Manu,
Você, melhor até do que eu, sabe que às vezes escrever é o melhor jeito de falar. Mesmo para mim, que frequentemente te condeno com a minha incontinência verbal. Você, nas poucas vezes que falou ao invés de ouvir, com essa fé que te faz otimista demais, dispensou a ajuda do Rei e profetizou “vai dar tudo bem”. Desde a primeira queda do controle remoto.
Você estava lá desde o comecinho, quando eu ainda nem tinha pretensão de roubar o quarto com banheiro e TV do meu irmão. Quando era só o computador. Aliás, nem sei se sabe, mas a história começou errada. O controle da TV já não estava muito bom das pernas (ou dos botões) quando eu cheguei, mas pensei que não fosse nada de mais.
Antes mesmo de saber da primeira queda, você me alertou. Mas, pimba! O negócio deu um duplo twist carpado à La Daiane dos Santos e foi um pedaço pra cada lado. Remontei tudo rapidinho pra ninguém perceber. Porém, logo notei que tinha que fazer cada vez mais força pra apertar os botões. Achei que não tinha problema, afinal, usava mais o controle da TV a cabo.
Parecia uma coisa sobrenatural: era sempre o pobre controle da TV que se espatifava no chão de madeira. Você falou mais de uma vez pra eu tomar cuidado, resmungou “não é possível, Silvinha” e até ameaçou “Silvinha, é a última vez que eu vou falar pra você aposentar esse controle”. E eu, nada. Como é que eu ia viver sem controle remoto, meu deus?
Dava pra fazer muita coisa, você até sugeriu. Comprar outro, inclusive. mas era tudo muito difícil pra mim. Apesar de tentar fazer parecer que não, você entendia o que se passava comigo toda vez que o controle se estraçalhava. Às vezes a culpa era inteiramente minha (ou será que foram todas?).
Aos poucos fui tomando bem mais cuidado e deixando ele de lado, guardado na gaveta do criado-mudo e de vez em quando até programava o timer na própria TV pra não colocá-lo em perigo. A idéia de submeter o controle aos perigos desse mundo era muito tentadora.
E assim foi até que de uma hora pra outra, levaram a TV e o controle embora. Pra praia, bem longe. Até ajudei a carregar a TV, enrolei o controle antigo num papel bolha que achei por aqui. Depois eu chiliquei, claro. E você me acalmou dizendo que eu ia sobreviver, que ia dar tudo bem.
No começo foi complicado. Não ligava mais na VHI pra ver Clips Pra Acordar todo dia de manhã antes de sair da cama, nem adormecia assistindo os Simpsons de madrugada. Às vezes capotava no sofá da sala. Hoje, conforme você ensinou, estou começando a entender que, uma vez acostumada com a TV e com o controle no quarto, você nunca mais desacostuma. Não adianta tentar ir contra.
Eu fui levando (mesmo com toda a Brahma, a chama, lama). A gente vai levando. E agora estou no Submarino procurando uma TV nova pra comprar. Não quero nem de plasma, não preciso. Mas o controle vai ter que estar zero quilômetro e eu vou ter mais cuidado com o pobrezinho. Você sabe das coisas, Manu!
Obs: eu sei que esse controle deve quebrar como o outro, que um raio pode queimar a TV na primeira semana, que pode dar tudo errado outra vez. Mas eu tenho provas de que realmente “dá tudo bem” no final.