Logo abaixo discorri sobre as maravilhas da chuva, me opus ao uso de guarda-chuva e falei mal de quem não gosta dos temporais. Uma verdadeira libertina da metrópole. Isso, é claro, até acordar atrasada nesta terça-feira, abrir a janela e não conseguir enxergar o prédio da frente tamanho o pé d’água. Chequei novamente se tinha colocado as lentes de contato. É isso mesmo, está caindo o mundo.
Final de janeiro e no lugar da saia e óculos escuro, pus a bota de cano alto e a jaqueta. Olhei assim, meio de lado – igual na música do RPM – pro guarda-chuva dentro do armário. Não era meu, evidente (Vitor, me explico melhor depois). Resolvi ter a prudência de carregá-lo comigo. A umidade do ar levou embora o efeito dos meus preciosos minutos dando o acabamento com chapinha no meu cabelo. Silvinha, penteia o cabelo, minha filha! Eu não, mãe, vai ficar ruim de qualquer jeito.
Em São Paulo e em boa parte do mundo, imagino, bastou um cuspe no asfalto para o transito parar. Hoje, a menos que São Pedro tenha organizado um campeonato de cusparadas a distância com seus conterrâneos lá do céu, a verdadeira forma líquida de H20, somada aos poluentes da atmosfera, causou o esperado. Depois de meia hora no carro quase parado, o conformismo: ah, hoje é dia em que todo mundo chega atrasado.
Ao sair do carro, abro o guarda-chuva. Xadrez, imponente. Não fossem as botas, seria facilmente infectada por leptospirose das poças da Avenida Paulista. Se fosse bebendo cerveja num iate, igual o pai da Daniela Sarahyba, vá lá, mas morrer por causa de xixi de rato em dia de chuva é muita humilhação.
Aperto o passo e a chuva também aperta. Agora venta e eu tento equilibrar com a mão esquerda o peso daquele verdadeiro guarda-sol de resort da Bahia. Quase dei carona pra três pessoas tamanho o espaço 'interno' do aparato.
Nos poucos quarteirões que andei, concluí que eu fui uma das únicas que acordou e conseguiu ver que a cidade estava se esvaindo em água. Se não isso, como explicar o porquê de as mulheres calçarem sandálias num dia como hoje? Hoje, inclusive, eu perdoaria aquelas que usam as famosas botas de biscatrance, pata de bode, também conhecida como a praga urbana. Mas não. A mulherada ia tentando pular as poças com os dedos de fora. Imagino a sensação de passar o dia inteiro com o pé úmido. Haja frieira!
O assunto no escritório é o dilúvio. As pessoas competem veladamente pelo título da maior demora pra chegar ao trabalho. Eu fico atenta à janela, com receio e que Noé e sua arca passem por aqui e me esqueçam. Enquanto ele não vem, acesso o Climatempo, na esperança de que nos próximos dias a chuva seja apenas de confete e serpentina.
Tuesday, January 29, 2008
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