra para ambos os sexos, camisas de flanela, a verdadeira sucursal de Seattle.

É festa de confraternização “lá do serviço, fica chato não aparecer”. Fecham uma mesa com cadeiras desconfortáveis e a cerveja – pelo menos – é gelada com preço justo. Pinheiros e Vila Madalena levam cerveja a serio, não ouse não pedir Original. O povo vai chegando e a banda ensaia os primeiros acordes da guitarra e do baixo:

- “SOM. SOM. SOM... 1, 2, 1, 2, 3, 4... Se um dia eu pudesse veeer meu passado inteiro. E fizesse parar de chover nos primeiros erros... Soool, meu corpo viraria Sooool...”

Ainda estão na terceira musica e a gordinha de tailleur de microfibra turquesa já demonstra sinais de alguma embriaguez. Pessoal da informática ainda discute os pênaltis do Rogério Ceni e o do financeiro defende o PSDB com argumentos talvez infundados.

- “O que? A Marta? A Marta acabou com a cidade...”

- QUE PAIS E ESSE???? QUE PAIS EH ESSEEEEEEE?? - pergunta o vocalista da banda cover.
Tem coisa mais deprimente do que banda cover, eu pergunto?

O próximo bloco do show tem a seguinte definição: musicas que as pessoas só sabem cantar duas frases. Começando com Eagles: Welcome to the hotel Califórnia. Such a lovely place, such a lovely face. Prosseguimos com Doors em sua famosa Roadhouse Blues: let it roll, baby, roll. Let it roll all night long. (nessa hora a gordinha de tailleur - que provavelmente trabalha no rh e tinha uma reputação a manter, já o abandonou na cadeira, perdeu as estribeiras e esta na frente da banda rodopiando conforme o refrão da canção).

Ainda esta faltando o encerramento do bloco com o hino-mor das musicas que as pessoas só sabem cantar duas frases. Com vocês, Creedence Clearwater Revival. “Iiiiii wanna knooooow have you eeeever seen the rain? **Comin’ down, sunny day**”.

**Saber essa segunda parte é privilegio de poucos.

A essa altura do campeonato, a arruaça esta armada. A política deu lugar pro “rabo da gostosa da recepção”, as camisas sintéticas da rapazeada já apresentam as famosas rodelas de suor. As mulheres comecam a ficar assanhadas (geralmente as feias). Ninguém se lembra mais dos roubos de canetas boas, do empiastro que manda ppt com narração do Cid Moreira todo dia, das comidas de rabo do chefe que acorda sempre de mau-humor.

Apesar de tentar (em vão) imitar Kurt Cobain em Smells Like Teen Spirit, o cantor do “conjunto” infelizmente não adquiriu rouquidão vitalícia e o show prossegue. Hora de levantar os isqueiros. Hora das baladas.

Da pra imaginar o que o guitarrista de uma banda que toca em véspera de Natal num bar apertado na Mourato Coelho é capaz de fazer com o solo de Stairway to Heaven? Jimmy Page passou a sentir pontadas nos rins e ninguém sabe explicar o porque. Quem ouviu sabe, mas evita tocar no delicado assunto com o musico amador.

Se depois dessa ninguém relembrou da Malu Mader na novela Top Model de 1989 nem começou com lamurias é porque alguma coisa vai mal e a banda percebe o clima de longe: “U2. UUU-HUUUU: With or without yoooooou. With or without yoooou oh oh...

Alguém começou a chorar e quem bebe sabe que não precisa de motivo razoável para isso. Ex-namorado, bofe que não liga, chifre, cachorro que morreu há 10 anos, salário ruim, sapato apertado. Só há 3 coisas a se fazer: pedir a saidera, enxugar as lagrimas e tentar lembrar o caminho de casa (“ai, meu deus, fiquei de deixar fulano em casa. Vou fingir que esqueci!”).

Quando se pensa que a tristeza esta acabando, Renato Russo e sua trupe ressurgem das trevas musicais para o eterno hino de amizade, consciência social e, por que não, cafonice? Braços erguidos (dedos queimados pelo isqueiro) balançando de um lado pro outro, como num culto evangélico louvando ao Senhor. “É preciso amaaaaaaar as pessoas como se não houvesse amanha…”

As luzes acendem, o flanelinha te cobrou 10 reais por não ter feito nada, o "colega" que te pediu carona grudou no seu braço e é fato que o caminho de volta sera tortuoso. Ao contrario do que disse o finado companheiro acima, o amanha vai existir e sera ressaquento.

4 comments:

ManucaTrebilcock said...

HAHAHHAHAHAH! Muito bom Si!
Ainda bem que quem pagou o estacinamento de sexta feia foi vc, né...
beijos

Anonymous said...

Ótimo... eu posso ver o tailleur de microfibra turquesa suado à minha frente!

beijoss

Anonymous said...

É preciso ama-aaaaaaar, as pessoas como se não houvesse amanhã...

Bem feito que sofram, chorem e peguem mulher feia!

Ninguém mandou ser aspirante a coxa corporativo!

Pau no cu das gorda de turquesa, viva la revolucion!

Anonymous said...

Sim, provavelmente por isso e