Os e-mails de corrente que vinham com listas das pequenas coisas que fazem a vida valer a pena sempre mencionavam, além do gostoso cheirinho do café "passado" na hora e da Amélie Poulain enfiando a mão no saco de cereais, a delícia de se achar dinheiro em bolso de roupas. Não sei se sou muito limpa ou muito pobre, mas isso raramente acontece comigo. Principalmente porque agora ninguém mais tem dinheiro, é o bendito do Redeshop, do Visaelectron. Ao invés de moeda de 10 centavos, encontro comprovante do cartão.
Começo a juntar os papeizinhos jurando que vou fazer as contas, ser uma pessoa comedida. Devo poupar dinheiro. R$14,56 no Pão de Açúcar. Cerveja. R$68,00. Brechó. R$89,00. Shoestock. R$73,00. JF Bar. JF Bar? Rua Augusta? Ah, lembrei. R$7,80. Padaria Iolanda. Onde é Padaria Iolanda? Quem é Iolanda? R$37,61. Pão de Açúcar. Cerveja.
No domingo à noite formo uma bola de bocha feita com os tickets e desisto de fazer as contas. O que os olhos não vêem... Ultimamente, alegando uma irrisória consciência ecológica, tenho rejeitado a segunda via do comprovante, já aviso antes. Eu vou amassar e encontrar uma semana depois, mesmo.
Aquele trocadinho do bolso que ajudava o amigo a inteirar uma gelada no posto de conveniência deu lugar...ao cartão do banco. Camarada tem a cara de pau de passar R$2,80 no cartão e a lojinha paga mais de taxa do que o valor do produto em si. A gente fica mal-acostumado e depois vai até em barraca na praia perguntar se aceitam crédito. O pior é que tem algumas que aceitam. Acho que me viro melhor sem um dos rins do que sem meu Redeshop.
Vira e mexe a rede sai do ar e não posso nem dizer que vou lavar pratos no restaurante porque eles usam uma máquina muito mais eficiente do que eu. Suo frio até o tal do sistema voltar. O que me faz feliz mesmo é ouvir o apitinho da máquina e a calorosa mensagem: TRANSAÇÃO APROVADA. Ah, as pequenas coisas da vida!