O caos aéreo que estragou o passeio (e os negócios) de muita gente no ano passado, na verdade começou há muito tempo, quando resolveram dar a paternidade da aviação ao brasileiro Santos Dumont. Pra não culpar o pobre homem que nem está mais aqui pra se defender, retifico: o caos aéreo começou quando o primeiro vôo saiu destas terras carregando dezenas de descendentes de Peri.
Qualquer cidadão que já tenha passado pela experiência de entrar num vôo (doméstico ou internacional) conseguiu perceber os arroubos de ansiedade e falta de educação nos outros passageiros. Tradução: brasileiro fazendo arruaça. Com pouca vivência desses casos no exterior, continuo afirmando que o problema é mesmo a nacionalidade. Somo aí o novo-riquismo, que se espalha a cada segundo, e a desgraça está feita.
O povo na sala de embarque reclama com a companhia aérea pois não podem aguardar na área vip. "Só para a primeira classe". Entre os pães de queijo superfaturados e crianças sentadas no chão, o que se ouve é um murmurinho sobre a demora. Nada muito complicado de se entender se considerarmos que se trata de um avião, não de um ônibus que passa rápida e sorrateiramente pelo ponto nas ruas.
Por este mesmo motivo, não seria necessário se acotovelar com os passantes e empurrar os funcionários para pegar o primeiro lugar da fila antes mesmo de ouvirem o final do anúncio do vôo vindo da famosa voz anasalada. Mas não. As pessoas agem como se o avião fosse engatar uma primeira marcha e sumir pelos ares com a velocidade de um beija-flor.
Parecem também ignorar o fato de que OS LUGARES SÃO MARCADOS assim que é feito o check-in. Se não estivessem tentando engambelar a funcionária quanto ao excesso de peso das milhares malinhas CVC, teriam prestado atenção nisso, e a uma hora dessas estariam ainda sentados, esperando que o portão de embarque fosse realmente aberto para, então, embarcarem.
A fila no melhor estilo último dia de apostas na MegaSena acumulada não teria razão para existir, mas a algazarra está feita. Os funcionários vão tentando pôr ordem no galinheiro. A família que tentou despachar as duzentas malas ainda empurra mais uma no carrinho, ignorando a determinação BAGAGEM DE MÃO.
O bagageiro do avião, obviamente, não é preparado para acomodar uma mala do tamanho de um filhote de rinoceronte, mas o cidadão insiste em contrariar aqueeeeela lei da física e continua esmurrando a sacola pra ver se faz caber. É preciso intervenção da comissária, que manda o homem sentar e enfia a mala embaixo da poltona com dificuldade.
Concordo que é bem entediante ficar ouvindo as recomendações dos procedimentos e acho inclusive, que se precisar chegar no extremo da queda automática de máscaras de oxigênio, vai todo mundo mandar o procedimento às favas. Salve-se quem puder! No entanto, ficar conversando em altíssimos decibéis enquanto a mocinha de cabelo emplastado de gel fala não é exatamente o que podemos chamar de cortesia.
Os bancos precisam, sim, estar a 90 graus e não existe razão pela qual a mesinha deva estar abaixada nos primeiros minutos após o embarque. Lá do fundo dá pra ouvir a fulana papeando no celular e a aeromoça (digo, comissária) tentando abordar o adolescente "rebelde" que insiste um continuar com o fone do ipod nos ouvidos, em volume suficiente para estourar seus tímpanos antes da decolagem.