Sou a primeira a falar "é mulher" quando alguma calamidade acontece no trânsito dessa ou de qualquer outra cidade. Em Estocolmo, onde ocorre um assalto por ano e até as pombas fazem cocô em local demarcado, as mulheres também dirigem mal, pode acreditar.
Parte é culpa da genética. É fato que o cromossomo Y influencia na hora da pilotagem. Seria injusto da minha parte, contudo, fazer como o mestre e (por que não?) poeta Chorão e isentar essa "porra de sociedade" do caso. Com dois irmãos homens e mais velhos, em certos casos afirmo com tranqüilidade que ninguém tinha me avisado, quando o assunto é volante.
Quando criança, subia meio a contragosto nos carrinhos de batida (ou bate-bate, como preferir) dos parques e ficava parada tomando porrada dos outros, ignorando os estímulos eufóricos do meu pai, do lado de fora "Acelera, Silvinha, bate neles!". Depois de ficar encurralada tantas vezes é que me disseram que extersando (olha aí outra palavra que ninguém ensina! Até pouco tempo só conhecia o famoso "desvira") o carrinho pra direita ou esquerda, ele dava ré.
Demorei tanto pra saber dessa que já tinha feito uns doze anos e resolvi me aventurar no mundo do kart. Depois do caso da pobre menina que ficou careca quando o cabelo enroscou no motor, só faltei subir no carrinho com touca de banho de tanto medo. "Direita acelera, esquerda freia, Silvinha", foquei nas sábias instruções do meu pai antes de me deixar no estacionamento do shopping para a tarde de emoções.
Primeira volta, aquela lambança: devem ter precisado chamar reforços pra resgatar tanta mulher entalada no meio dos pneus de proteção lateral. Eu, entalada no meio dos pneus de proteção lateral, claro, comecei a temer por minha posição no grid e ninguém vinha me salvar. No Mario Kart a nuvenzinha cobrava 2 moedas, mas pelo menos era pontual.
Foi quando lembrei da nem tão remota dica. Afundei o pé direito no acelerador e virava o volante com força para a direita. Tentando bravamente desafiar toda e qualquer lei da física, ouvi um grito. "Cê tá loca, menina? Pára de acelerar!". Não recebi réplica quando contei do carrinho de batida. Ué, ninguém me falou...
Dois testes práticos no Detran depois, fui orgulhosa encher o tanque do carro com meu próprio dinheiro. Gasolina comum, devo admitir. "Abre o tanque, querida". Quando o frentista viu minha mão se movendo para abrir a porta do carro e a minha cara de tacho, previu o pior e se adiantou "aperta aquele botão ali, ó". Outra vez, meu irmão desceu do carro para inspecionar o serviço e me pediu para abrir o capô. Ultrajada, não me contive: "abre você que está aí fora, ué".
Pode ser que você mulher, leitora assídua do blog argumente que não aprontou esses vexames e que, inclusive, não dirja mal. Pode ser que se identifique. Mas algum dia, infelizmente, irá endossar meu coro do "ai, desculpa, eu não sabia" quando a coisa aperta. Ninguém fala de carro com mulher e pimba ... dá nisso! Culpa do sistema. Não sei se do câmbio ou do ABS.
Tuesday, July 22, 2008
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2 comments:
hahahaha... genial. A nuvenzinha do Mario Kart providencial.
Qnto a vida real, ninguem ensina ninguem mesmo. A diferença é q os homens (exclua o Shiro da lista) possuem o aguçado interesse de aprender a guiar. Tudo q é dito ou q o pai faz com o volante, é guardado na caixola imediatamente.
Mas tem mulher que dirige, nao tem? A Debora Rodrigues na formula Truck! Hahaha..
Beijos
Tenho como costume não dar seta antes de virar ou mudar de pista, preciso deixar "bater" para saber que não posso mais dar ré, nunca em toda a minha vida eu calibrei um só pneu e macaco pra mim ainda é só um bicho, feio pra caralho (mais que o marido da Thaís)
Preciso dizer que me identifiquei com o texto?
beijo
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